1º frigorífico legal de jacaré do MS vai pegar ovos, criar e vender a carne
O Mato Grosso do Sul inaugura nesta quinta-feira (21) o primeiro frigorífico para abate de jacarés do Estado. Localizado na área do Pantanal, em uma fazenda de 154 hectares às margens da BR-262, a 30 km de Corumbá (MS), o abatedouro tem autorização governamental do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para funcionar e faz parte do projeto Caimasul, um complexo industrial que engloba criação, engorda e abate desses animais.
Além da carne de pouca gordura, tudo se aproveita do jacaré. As partes não comestíveis, cabeças e patas, são empalhadas e vendidas como artesanato. Já a pele serve até como chaveiro.
Construído apenas com recursos privados, foram investidos R$ 30 milhões no complexo. Já no primeiro mês, a produção deve chegar a sete toneladas de carne e 2.300 peles. Na fazenda, estão confinados 79 mil animais, sendo que 30 mil deles já estão prontos para o abate.
De olho no nicho de carnes exóticas aqui no Brasil e no mercado internacional de peles de jacaré, os empresários esperam recuperar o investimento em no máximo dez anos. Inicialmente, as exportações de pele serão feitas para os Estados Unidos.
Em 2019, o projeto terá 250 mil jacarés em cativeiro. Deverá abater 100 mil animais por ano, produzindo 350 toneladas de carne e 100 mil peles. Segundo a empresa, o faturamento anual será então de R$ 50 milhões, com a oferta de 300 postos de trabalho, entre diretos e indiretos.
Coleta de ovos na natureza e em parceria com ribeirinhos
Os ovos de jacarés são coletados com autorização do Ibama e do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).
A coleta é feita em áreas predeterminadas, durante cerca de três meses, entre 2 de janeiro e 15 de março.
"Fazemos parceria com o fazendeiro e solicitamos autorização ambiental para realizar o estudo de levantamento populacional de jacarés na propriedade", conta Weber Cardoso Girardi, gerente operacional do Caimasul.
Os animais são capturados para biometria e marcados com placas identificadoras. No manejo, um aplicativo com GPS é usado em celular que, mesmo offline, tem sinal para extrair as coordenadas geográficas para definir o local que o animal e o ninho foram encontrados.
Em uma população de 10 mil animais, por exemplo, o limite de manejo é de 520 jacarés. Neste universo, os ninhos rendem 15.600 ovos, ou 30 ovos por ninho, em média. O fazendeiro recebe R$ 1,50 por ovo, totalizando R$ 23,4 mil.
Além dos dados cadastrados em GPS, a equipe fotografa o ninho, mede a temperatura e a quantidade dos ovos e se a fêmea está presente no local.
O ribeirinho também recebe R$ 1,50 por ovo coletado. Em um dia, uma equipe de duas pessoas trabalha em 12 ninhos --um total de 360 ovos pode render R$ 540. Atualmente, 17 fazendas estão cadastradas para extração.
Projeto ajuda a combater venda ilegal
Os ovos do jacaré-do-pantanal (Caiman yacare) são incubados no laboratório do complexo e levam 75 dias para nascer. No futuro, a meta é produzir 50% dos ovos em cativeiro.
"O manejo sustentado busca conservar a espécie. Os ribeirinhos aprendem o valor comercial do jacaré. Eles recebem mais com a coleta do que ganhariam para matar o réptil e vender a carne clandestinamente, correndo o risco de serem presos por crime ambiental. Com o tempo, a conscientização sobre a preservação do jacaré só tende a crescer", diz Girardi.
O frigorífico tem baias para jacarés, curtume (local apropriado para lidar com o couro), fábrica de ração --feita com miúdos bovinos e farinhas--, loja de artesanato, administração, setor de transporte e estação de tratamento de efluentes.
Os jacarés são confinados em baias de 52 m² cada uma. Hoje são 120 viveiros. Cada unidade recebe 1.800 animais recém-nascidos, que são separados por mês de acordo com o tamanho.
Após 18 meses, cada baia comporta, em média, 350 animais. É neste ponto que tem início o abate, feito com uma pistola de ar comprimido desenvolvida especialmente para o jacaré. O sistema é semelhante ao que os frigoríficos usam para abater bovinos.
Nada se perde
Assim como o boi, 100% do jacaré é aproveitado comercialmente. Até mesmo os retalhos do couro são aproveitados para confecção de chaveiros. Da pele podem ser feitos ainda artigos pequenos como carteiras, capas de celulares, pulseiras de relógio e porta-batom.
O couro de jacaré é altamente cobiçado pelas indústrias de calçados e acessórios. Tratado e de primeira qualidade, pode atingir até US$ 200 a unidade no mercado externo, pouco mais de R$ 600.
Enquanto da carne do jacaré capturado ilegalmente somente a cauda é aproveitada, podem-se extrair dez cortes diferentes no caso do animal de cativeiro.
O animal é abatido com peso médio de 10 kg. Os preços variam de R$ 45 (o quilo do corte da carne com osso) a R$ 70 (embalagens com filés com meio quilo).
Metade da carne produzida no Pantanal será vendida no Mato Grosso do Sul. O restante irá para São Paulo, Minas Gerais, Rio, Alagoas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O gerente operacional da Caimasul explica que a carne do jacaré pode ser preparada de várias formas, mas deve ser evitada a fritura, "que prejudica o sabor natural".
"É uma carne branca, sem gordura. Se passar do ponto, vai ficar dura. Ela pode ser grelhada, refogada e assada. Vai de pratos relativamente simples, como uma moqueca, a receitas gourmet, como ceviche. O que mais pedem nos restaurantes é espeto, bobó e jacaré ao urucum", afirma Girardi.
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