Pnad 2015 aponta aumento do desemprego e queda na renda de ricos e pobres
Os prejuízos decorrentes da crise econômica no país atingiram os mais ricos e também os mais pobres em 2015, segundo dados nova edição da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios), divulgada nesta sexta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O levantamento mostra ainda que, em 2015, houve redução de postos de trabalho (sobretudo na indústria) e aumento da taxa de desocupação, entre outros efeitos da recessão no país.
Os pesquisadores constataram que, em relação a 2014, ocorreu uma queda generalizada no rendimento médio mensal, com impacto mais abrangente para a faixa populacional com ganhos de R$ 953 ou mais (grupo que corresponde aos 50% mais ricos da população), considerando todas as fontes de renda.
Isso quer dizer que, ao segmentar pela metade os grupos de rendimento, o IBGE identificou que a metade mais rica teve perda maior (o recuo foi de 5,73%). Com toda a população ganhando ganhando menos, a retração geral de rendimento no país foi estimada em 5,4% --valor médio de R$ 1.746, quase R$ 100 a menos em relação a 2014. O pior resultado foi na região Norte (7,6%).
Morador de Sobradinho, região administrativa que fica a 23 km de Brasília (DF), Angelo Varella, 25, trabalhou durante dois anos como economista na capital federal. O jovem começou a carreira como estagiário, tornou-se trainee e conquistou o cargo de gerência em uma holding, faturando R$ 5.000 por mês.
Quando a crise atingiu o setor de infraestrutura, a empresa quebrou, e o economista passou um ano recebendo salários com até seis meses de atraso. "Fiquei cansado da situação e decidi me juntar com dois amigos para abrir uma associação sem fins lucrativos para financiar a cultura no DF, que também sofreu um baque enorme. Pedi demissão e não me arrependo, apesar de ganhar bem menos. Infelizmente, a crise tomou conta de todo país", explicou.
Na análise fragmentada do IBGE, isto é, considerando todos os decis de rendimento (grupos de 10%), a pior situação se dá entre os indivíduos que estão no último segmento (os 10% mais pobres). Para eles, os ganhos mensais passaram de R$ 219 para R$ 202, um recuo de 7,8% em um ano.
No caso dos 10% mais ricos, a queda também foi significativa, de acordo com o IBGE: 6,6% (de R$ 7.548 para R$ 7.047 por mês).
Apesar do cenário de crise, a Pnad observou que o país manteve uma tendência de queda do Índice de Gini, dado que avalia a desigualdade na concentração da distribuição de renda. De 2014 para 2015, o indicador passou de 0,555 para 0,491 --quanto mais próximo de zero, menor é a desigualdade no país.
Esse movimento de redução, contudo, não é sinônimo de avanço social ou resultante de uma política de inclusão, e sim efeito da própria recessão, explicou o IBGE.
Como os dados são avaliados em uma escala de proporção, a queda no Índice de Gini está associada ao fato de que as perdas mais elevadas ocorreram entre os indivíduos com maiores rendimentos.
Em casa e no trabalho
Em um recorte que considera apenas as pessoas que recebem algum tipo de remuneração (em um ou mais trabalhos), o rendimento médio mensal foi de R$ 1.853, valor 5% inferior ao apurado em 2014 (R$ 1.950). A pior retração ocorreu no grupo dos 10% mais pobres, cuja renda passou de R$ 281 para R$ 261 mensais (queda de 7,1%).
Na análise por sexo, constatou-se que o rendimento médio de todos os trabalhos dos homens foi de R$ 2.058, e o das mulheres, R$ 1.567. Em termos proporcionais, as mulheres receberam, em média, 76,1% do rendimento de trabalho dos homens no ano passado.
Já a média da renda mensal domiciliar, em 2015, foi de R$ 3.186, o que representa 7,5% a menos do que o valor apurado em 2014 (R$ 3.443). Nesse caso, os resultados consideram todos os moradores de uma residência, independentemente se estão empregados ou não. A piora ocorreu em todas as classes sociais. Entre os domicílios que estão no segmento dos 10% mais pobre da população, a variação estava acima da retração nacional (9%).
Desemprego
A Pnad calculou em 38,1% o crescimento do contingente de desocupados, isto é, pessoas que não estavam empregadas na semana de referência da pesquisa, mas que estavam à procura de trabalho. Em relação a 2014, o indicador passou 7,2 milhões para pouco mais de 10 milhões de pessoas, com elevação mais acentuada no Sudeste (1,5 milhão) e Sul (432 mil pessoas).
O IBGE constatou ainda que a taxa de desocupação para o ano passado, estimada em 9,6%, foi a maior na série histórica desde 2004. Em relação a 2014, o crescimento foi de 2,7 pontos percentuais. No recorte por gênero, a taxa das mulheres era de 11,7% (alta de 2,9 pontos percentuais), e os homens, 7,9% (aumento de 2,6 pontos percentuais). Por idade, o levantamento registrou 21,3% de taxa de desocupação das pessoas de 18 a 24 anos --elevação de 6,1 pontos percentuais.
A Pnad também registrou 3,8 milhões a menos de pessoas empregadas em 2015, ou seja, a população que se declarou ocupada passou de 98,6 milhões para 94,8 milhões (queda de 3,9%) na comparação com o ano anterior. De acordo com o IBGE, essa é a primeira redução observada desde 2004.
Para as mulheres, menos da metade da população de 15 anos ou mais estava empregada (48%), enquanto entre os homens o nível da ocupação chegou a 72%.
A relações públicas Mayanna Amorim, 29, que mora em Maceió (AL), mudou de profissão depois que perdeu o emprego no ano passado e não conseguiu mais voltar ao mercado de trabalho na área que atuava há seis anos.
Sem opções, ela trocou um escritório pela própria cozinha de casa e criou a "My Candy", uma empresa especializada em bolos e doces.
"Uni a paixão pela confeitaria, os conhecimentos adquiridos durante a nova graduação e a necessidade de uma nova renda. Foi dessa forma que encontrei a solução, porque está difícil voltar a atuar na área de comunicação com emprego fixo. Ainda hoje, faço freelancer na comunicação e continuo buscando um emprego na área", disse Mayanna.
A maior perda de contingente de trabalho ocorreu na indústria. O setor tinha, em 2015, mais de um milhão de trabalhadores a menos, o que significou uma queda de 8% em relação ao ano anterior. Já na agricultura, a retração foi de 6,1% --perda de 855 mil trabalhadores. Frente a 2004, quando era de 20,4%, a participação da agricultura na oferta de emprego apresentou a maior queda entre os grupamentos de atividade analisados pelo IBGE (6,5 pontos percentuais).
*Colaboraram Aliny Gama, em Maceió, e Jéssica Nascimento, em Brasília.
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