Copom vai reduzir Selic para 4,5%, mas economistas divergem sobre próximos passos
Por Leandro Manzoni
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai reduzir a taxa básica de juros – Selic – para o menor nível da história recente, de 5% para 4,5% ao ano, na última reunião do ano do colegiado, que começou nesta terça-feira. Esta é a avaliação de economistas consultados pelo Investing.com Brasil. Mais um corte de 0,50 ponto percentual dá prosseguimento à flexibilização da política monetária iniciada em julho, quando houve a redução de 6,5% para 6% da taxa básica de juros.
Em relação aos próximos passos da política monetária, não há unanimidade na análise dos especialistas. "Nove entre dez economistas veem fim do ciclo [com a taxa Selic] entre 4-4,5% [ao ano]", afirma José Pena, economista-chefe da Porto Seguro) Investimentos, que vê espaço de uma redução adicional de 25 pontos-base no encontro seguinte em fevereiro.
"Há novas informações relevantes [que não estavam à disposição na última reunião]", avalia André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, sobre a atividade econômica mais forte, um choque de oferta que pressionou o índice de preços em novembro, a alta do dólar e as dificuldades de avanço das reformas após aprovação das novas regras previdenciárias pelo Congresso.
O movimento recente destas variáveis em relação à reunião de outubro deve influenciar na avaliação do Copom para as reuniões seguintes, com alguma sinalização incluída no comunicado - embora este ponto tampouco seja consenso entre os analistas. Para 2020, os economistas consultados pelo Investing.com divergem da projeção da taxa Selic para o final do que vem, que varia entre 4,25% e 5% ao ano.
Em relação ao Boletim Focus na segunda-feira (9), os analistas de mercado consultados pelo Banco Central apostam que o corte de dezembro seja o último do atual ciclo de flexibilização monetária, mantendo-se no patamar de 4,5% ao ano ao longo de 2020. Entre as cinco instituições que mais acertam as decisões do Copom, a aposta é de mais um corte em fevereiro de 0,25 ponto percentual, encerrando o ano que vem a 4,25%. Na semana passada, o chamado Top-5 projetava uma Selic fechando 2020 a 4%.
O que justifica o novo corte
A confirmação da sinalização de corte de 50 pontos-base prometida no comunicado da reunião de outubro só não aconteceria se o cenário descrito até a reunião de dezembro não ocorresse. "Foi exatamente o que aconteceu", avalia José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. "Há um balanço de riscos favorável e os riscos desfavoráveis devem ter menos pesos", afirma Luca Klein, analista da 4E Consultoria.
PIB
Apesar de o crescimento da economia brasileira ter sido de 0,6% no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores – acima da expectativa do mercado - a capacidade ociosa da economia ainda está elevada, tanto de capital como de trabalho. A taxa de desemprego ficou em 11,6% no trimestre encerrado em outubro, com um total de 12,3 milhões de desempregados.
Inflação
A aceleração inflacionária tampouco será problema para a autoridade monetária sancionar o corte prometido. "A expectativa é de que o choque sobre alimentos pressione a inflação apenas no curto prazo", afirma Klein da 4E, apontando que a alta do IPCA de 0,51% em novembro em relação ao mês anterior não deve alterar o comportamento inflacionário que influencie as expectativas futuras de inflação e, consequentemente, a condução da política monetária. No acumulado em 12 meses, a inflação ficou em 3,3%, abaixo do centro da meta de 4,25% e dentro da margem baixa de tolerância de 1,5 ponto percentual.
"No regime de metas de inflação não se olha a inflação de curto prazo, mas a esperada no horizonte relevante, entre o fim de 2020 e meados de 2021. Este é o horizonte da política monetária", diz Lima Gonçalves do Banco Fator, afirmando que a alta dos preços em novembro já era esperada, como a elevação dos preços administrados com os preços de energia elétrica. "É razoável que no fim de 2020 o choque já tenha feito aniversário e, se não tiver outro choque de câmbio, o IPCA anual vai voltar para 3,5%", prossegue o economista do Fator, mencionando que o efeito da forte aceleração do preço de proteína animal é limitado na inflação, embora cause queda na renda real e, por conseguinte, redução no consumo.
"Aumento dos juros aqui não reduz demanda de carne na China", diz Pena da Porto Seguro (SA:PSSA3) Investimentos. Além de também mencionar o comportamento esperado dos preços de energia elétrica e o efeito limitado da alta da carne, Pena cita que o núcleo de inflação segue comportado.
Taxa de câmbio
Já valorização do dólar ante o real tampouco vai influenciar na decisão de política monetária. "Presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] disse há 3 semanas que, mesmo com dólar acima de R$ 4,20, uma coisa é taxa de câmbio e outra coisa é taxa Selic", menciona Lima Gonçalves, que aponta a retomada, pela atual gestão do Copom, da postura de Ilan Goldfajn (antecessor de Campos Neto no comando do Banco Central) durante o choque de preços vistos após a greve dos caminhoneiros e a alta do dólar durante as eleições presidenciais no ano passado.
