Com 80% do faturamento fora do país, JBS não sofre com crise que criou
A crise política desencadeada pelas delações premiadas de Joesley e Wesley Batista não deve prejudicar os negócios dos dois irmãos, donos do frigorífico JBS.
Mesmo que o Brasil permaneça em recessão ou entre em uma fase de estagnação econômica por causa das incertezas sobre a continuidade do governo de Michel Temer, os negócios dos dois continuarão firmes porque mais de 80% do faturamento do JBS vem das exportações ou é gerado em unidades fora do Brasil.
Decisões de Trump preocupam mais a JBS
A JBS é hoje a maior empresa de proteína animal do mundo, processando carnes bovina, suína, ovina e também de frango, com 220 fábricas espalhadas pelo mundo e empregando mais de 230 mil pessoas no Brasil e no exterior. Somente os Estados Unidos, onde estão são 56 unidades de produção, respondem por mais da metade do faturamento do grupo.
Ou seja, as decisões econômicas de Donald Trump ou as medidas que a Justiça americana poderá tomar em relação aos casos de corrupção envolvendo a JBS preocupam muito mais os irmãos Batista do que o futuro de Michel Temer ou da economia brasileira.
Empresa tem ritmo de crescimento chinês
Em 2016, a JBS registrou um faturamento consolidado de R$ 170,4 bilhões, 4,5% superior ao alcançado em 2015. Já o lucro encolheu 86%, para R$ 707,5 milhões, devido a aumento nos custos dos produtos, perdas com operações financeiras e aumento de despesas com pagamento das dívidas.
Em apenas 10 anos, a receita da JBS cresceu mais de 40 vezes. Em 2006, o grupo faturava pouco mais de R$ 4,3 bilhões. Esse ritmo de crescimento, de fazer inveja até aos chineses, foi possível graças a uma série de grandes aquisições feitas pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, como Swift (2007), Pilgrim’s Pride (2009), Bertin (2009), Seara (2013), Moy Park (2015), entre outros.
De picanha Friboi até sandálias Havaianas
Além do frigorífico JBS, os irmãos Batista também ampliaram seus negócios em outros ramos da economia e hoje controlam, por meio da holding J&F, empresas de derivados de leite (Vigor), calçados e vestuário (Alpargatas, fabricante das sandálias Havaianas), celulose (Eldorado Brasil), produtos de higiene e limpeza (Flora), além de uma companhia de energia (Âmbar) e de um banco (Original).
O atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ocupava o cargo de presidente do conselho da J&F antes de assumir o posto no governo Temer.
JBS teve apoio bilionário do BNDES
Os irmãos Batista eram poucos conhecidos no mercado financeiro até o início dos anos 2000. Ganharam notoriedade a partir de 2007, quando decidiram abrir o capital na Bolsa de Valores. A companhia nascida em 1953 em Anápolis (GO), a partir de um açougue montado por José Batista Sobrinho, pai de de Joesley e Wesley, tornou-se umas das maiores empresas do país em menos de uma década.
“O que chamou muito atenção na época foi o apoio bilionário do BNDES para a empresa, a ponto de o banco se tornar sócio do frigorífico em uma operação de conversão de dívida em ações”, comenta um executivo de um grande banco, que preferiu não se identificar.
“O (ex-presidente) Lula elegeu algumas empresas para serem ‘campeãs nacionais’ em seus setores e se tornarem líderes globais. Foi o caso da Oi, que acabou em recuperação judicial, e também da JBS, que na época ainda se chamava Friboi”, lembra o executivo. “Nunca ficou muito claro quais os critérios que o governo escolheu para beneficiar essas empresas por meio do BNDES.”
Há uma semana, a Polícia Federal lançou a Operação Bullish, justamente para investigar se a JBS foi beneficiada com aportes irregulares da BNDESPar, empresa de participações do BNDES. Os repasses teriam sido feitos com apoio da consultoria Projeto, do ex-ministro Antônio Palocci, preso em Curitiba na Operação Lava-Jato.
Irmãos são investigados em outras operações da PF
Além das Lava-Jato e Bullish, os irmãos Batista figuram como investigados em outras três operações da Polícia Federal. A Sépsis, um desdobramento da Lava-Jato, foi deflagrada em julho do ano passado para investigar um suposto esquema de pagamento de propina para liberação de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal, na Eldorado Brasil Celulose, que faz parte do grupo J&F.
Na época, a Eldorado afirmou por meio de nota que captou recursos do FI-FGTS "para financiar obras de logística, saneamento e infraestrutura de sua primeira linha produtiva em Três Lagoas (MS), inaugurada em 2012". "O financiamento foi realizado por meio de uma emissão de debêntures integralmente subscrita pelo FI-FGTS, com registro na CVM. Todo o procedimento seguiu estritamente as regras do FI-FGTS", disse na nota.
A Operação Greenfield começou em setembro de 2016 para investigar suspeita de fraude nos fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras), Postalis (dos Correios) e Funcef (da Caixa Econômica Federal). As irregularidades envolveriam a Eldorado Brasil Celulose.
"O empresário tem o maior interesse no esclarecimento dos fatos e está, como sempre esteve, à disposição das autoridades. Joesley reforça ainda que usará todas as medidas cabíveis para exercer o seu direito de defesa", disse a nota da J&F.
Em janeiro deste ano, foi a vez da operação Cui Bono? (referência a uma expressão latina que significa "a quem beneficia?"), para investigar suspeitas de que o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima e o ex-deputado Eduardo Cunha teriam participado de esquema de fraude na liberação de recursos da Caixa em troca de vantagens ilícitas. Segundo a PF, teriam sido liberados R$ 500 milhões para a holding J&F.
Na época, a J&F disse que todas as relações entre as empresas que fazem parte do grupo com a Caixa "são feitas sempre de forma profissional e na mesma forma de concorrência e tratamento com instituições privadas".
Na gravação da conversa entre Joesley e Temer, divulgada nesta quinta-feira (18), o empresário comenta com o presidente sobre sua relação com Geddel e fala que está mantendo “boa relação” com Cunha, supostamente referindo-se à propina para garantir o silêncio do ex-deputado.
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