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Costureira de batinas do Maranhão sonha em vestir o papa

Larissa Coldibeli

Do UOL, em São Paulo

08/04/2013 06h00

Com a ajuda de um primo padre e do que aprendeu quando estudou em colégio de freiras, na infância, a empreendedora Maria de Nazaré Nascimento montou o Ateliê Paramentos Religiosos, em São Luís (MA).

Na confecção, ela produz e comercializa todos os tipos de roupas e acessórios para padres: batinas, estolas (faixa usada sobre os ombros pelos religiosos durante as missas), túnicas, além de roupas para coroinhas, corais e toalhas de altar.

Em 2002, recém-separada, com duas máquinas de costura velhas na bagagem e algumas roupas religiosas já prontas, a empreendedora de Grajaú, cidadezinha no interior do Maranhão, resolveu tentar a sorte na capital, em São Luis. Ela levou seus dois filhos mais velhos –na época com 18 e 16 anos–, e deixou as duas filhas mais novas aos cuidados de sua mãe, em Grajaú.

Para ficar conhecida na cidade, ela promoveu uma exposição das roupas e fez amizade com as beatas e com os padres durante as missas. “Naquela época não havia crédito como hoje. Quando vendia uma peça, eu tinha dinheiro para comprar tecido e fazer outra. Fui crescendo assim, pouco a pouco, graças ao boca a boca”, afirma Nascimento.

Apesar do começo difícil, ela sempre alimentou um sonho. “Quero vestir o Papa. Quem sabe agora, que o novo papa (Francisco) é um homem humilde e simples, eu consiga”, declara.

Peças são padronizadas e loja virtual vende para o exterior

A empresa produz até 3.500 peças por mês e os preços variam de R$ 25 a R$ 800. As mais caras são feitas com tecidos importados. Todas as peças seguem padrões litúrgicos. Cada cor, por exemplo, tem um significado: o branco é usado em tempo festivo, como o Natal; o roxo, na quaresma; o vermelho na Páscoa; o verde nos dias comuns; e assim por diante.

No início, quem ajudava a empreendedora com dicas sobre os detalhes das roupas era um primo padre. Hoje, esse papel é do atual marido, que fez curso de liturgia. Com o sucesso da empresa, a empreendedora mandou buscar as duas filhas que tinham ficado no interior e agora todos trabalham no negócio da família.

Na sua empresa, Nascimento ainda faz um trabalho social. Ela ensina mães em dificuldade financeira a costurar e dá emprego com carteira assinada. O Ateliê Paramentos Religiosos possui 14 costureiras, todas contratadas por indicações de padres e amigos.

Há dois anos a empresária criou uma loja virtual e começou a vender suas peças para todo o Brasil e até para outros países. “Já vendi para Estados Unidos, Alemanha, Portugal, por indicação de brasileiros que vivem nestes países.”

Ela se orgulha de poder oferecer paramentos religiosos a um preço justo para quem não tem condições de pagar.

“Antes, os padres tinham que sair do Maranhão para comprar suas roupas e acessórios. Os seminaristas tinham que pegar roupa emprestada para ordenação. Agora não. Vou à missa e vejo o padre usando as peças da minha loja. É muito bom!”, declara.

Especialização é recomendada, mas exige cuidado

O consultor do Sebrae (Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa), Wlamir Bello, diz que se dedicar a um setor ainda pouco explorado é uma boa oportunidade de negócio, mas requer cuidado e muita análise.

“Quando se especializa, a empresa não perde o foco e tem menos concorrentes, o que torna o negócio muito atrativo. Por outro lado, quando se investe em um nicho muito específico, a companhia pode restringir o seu crescimento, já que seu público é limitado”, comenta.

Segundo o consultor, para avaliar se vale a pena ou não investir na segmentação, o empreendedor precisa saber se terá um número mínimo de clientes para gerar receita mensal ou se o negócio é sazonal. Nesse caso, é preciso mensurar se o período de alta compensará o de baixa.

Ser fornecedor de uma única empresa ou cliente também pode comprometer o negócio, de acordo com Bello. "O cliente pode encontrar um novo fornecedor ou pode optar por treinar outra empresa para fazer o mesmo trabalho", alerta.

Para Bello, a empresa que já se consagrou em um segmento não deve se acomodar. “A companhia precisa ser versátil e começar a planejar o ingresso em outros setores antes que seja surpreendida pela saturação do mercado”, diz Bello.