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Em meio à crise econômica, 1 a cada 3 jovens na Itália aceitaria varrer rua

Patrícia Araújo

Do UOL, em Roma

27/10/2013 06h00

Um em cada três jovens italianos aceitaria trabalhar como varredor de rua. O índice é de 49% entre aqueles que apenas procuram trabalho e de 19% entre os que ainda são estudantes. Na busca por emprego, outros 34% disseram que aceitariam trabalhar como motoboy e 31%, como operadores de call center.

Os dados são de uma pesquisa da Confederação Nacional dos Empreendedores Agrícolas (Coldiretti), divulgada recentemente. Dados oficiais do governo italiano mostram que cerca 40% dos jovens com até 25 anos estão desempregados.

"A maior parte dos jovens que encontra trabalho hoje está em vagas precárias, incompatíveis com o nível de formação", afirma Roberta Bortone, professora de Direito do Trabalho da Universidade Sapienza, em Roma. 

Também de acordo com a pesquisa, mais de 60% dos jovens italianos dizem acreditar que serão mais pobres que seus pais. Esse seria, segundo a instituição, o maior índice de insatisfação entre a juventude do país registrado no pós-guerra. 

"Esta é uma geração intermediária, de passagem, que não tem renda, não tem segurança ou certeza",  diz o sociólogo Nicola Ferrigni, diretor do laboratório italiano de pesquisas sócio-políticas Link Lab. 

51% deixariam o país, e 73% apoiam cotas para jovens em empresas

Ainda de acordo com a sondagem, 51% dos jovens que moram nos centros urbanos dizem estar dispostos a deixar o país em troca de emprego.

A maioria desses jovens (73%) dizem acreditar que a Itália não oferece um bom futuro; apenas 20% possuem uma visão positiva.

Como uma possível solução para a falta de empregos, 73% sugerem que seja criada uma quota obrigatória de de vagas para jovens nas empresas públicas e privadas.

“Vivemos uma fase histórica em que não se tem investido nos jovens e, por isso, eles estão muito pessimistas. A crise que vivem hoje é, sobretudo, de orientação e de referência”, afirma Vittorio Sangiorgio, presidente da Coldiretti Jovem.

Saída é viver com dinheiro da mãe e do pai

Sintoma direto da crise, o estudo mostra que 28% das pessoas com idade entre 35 e 40 anos sobrevive com o dinheiro da mãe e do pai. A mesma situação ocorre com 43% dos que possuem entre 25 e 34 anos, e com 89% daqueles entre 18 e 24 anos. 

Devido a aspectos culturais da Itália, a análise considera como jovem três faixas etárias: de 18 a 24 anos, de 25 a 34 anos, e de 35 a 40 anos.

Por causa da baixa renda, 51% do total de jovens ainda moram com os pais e, destes, somente 13% o fazem por escolha.

“Hoje, as famílias substituem o bem-estar, que não é garantido. A pensão dos pais se tornou um amortizador social, no sentido de permitir que os jovens de 30 anos, 40 anos se mantenham", diz Ferrigni.

"O problema é ainda maior porque esses pais um dia morrerão e esses jovens não terão mais essa garantia. Em resumo, o fenômeno implode."

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Jovens que trabalham também dependem da renda dos pais

Para Roberta Bortone, professora de Direito do Trabalho da Universidade Sapienza, em Roma, o problema da dependência da renda dos pais é ainda mais grave porque não é registrado apenas entre os jovens desempregados, mas também entre grande parte daqueles que trabalham.

Isso porque os salários italianos estão entre os mais baixos da Europa.

"Um trabalhador metal mecânico italiano médio, por exemplo, recebe 1,3 mil euros ao mês. Na Alemanha, o mesmo trabalhador recebe 2,4 mil euros”, afirma Bortone.

Criação de recursos

Na visão de Roberta Bortone, a solução para o problema seria mais complexa, com a aplicação de incentivos em áreas capazes de gerar um “círculo virtuoso”.

“Nós temos um patrimônio turístico, artístico, cultural que abandonamos e que poderia ser um recurso. Ou seja, se eu invisto no patrimônio cultural atraio turistas, a atração turística faz com que seja possível abrir hotéis, restaurantes e comércio, que demandam produtos ao redor. Trata-se, realmente, de uma política pública de investimento, o que não existe.”

Apesar das avaliações negativas, Ferrigni diz ser um pouco menos pessimista em relação ao futuro da juventude italiana. “A falta de emprego hoje na Itália induz o jovem a fazer um percurso diferente do que ele tinha planejado, porque existe a necessidade de ganhar dinheiro. Mas, em vez de falar de ‘geração perdida’, como os jornais já disseram, eu prefiro chamar esta de a geração que ainda pode encontrar o seu rumo.”