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Pelo Facebook, professora convoca boicote a postos no DF e atrai 35 mil

Alexandra: "Eu me questionei se estava indignada sozinha" - Reprodução/Facebook
Alexandra: 'Eu me questionei se estava indignada sozinha' Imagem: Reprodução/Facebook

Alessandra Modzeleski

Colaboração para o UOL, em Brasília

22/01/2016 18h57Atualizada em 03/08/2020 21h51

A ideia surgiu da indignação de uma professora de 36 anos: boicotar os postos de gasolina do Distrito Federal por causa dos preços altos. Outras 35 mil pessoas se juntaram a ela. Alexandra Vasconcelos criou um evento no Facebook e convocou os moradores do DF a não abastecerem seus carros nesta sexta-feira (22).

"Hoje é o pontapé inicial. A partir de amanhã vamos fazer uma estratégia de estímulo à concorrência. Vamos boicotar a bandeira BR e Cascol. Eles não terão lucro e serão obrigados a reduzir o preço. Quando eles reduzirem, começaremos a abastecer novamente neles, e os outros serão obrigados a reduzir também", disse ela.

O preço médio da gasolina no Distrito Federal é de R$ 3,968, atrás apenas do Acre, segundo dados de 17 a 23 de janeiro divulgados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). O preço médio do etanol no DF é de R$ 3,362 —atrás apenas que Roraima (R$ 3,632), Rio Grande do Sul (R$ 3,525) e Pará (R$ 3,417).

O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de lubrificantes do Distrito Federal disse que não é contra o boicote e que "toda forma de reivindicação é legítima".

Preço não caiu

Alexandra disse que criou o evento por se sentir lesada após perceber que o preço da gasolina na cidade não diminuiu apesar de a Polícia Federal ter desarticulado um cartel, que combinava preços na distribuição e revenda de combustíveis na capital federal e na região do Entorno.

A operação da polícia aconteceu em novembro. A estimativa, na época, era que o preço da gasolina caísse cerca de 20%.

"Eu percebi que nós, cidadãos do Distrito Federal, estávamos sendo desrespeitados. Eu me questionei se estava indignada sozinha. Criei o evento e vi o tamanho da adesão", conta.

Alexandra diz que abastece o carro duas vezes por mês e gasta, em média, R$ 420. Ela calcula que poderia economizar cerca de R$ 84 por mês se os preços fossem ajustados.

Nesta sexta-feira, a professora disse que utilizou o carro porque não precisaria abastecer, mas que o ideal seria que todos usassem transporte público, carona e outros meios de transporte alternativo. "O importante é mostrarmos que o consumidor final é quem manda."

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Adesivo colado sobre o tanque de combustível do carro como forma de protesto
Imagem: Facebook/Emerson de Lima Silva

Clientes reconhecem dificuldade

Alguns dos participantes do evento no Facebook dizem reconhecer que é difícil que o movimento consiga resultados concretos.

"Infelizmente acho difícil acontecer alguma mudança, mas não custa tentar", escreveu o usuário "Ferreira Colecionador Watches".

"Poxa, hoje no meu trajeto para o trabalho, vi postos de gasolina com o fluxo de clientes normal. O povo não presta nem para aderir ao movimento! ?#‎chateada", escreveu Leticia Rogae.

"Em menos de 1 minuto olhando na janela, vi 10 carros abastecendo no posto em frente a minha cs..acho que o boicote de hj foi pro saco..", disse Priscila Cristian.

Outros, pelo contrário, demonstraram estar mais confiantes do sucesso da iniciativa. " Hoje saí pela manhã e vi postos sem ninguém abastecendo....", escreveu Andreia Moraes.

Tabelar lucro dos empresários

O Ministério Público do Distrito Federal (MP-DFT) anunciou, na semana passada, que pretendia entrar com uma ação pedindo para tabelar a margem de lucro dos empresários do setor de combustíveis.

A Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor da pasta aguarda a conclusão das investigações dos envolvidos no cartel para entrar com a ação, segundo a assessoria de imprensa.

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Faixa é estendida em posto de gasolina no Distrito Federal
Imagem: Facebook/Ricardo Durigan

Cartel do combustível

Em novembro de 2015, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em conjunto com a Polícia Federal e o Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), desarticularam um suposto cartel no mercado de combustíveis do Distrito Federal, na Operação Dubai.

O grupo pode ter causado prejuízo de R$ 1 bilhão ao ano. Foram cumpridos 42 mandatos de busca e apreensão, sete mandados de prisão temporária e 25 mandados de condução coercitiva, em Brasília e no Rio de Janeiro.

O paralelismo de preços, em especial do etanol, acima da média nacional, foram alguns dos indícios de formação de cartel.