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Visto como 'fiel escudeiro do PT', Bendine foi alvo de outras investigações

Luis Ushirobira/Valor
Imagem: Luis Ushirobira/Valor

Mariana Bomfim

Do UOL, em São Paulo

27/07/2017 10h00

Preso na manhã desta quinta-feira (27) em nova fase da operação Lava Jato, Aldemir Bendine foi o dirigente máximo de duas das mais importantes estatais do país, o Banco do Brasil e a Petrobras. Visto pelo mercado como 'fiel escudeiro do PT', Bendine já esteve envolvido em outras investigações.

Na Lava Jato, segundo a Polícia Federal, Bendine teria pedido R$ 17 milhões e recebido pelo menos R$ 3 milhões em propina para que a Odebrecht não fosse prejudicada em futuras contratações da Petrobras. O Ministério Público Federal diz que ele chegou a pedir dinheiro 'na véspera' de assumir a Petrobras. O advogado do ex-executivo diz que a prisão é "desnecessária" e que Bendine já se colocou à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos.

Em janeiro de 2016, o jornal "Estado de S. Paulo" havia revelado que a PGR viu indícios de que Bendine também teria participado de suposto esquema ilícito de compra de debêntures (títulos da dívida) da OAS quando comandava o Banco do Brasil. A empreiteira é suspeita de pagar propina a políticos, entre eles o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em troca de destravar investimentos de fundos de pensão e bancos em papéis da construtora.

Antes da Lava Jato, o ex-presidente do BB e da Petrobras já havia tido problemas na Justiça.

Durante a sua gestão no Banco do Brasil, Bendine foi acusado de favorecer a socialite Val Marchori em concessão de empréstimo. Segundo a Folha de S. Paulo, a instituição concedeu empréstimo de R$ 2,7 milhões a Marchiori em 2013, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES, contrariando exigências.

Marchiori tinha restrição de crédito por não ter pago empréstimo anterior ao BB e também não tinha capacidade financeira para conseguir o financiamento —que foi usado em parte para a compra de um Porsche. Isso teria sido possível devido a uma operação incomum feita especificamente para que a socialite conseguisse os recursos.

Segundo o jornal, Bendine é amigo de Marchiori e os dois estiveram juntos em compromissos oficiais do banco na Argentina e no Rio de Janeiro. Na época, Bendine chegou a pedir afastamento do cargo, mas negou as acusações e disse que o empréstimo seguiu todas as normas do BB. Marchiori foi acusada de fraude. Em maio de 2016, porém, a Justiça Federal rejeitou a denúncia.

Ainda no Banco do Brasil, o ex-executivo pagou multa de R$ 122 mil à Receita Federal para se livrar de questionamentos sobre a evolução de seu patrimônio pessoal e um apartamento pago com dinheiro vivo em 2010. Ele foi autuado por não comprovar a procedência de aproximadamente R$ 280 mil informados em sua declaração anual de ajuste do Imposto de Renda. Na avaliação da Receita, o valor de seus bens aumentou mais do que seus rendimentos declarados poderiam justificar.

Começou como estagiário no BB

Funcionário de carreira do Banco do Brasil, Bendine ingressou como estagiário em 1978. Formado em administração de empresas, foi efetivado alguns anos depois como concursado. Passou por diversos cargos até assumir a presidência em abril de 2009, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a missão de reduzir os juros e aumentar o volume de crédito para atenuar os efeitos da crise financeira global na economia brasileira.

Na época, o mercado reagiu negativamente à indicação Bendine, e as ações do BB caíram 8,15% num dia em que a Bovespa subiu 0,82%. Investidores viram a troca como uma interferência do governo, que estaria insatisfeito com a demora do BB em reduzir suas taxas.

Sob seu comando, o banco teve bons resultados e voltou à liderança no mercado brasileiro tomada pouco antes pela compra do Unibanco pelo Itaú. No período em que foi presidente, o valor das ações dobrou, enquanto a Bovespa subiu cerca de 20%.

Substituto de Graça Foster

Bendine saiu do banco em fevereiro de 2015 para assumir a Petrobras no lugar de Maria das Graças Foster, que renunciou à presidência da petroleira em um momento de crise na empresa, já durante a investigação da Lava Jato.

Indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff, Bendine era considerado um homem de sua confiança e "fiel escudeiro do PT". Por seu alinhamento às políticas do governo, a escolha desagradou o mercado, e os papéis da Petrobras desabaram quase 7%. Também houve críticas pelo fato de ele não ter experiência no setor de petróleo. Mesmo assim, a escolha foi confirmada pelo conselho da empresa.

Uma das suas principais tarefas à frente da estatal foi a publicação do balanço auditado do terceiro trimestre de 2014, com o lançamento dos prejuízos decorrentes da corrupção. O resultado saiu apenas em abril de 2015, com mais de cinco meses de atraso, e mostrou perdas de R$ 6,2 bilhões com corrupção. 

Bendine deixou a Petrobras em 30 de maio de 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff, sendo substituído por Pedro Parente.

Cerca de um ano depois de deixar a estatal, no mês passado, o juiz Sérgio Moro autorizou a abertura de inquérito para investigar o ex-presidente da Petrobras na operação Lava Jato.