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Por que mercado e governo preveem economia fraca? Eleição é uma das causas

Cristiane Bonfanti

Do UOL, em Brasília

22/05/2018 10h24

Um cenário de incertezas políticas e de frustração nos principais indicadores da atividade econômica nos primeiros meses do ano influenciaram a revisão da projeção para o crescimento da economia brasileira para este ano. Nesta terça-feira (22), o governo reduziu de 2,97% para 2,50% a projeção do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2018.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e é utilizado para medir o desempenho da economia. Tanto em 2016 como em 2015, o PIB registrou retração de 3,5%. Em 2017, o indicador cresceu 1%, encerrando uma trajetória de recessão no Brasil.

O economista-chefe da Spinelli Corretora André Perfeito aposta em uma alta de 2% do PIB no fechamento de 2018. No início do ano, Perfeito trabalhava com uma projeção de 2,5% de crescimento da economia.

Eleições muito indefinidas afetam a economia

Na avaliação do economista, o cenário indefinido em relação às eleições presidenciais deste ano é um dos fatores que prejudicam o país. Na prática, com a política econômica ainda incerta para os próximos anos, empresas e famílias pensam duas vezes antes de investir, afetando a roda da economia como um todo.

“Não é que o Brasil piorou. O Brasil simplesmente não tem mais notícias boas. Até o fim do ano, o governo vai permanecer travado em função do processo eleitoral”, afirmou.

Como exemplo do fraco desempenho da economia, André Perfeito citou o resultado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) divulgado pelo Banco Central na última quarta-feira (16).

Uma espécie de prévia do PIB, o índice registrou retração de 0,13% na economia entre janeiro e março, na comparação com o quarto trimestre de 2017. “Esses números apontam que o crescimento da economia este ano será muito modesto”, disse.

Governo corta gastos e desestimula o setor privado

Do ponto de vista das contas públicas, o economista-chefe da Spinelli Corretora disse que o governo está contando com as chamadas receitas extraordinárias. Esses recursos são aqueles que não provêm da arrecadação de tributos usual, como de Imposto de Renda, e, portanto, também são incertos.

A avaliação é que, se o governo não encontra espaço para gastar, ele não estimula a iniciativa privada, representando mais uma trava para a economia.

“Pode haver um eventual leilão de petróleo, mas não consigo enxergar tantas outras fontes de receitas”, disse Perfeito.

Brasil não possui boas notícias para incentivar a economia

O economista também afirmou que, no ano passado, o governo contou com safra agrícola recorde, de um lado, e com a liberação das contas inativas do FGTS, de outro, como propulsores da economia.

Neste ano, com a falta de apoio da base aliada no Congresso Nacional e a intervenção federal na área de segurança pública no Rio de Janeiro, o Palácio do Planalto precisou interromper até mesmo uma das principais reformas do governo Temer, a da Previdência. 

“Agora, não temos boas notícias no horizonte e isso já se reflete, por exemplo, no mercado de trabalho”, afirmou.

Cenário incerto no exterior prejudica retomada

Desde o início do ano, a Tendências Consultoria trabalha com uma previsão de crescimento do PIB de 2,8%. O economista Thiago Xavier, no entanto, disse que essa projeção deverá ser reduzida na próxima semana.

De acordo com ele, a Tendências espera apenas a divulgação do resultado oficial do PIB do primeiro trimestre, que será feita no dia 30 pelo IBGE, para anunciar os novos números.

“No fundo, o que vimos foi que a economia apresentou desempenho fraco no primeiro trimestre. Há um processo de reação contínua, mas ele perdeu velocidade”, afirmou Xavier.

Além da indefinição nas eleições, o economista disse que há um cenário incerto no exterior. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a possibilidade de alta de juros ao longo do ano. Se isso acontecer, a tendência é que haja uma saída de dinheiro dos países emergentes, como o Brasil, para os Estados Unidos. Os investidores prefeririam aplicar lá, por causa da segurança.

Dólar pode subir mais; inflação também preocupa

Esse movimento de recursos pode elevar ainda mais a cotação do dólar aqui e também a inflação, atrapalhando o crescimento da economia. Com os preços mais altos, as famílias também reduzem as suas compras.

“Nós entramos na crise sabendo que a retomada não seria rápida”, disse Xavier.

O economista afirmou que, além de as empresas e as famílias estarem endividadas, o Estado não tem espaço para realizar gastos.

“Em outros momentos, vimos o Estado sendo o propulsor da economia. Essa não é mais a realidade. Essa combinação de Estado cortando gastos e empresas e famílias endividadas dificulta o crescimento do país”, afirmou.

Dados da indústria e do emprego impactaram projeções

No início de maio, o Itaú baixou sua projeção de crescimento do PIB de 2018 de 3% para 2%. Para 2019, o banco reduziu de 3,7% para 2,8% a previsão para o desempenho da economia.

Entre os indicadores negativos considerados na nova avaliação, o Itaú citou o recuo na produção industrial no primeiro trimestre e um ritmo lento de recuperação no emprego.