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Ex-camelô que virou palestrante dá 10 lições de empreendedorismo

O empresário e palestrante David Portes em sua banca no centro do Rio - Divulgação
O empresário e palestrante David Portes em sua banca no centro do Rio Imagem: Divulgação

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

14/05/2012 06h00

Palestrante reconhecido e premiado pelo mundo, o ex-camelô David Portes, 55, é um exemplo de que bons negócios estão à disposição de quem sabe enxergá-los. Ele, que já foi chamado de “encantador de clientes” e “guru do marketing”, contou ao UOL dez dicas para o sucesso de novos empreendedores.

Para Portes, primeiro: boas ideias só ajudam, se tiradas do papel. Preparo e qualificação abrem caminhos. Há oportunidades mesmo em momentos difíceis. Sucesso surge com inovação e divulgação. Olho na concorrência e na clientela colocam o negócio à dianteira. Uma boa dose de iniciativa ajuda a mudar a realidade. E sorrir é fundamental.

No momento mais difícil de sua vida, Portes descobriu que podia ser empreendedor. Em 1986, sem emprego, sem casa e com apenas o equivalente a R$ 12 no bolso, seguiu seu instinto e arriscou: deixou de comprar remédios para a esposa grávida para adquirir alguns doces para revenda.

Em menos de uma hora nas calçadas do Centro do Rio de Janeiro, ele já tinha arrecadado o dobro do que havia investido. Resolveu se estabelecer no local como camelô. Em um ano, a Banca do David já contava com mais de 300 itens para venda.

Camelô cria loja de departamentos dentro de banca

O sucesso relâmpago de Portes atraiu também a concorrência para a região. Ele diz que começou a perder clientela e percebeu que tinha de fazer algo para se diferenciar. “Precisava sair da caixinha e surpreender meus clientes”, diz.

Inspirado em shoppings e grandes redes de varejo, o vendedor decidiu inovar e fazer da sua banca uma "loja de departamentos". Com algumas placas, ele organizou os produtos por setores.

Assim, ele criou o "térreo", a "sobreloja", o "setor de refrigerados", o "mezanino engordiet", entre outros. “Temos de mostrar e evidenciar os produtos que oferecemos. Do que adianta piscar para uma garota no escuro? Só quem piscou sabe, ninguém mais está vendo”, declara.

Banca monta "call center" com telefones públicos

Outra inovação de Portes foi utilizar os orelhões próximos a sua banca para fazer um call center. Ele disponibilizava os números dos telefones públicos em panfletos, placas e cartões de visita e fazia as entregas da mesma forma como os deliverys modernos.

“Na época, os celulares era caros e enormes. Olhei para os lados e vi os orelhões. Ali, sem saber, montei meu primeiro call center e sem custos de operação”, afirma.

Porém, a prática foi denunciada à companhia telefônica e os aparelhos foram retirados do local. Para manter o serviço em funcionamento, o camelô teve de comprar celulares e fazer novos materiais de divulgação.

A ideia de fazer um delivery surgiu após uma pesquisa com os clientes, na qual o camelô constatou que os trabalhadores da região sentiam mais fome no período da tarde. A maioria não podia deixar o escritório para se alimentar, então Portes percebeu que levar o alimento até eles era um bom negócio.

“Os empreendedores de hoje devem ser profissionais 3D: diferentes, divertidos e dinâmicos. A grande sacada está na publicidade e na qualidade de seus produtos e serviços”, diz.

De camelô a palestrante

Em 2001, depois de algumas aparições na imprensa, Portes foi convidado para sua primeira palestra. O IMI (Instituto de Marketing Industrial), com sede em São Paulo (SP), realizava um fórum e solicitou a participação do camelô.

“Eu atendi o telefone e disse ‘senhor, ainda não fazemos delivery para São Paulo’ e a pessoa do outro lado da linha respondeu ‘não queremos comprar doce, mas sim conhecimento’. Minhas pernas tremeram”, afirma.

Portes viajou de avião pela primeira vez à capital paulista e falou durante cerca de meia hora para um público que contava com grandes empresários o políticos nacionais. “Não preparei nada com antecedência, apenas contei minha história de improviso.”

Premiação abriu portas no exterior

Em pouco mais de dez anos, Portes já completou mil palestras realizadas. Além do Brasil, ele já visitou países como China, Japão, Estados Unidos, Portugal, Argentina e Uruguai.

O reconhecimento veio de vez em 2006, quando o ex-camelô recebeu o prêmio de melhor palestrante do mundo pela World Confederation of Businesses (Confederação Mundial de Negócios). “Foi uma premiação importante porque abriu as portas para mim no exterior.”

Atualmente, Portes se dedica integralmente às palestras, mas garante que, pelo menos uma vez por semana, vai até sua banca fiscalizar o trabalho e atender os clientes.

“A maioria das pessoas fica apenas na boa ideia e não passa para a ação. A grande diferença está naqueles que conseguem tirá-las do papel e transformá-las em realidade. O que é pior? Se arrepender de algo que fez ou do que não fez?”