"Nem por isso aumentou a Selic, como estava na curva de juros no período", prossegue ao apontar que a curva da taxa futura de juros se aproximou recentemente de um nível em que Copom reverteria a sinalização e não promoveria o corte prometido. A moeda americana era cotada a R$ 3,9909 em 31/10, dia da reunião em outubro, e fechou a R$ 4,1482 nesta terça-feira, alta de 3,74%, com mínima de R$ 3,9638 e máxima, histórica, de R$ 4,2773.
Além disso, o repasse cambial aos preços internos deve ser limitado. "Não deve impactar diretamente devido à elevada capacidade ociosa, mas pode acelerar alguns itens da cesta do IPCA cujos preços são vinculados ao dólar", analisa Klein da 4E. "Vai proporcionar queda na renda das pessoas, aumentando pressão desinflacionaria e segurando consumo", diz Lima Gonçalves do Banco Fator, abordando impacto em alguns grupos alimentícios, como os produzidos com trigo importado.
Comunicado e próximos passos
A grande incógnita da reunião deste mês é a sinalização dos próximos passos, na avaliação de Pena da Porto Seguro (SA:PSSA3) Investimentos. "Ou vai acabar com a flexibilização monetária ou vai deixar em aberto, sem comprometer com novo corte nem sinalizar que não há espaço mais flexiblização", projeta o economista, que aposta no segundo cenário. Assim, a autoridade monetária ganha tempo para avaliar o comportamento da atividade econômica, inflação, taxa de câmbio e cenário internacional.
Em seu cenário-base, Pena projeta mais um corte adicional de 0,25 ponto percentual na reunião de fevereiro e manutenção de 4,25% ao longo de 2020. "Só haverá alta da Selic em 2020 se houver um super otimismo com PIB que proporcione a redução veloz do hiato do produto e comece a surgir sinais de inflação antecipadamente", diz Pena, que também prevê início de alta da Selic caso haja problemas de governabilidade, retrocesso fiscal que proporcione alta rápida da percepção de risco, mesmo se a atividade não engrenar.
Diferentemente de Pena, Perfeito da Necton projeta o fim da flexibilização monetária agora em dezembro e início da restrição monetária para o ano que vem. "Não vejo motivo para juro continuar baixo", diz o economista, que acredita que o Copom verá a atividade econômica se recuperando, sendo o dobro de 2019, mas abaixo do potencial. A tendência de dólar valorizado – projeção de R$ 4,30 do economista para o ano que vem -, pausa no avanço da agenda de reformas no Congresso e avanço da atividade econômica propiciam um ambiente de elevação da taxa básica. "Caso não venha crescimento, pode gerar insegurança governamental, o que pode ocasionar elevação de juros", prossegue a respeito de um cenário pessimsita. Perfeito projeta a Selic em 5% no fim de 2020.
Klein da 4E também projeta início da alta da Selic para o ano que vem, após o Copom promover um corte adicional de 25 pontos-base na reunião de fevereiro. "A recuperação da atividade tem sido conduzida pela melhora da confiança dos agentes", aponta o economista sobre o aumento do nível de confiança dos agentes econômicos a partir de agosto, com a tramitação da reforma da Previdência.
Isso impactou na melhora da atividade no terceiro trimestre, especialmente aos setores mais sensíveis ao investimento, como construção e Formação Bruta de Capital Fixo. "O ciclo de baixa iniciou em julho e há defasagem do efeito da política monetária sobre atividade", prossegue Klein, apontando o início da alta da Selic em outubro do ano que vem, com uma alta de 50 pontos-base.
Já Lima Gonçalves não observa corte adicional em fevereiro, tampouco início do ciclo de alta no ano que vem. "É previsível que não enxerguem uma alta tão cedo", diz o economista, especialmente se efetivar a manutenção da Selic em 4,5% em fevereiro. "Cautela vai estar no comunicado agora, vai afirmar que vai avaliar indicadores correntes para tomada de decisão", prossegue, apostando que o Copom vai manter uma abertura sobre o que fazer na reunião seguinte.
Projeção de outras instituições
Outras instituições também projetam continuação da flexibilização monetária nesta reunião de dezembro, com o corte de 50 pontos-base. Como os economistas consultados por Investing.com Brasil, a divergência está nos próximos passos.
Os economistas do Goldman Sachs apostam que a queda de 0,50 ponto percentual seguirá o guidance da última reunião do Copom, citando as condições benignas de inflação e o balanço de risco favorável, com as expectativas ancoradas, apesar da recente valorização do dólar ante real. No entanto, os analistas do Goldman apostam na retirada do seguinte trecho do comunicado: "a consolidação do cenário benigno para inflação futura deve permitir um ajuste adicional de mesma magnitude". Com isso, o Copom deve assinalar que a flexibilização monetária está próxima do fim e sua continuidade vai depender dos dados econômicos, permitindo assim a possibilidade de um corte adicional durante o primeiro trimestre de 2020.
Já o JP Morgan vê um corte adicional de 25 pontos-base em fevereiro, mas início de alta da Selic a partir da reunião de setembro, subindo a taxa básica em 0,25 ponto percentual. O banco projeta Selic a 5% no fim de 2020.
Por fim, o banco ING aposta em corte de 50 pontos-base nesta reunião e o início de um prolongado período de acomodação da taxa básica de juros a 4,5% ao ano. A acomodação deve contribuir para acelerar a alta da concessão de crédito já em andamento e aprofundar a recuperação.
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