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Em meio à queda de soja na safra, campeões de produtividade esperam crescer

Ruy Baron/Valor/Folhapress
Imagem: Ruy Baron/Valor/Folhapress

Eliane Silva

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto (SP)

12/02/2019 04h00

O Brasil deve colher 16 milhões de toneladas a menos na safra 2018/19, segundo estimativa do presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Bartolomeu Braz Pereira, devido aos problemas climáticos registrados na época do plantio. A quebra de safra não deve afetar, no entanto, os campeões de produtividade dos últimos anos do Desafio Cesb (Comitê Estratégico Soja Brasil). Dois deles até estimam uma colheita maior.

O desafio é uma competição nacional que recebe mais de 5.000 inscritos por ano. Ele mede a produtividade de soja em área controlada de cinco a dez hectares, dentro de um mesmo talhão (unidade mínima de cultivo), com a mesma variedade e sistema de produção. O plantio e a colheita devem ser mecanizados. São exigidas ainda boas práticas agrícolas, ambientais, sociais e trabalhistas.

Recorde de 141,6 sacas por hectare

Alisson Hilgenberg, do Paraná, foi o campeão da safra 2014/15 com o recorde de 141,8 sacas por hectare (ha), volume que só foi superado dois anos depois por Marcos Seitz, também do PR, com 149 sacas. No ano passado, em seus 1.200 ha, ele colheu uma média de 78 sacas por ha (a média brasileira foi de 55 sacas). Agora, estima subir para 90 sacas. 

"Peguei chuva e calor na hora certa. Além disso, planto há dez anos uma variedade genética com ciclo mais longo, que é menos suscetível a perdas causadas pela seca", afirmou.

Paraná tem maior estimativa de perda

O Paraná, segundo maior produtor de soja do país, atrás do Mato Grosso, tem a maior estimativa de perda nesta safra, 30%, seguido por Bahia e Piauí (20%). Hilgenberg disse que vizinhos dele estão colhendo 50% a menos. "Há gente aqui no Paraná com apenas 20 sacas por hectare."

Em São Paulo, a lavoura de João Carlos Cruz, campeão de produtividade de 2015/16 (120,1 sacas), registrou uma média de 72 sacas por ha no ano passado. Agora, o produtor diz que convive com duas realidades. A soja plantada em setembro deve render 65 sacas. Mas os grãos plantados em outubro vão render 80 ou 82 sacas.

"No primeiro plantio, chuva e calor demais atrapalharam", declarou. Cruz tem 600 hectares de soja na região de Buri, sudoeste de São Paulo. No Estado, a perda estimada é de 10%.

Excesso de chuvas atrapalhou

Gabriel Bonato, de Sarandi (RS), campeão do último desafio Cesb, com 127 sacas, afirmou que o excesso de chuvas na hora do plantio causou uma pequena redução na média de sua colheita, de 86 sacas por ha para 80. 

"O clima realmente não ajudou, mas minha lavoura é um caso à parte. Por ter apenas 116 hectares, posso escolher quando plantar. Agora, os grandes produtores da minha região vão ter perdas bem grandes."

O gasto maior com fertilizantes é apontado por todos os entrevistados como um gargalo do negócio nesta safra. Eles estimam um aumento de 15% a 20%. 

Mais seguro para safra

Outro problema é o crédito. Para Braz, da Aprosoja, o governo precisa buscar maneiras de ampliar os recursos para o seguro da safra. "No Brasil, menos de 30% das lavouras têm seguro. O produtor precisa ter a garantia do seguro para negociar crédito com juros menores."

Luiz Nery Ribas, presidente do Cesb, disse esperar uma queda na produtividade dos participantes do desafio deste ano. "As perdas são consideráveis em todas as regiões." O resultado será divulgado em junho, em Londrina (PR).

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