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Músicos de Pernambuco fazem sucesso fabricando amplificadores por encomenda

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

12/11/2012 06h00

O músico pernambucano Neilton Carvalho, 40, é integrante da banda de punk rock Devotos e pode se orgulhar em dizer que vive de música no Brasil. No entanto, a renda dele não vem só de shows. Com mais dois amigos músicos, ele fabrica amplificadores personalizados, utilizando uma tecnologia antiga, mas que agrada mais aos ouvidos treinados do que os aparelhos atuais.

Os equipamentos fazem sucesso. Tanto que já venderam para Dado Villa-Lobos, ex-guitarrista da banda Legião Urbana, e Robertinho do Recife, considerado um dos maiores guitarristas do Brasil.

A sua empresa, Altovolts, utiliza válvulas na fabricação dos amplificadores, material que foi substituído por transistors pelos grandes fabricantes do aparelho no início dos anos 80.

“As válvulas são componentes que trabalham com alta tensão e têm um som característico, mais orgânico. O transistor é mais frio na reprodução das notas e isso reflete na qualidade do som. Não é só saudosismo. É como comparar uma música reproduzida em CD e em vinil”, diz Carvalho.

Negócio surgiu a partir de uma frustração

A fabricação dos amplificadores começou por acaso. No início dos anos 90, a banda de Carvalho fechou contrato com uma grande gravadora da época, a BMG, e recebeu dinheiro para se equipar. Os músicos, então, puderam comprar os instrumentos e aparelhos dos sonhos.

“Sempre quis ter uma guitarra Gibson Les Paul e um amplificador Marshall. A guitarra foi além das minhas expectativas, mas o amplificador foi uma decepção. Não chegava nem perto do que eu tinha como referência ouvindo Led Zeppelin, Black Sabbath e Janis Joplin”, ele diz.

No primeiro mês de uso da nova aquisição, ele já havia desmontado e montado novamente o aparelho, para tentar melhorar seu desempenho. Mas viu que só teria o resultado desejado se construísse um do zero e foi o que fez.

“Nos shows da minha banda, o pessoal elogiava o som e perguntava sobre o amplificador. Conhecia mais duas pessoas que tinham a mesma necessidade, que hoje estão comigo na empresa. Os três primeiros produtos fabricados foram para nós mesmos.” Além de Carvalho, a Altovolts é composta por Adriano Leão (do grupo The Trumps) e Gilson Gerrard (do Moribundos).

Fabricação é artesanal

O conhecimento em eletrônica de Carvalho veio da curiosidade e da prática. “Eu brincava com eletrônica, mais do que estudava. Desde criança, montava e mexia nos meus brinquedos”, declara. Sua primeira guitarra ele montou com peças de fogão, televisão e rádio. 

Com a curiosidade das pessoas pelos amplificadores nos eventos de que participavam, eles perceberam que havia demanda para o produto. Passaram, então, a produzir por encomenda e, em 2006, formalizaram o negócio.

Todos os aparelhos são fabricados pelos três – Carvalho cuida do desenho e do projeto eletrônico, Leão é designer e responsável pela parte de efeitos sonoros e Gerrard faz o acabamento.

Cada peça leva de um a três meses para ser fabricada e o preço varia de R$ 700 a R$ 2.900, dependendo das especificações. A fabricação é por encomenda -- são feitas até duas peças por mês -- e eles vendem para todo o Brasil. Em Recife, a Altovolts também faz manutenção de amplificadores e fabrica pedais de efeito para instrumentos.

“Não temos a pretensão de ser uma grande empresa, de competir com os grandes. Claro que sonhamos em exportar nossos produtos, mas priorizamos a qualidade. Somos, acima de tudo, artistas” diz Carvalho.