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Agência de risco S&P mantém nota do Brasil, mas com 'ameaça' de corte

Brendan McDermid/Reuters
Imagem: Brendan McDermid/Reuters

Do UOL, em São Paulo

28/07/2015 13h21Atualizada em 28/07/2015 16h17

A agência de avaliação de risco Standard & Poor's (S&P) manteve, nesta terça-feira (28), a nota de crédito de longo prazo do Brasil em moeda estrangeira em "BBB-", mas trocou a perspectiva de "estável" para "negativa" ---isso significa que a tendência é de rebaixamento, em vez de manutenção, nos próximos 12 a 18 meses. 

Com isso, o país manteve o chamado "grau de investimento", uma espécie de selo de bom pagador. Isso que dizer que, segundo a S&P, o país ainda é considerado um lugar recomendável para os investidores aplicarem seu dinheiro.

Em teleconferência, a analista da S&P Lisa Schineller disse que "embora estejamos assumindo uma situação fiscal mais fraca, também estamos assumindo que ela melhorará e que o Brasil evitará um rebaixamento do rating [da nota]". Ela citou o exemplo da Índia, que teve a perspectiva para seu rating "BBB-" colocada em "negativa" e foi capaz de evitar um rebaixamento. Segundo ela, o corte da nota ocorrerá somente caso o governo recue em seu comprometimento com políticas fiscais no próximo ano. 

O país ainda mantém o "grau de investimento" de acordo com as três principais agências de classificação de risco do mundo: Fitch, Moody's e Standard & Poor's. A Fitch já indicou que deve rever essa nota. Na semana passada, a agência brasileira Austin Rating tirou o grau de investimento do país.

Situação 'desafiadora'

Segundo a S&P, o país enfrenta circunstâncias políticas e econômicas "desafiadoras", apesar de  "uma correção de política significativa durante o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff". Ainda segundo a agência, aumentou a probabilidade de deslizes na correção da política em curso.

A agência afirmou, ainda, que as investigações de corrupção envolvendo empresas e políticos têm tido cada vez mais peso sobre o cenário econômico e fiscal do Brasil, e que "o retorno a uma trajetória de crescimento mais firme demorará mais do que o esperado".

"Apesar das mudanças generalizadas de política em andamento, que continuamos a acreditar que tem o apoio da presidente, os riscos de execução aumentaram. Na nossa visão, esses riscos derivam tanto do front econômico quanto político", afirmou a S&P em nota.

Metas fiscais 

Mesmo assim, a decisão da S&P representa um revés para os esforços do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de reconquistar a confiança do investidor no país.

Levy tem tentado proteger o grau de investimento do Brasil com cortes de gastos e aumentos de impostos, para equilibrar as contas públicas.

Na semana passada, porém, o governo reduziu suas metas de superavit primário --a economia feita para o pagamento de juros da dívida pública--, diante de uma arrecadação bastante aquém do previsto devido à fraqueza da economia.

Para 2015, a meta foi diminuída de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, o governo terá a prerrogativa de fazer um abatimento da meta, o que na prática poderá significar um deficit fiscal neste ano.

Para 2016 e 2017, a meta de superavit primário caiu para 0,7% e 1,3% do PIB, respectivamente, contra objetivo anterior de 2% nos dois próximos anos.

Ao reduzir as metas fiscais, o governo também traçou uma trajetória pra a dívida pública do país que não convenceu o mercado e especialistas de modo geral. Passou a prever que a relação dívida bruta/PIB --importante indicador monitorado pelas agências de classificação de risco-- fechará este ano a 64,7%, indo a 66,4% em 2016 e 66,3% em 2017. Para 2018, a vê em 65,6%.

No geral, o mercado acredita que a dívida pública vai ultrapassar o patamar de 70% devido às condições econômicas brasileiras antes que comece a estabilizar.

"O futuro da nota do Brasil tem muito a ver com a questão do endividamento do país. O governo trabalha com estabilização a partir de 2017. O que o mercado questiona é como o governo vai chegar a esse ponto, como o Brasil vai mostrar para as agências que vai estabilizar a dívida", disse o analista Bruno Gonçalves, da Alpes Corretora, à agência de notícias Reuters.

Avaliação de agências indica risco de calote aos investidores 

Um governo consegue dinheiro vendendo títulos no mercado. Os investidores compram papéis com a promessa de receberem o dinheiro de volta no futuro com juros. Quando um governo tem avaliação ruim, considera-se que há risco de dar um calote e não pagar esses investidores. 

Se houver desconfiança sobre essa devolução, fica difícil conseguir vender esses títulos, e o país tem de pagar mais juros aos investidores para compensar o risco maior. O país com mais confiança são os EUA.

O chamado grau de investimento indica aos investidores que uma economia tem baixo risco de dar calote, e que as aplicações financeiras feitas por investidores estrangeiros nesse país terão risco próximo a zero.

Cada agência de risco tem uma escala própria de avaliação. A nota "BBB-", pela S&P, indica que o país ainda está no chamado "grau de investimento", que recebeu da S&P em 2008.

Entenda como as agência fazem o cálculo da nota

O rating, ou classificação de risco, refere-se ao mecanismo de classificação da qualidade de crédito de uma empresa ou um país.

Ele busca medir a probabilidade de calote de obrigações financeiras. O rating é um instrumento relevante para o mercado, uma vez que fornece aos potenciais credores uma opinião independente a respeito do risco de crédito do objeto analisado.

Do ponto de vista econômico, é bastante vantajoso, pois uma vez feito, pode ser utilizado para vários objetivos e por diversas instituições. Com a globalização, o rating se apresenta como uma linguagem universal que aborda o grau de risco de qualquer título de dívida.

Agências de risco falharam na crise

As agências de classificação de risco, que dão notas para países, empresas e negócios, determinando sua suposta credibilidade financeira, foram muito criticadas por terem falhado na crise global de 2008/2009.

Elas deram boas notas para operações de vendas de hipotecas imobiliárias nos EUA que afundaram bancos e investidores e geraram a grande crise financeira.

O rating, ou classificação de risco, refere-se ao mecanismo de classificação da qualidade de crédito de uma empresa, um país, um título ou uma operação financeira.

Ele busca mensurar a probabilidade de calote de obrigações financeiras, ou seja, o não-pagamento, incluindo-se atrasos e ou falta efetiva do pagamento. O rating é um instrumento relevante para o mercado, uma vez que fornece aos potenciais credores uma opinião supostamente independente a respeito do risco de crédito do objeto analisado.

(Com Reuters)

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