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Qual impacto, para a indústria do Carnaval, do vídeo que Bolsonaro postou?

Vinicius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/03/2019 04h00

O vídeo obsceno postado pelo presidente Jair Bolsonaro, com golden shower (um homem urinando em outro), em que ele criticou exageros do Carnaval, desagradou aliados e também pessoas envolvidas no Carnaval como negócio.

Alguns especialistas ouvidos pelo UOL, dizem que a postagem de Bolsonaro pode prejudicar o crescimento da "indústria do Carnaval" no país no próximo ano. Outros dizem que não há nenhum impacto prático.

Imagem negativa para marco do Brasil

De acordo com profissionais que estudam o fenômeno no país, ao divulgar um fato isolado do evento, a atuação do presidente da República ajuda a perpetuar uma imagem negativa para um dos marcos do turismo no Brasil.

"Falar que o Carnaval é aquilo é desonestidade intelectual", disse Marcelo Pontes, professor de marketing da ESPM São Paulo.

[A divulgação] tem um impacto, mas não é muito grande a ponto de parar com o evento. Agora, se isso [a oposição ao Carnaval] se transfigurar em políticas públicas que dificultem a festa, como a restrição de Lei Rouanet, restrição de facilidade de escolas, bloco e bailes, por exemplo, complicará muito mais.
Marcelo Pontes

Carnaval movimentou R$ 6,7 bilhões

A festa popular atrai multidões por todo o país durante quatro dias. Segundo dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o Carnaval de 2019 movimentou R$ 6,7 bilhões e gerou a contratação de cerca de 23,7 mil trabalhadores temporários por todo o Brasil.

Apenas em São Paulo, a geração de receita foi de R$ 3,2 bilhões, segundo o governo estadual.

"O Carnaval também é uma indústria. Em termos de geração de impostos, do impacto do turismo, da cadeia produtiva, então você tem alguns lugares no mundo inteiro que são indústrias de turismo muito grandes. Isso gera emprego, muita visibilidade para o Brasil também", afirmou Pontes.

Setor de turismo critica post

Ao UOL, duas fontes de representantes do setor de turismo condenaram as declarações do presidente por dificultar a divulgação de um importante chamariz de turistas lá fora.

"Você tem poucos eventos chamativos que os estrangeiros realmente conhecem do Brasil. Carnaval e futebol são dois deles. Aí a autoridade máxima da nação posta isso, algo extremamente negativo, um excesso. Obviamente, a promoção fica mais difícil", disse um empresário do setor que não quis se identificar.

Essa imagem do país lá fora sofre abalos em um momento crucial para a economia brasileira se recuperar. É exatamente essa queda na credibilidade que pode afetar o número de turistas vindo para cá e, assim, a receita do evento.

Não há efeitos práticos, diz professor

Para Luiz Gonzaga Godoi Trigo, professor de Turismo da Universidade de São Paulo (USP), os efeitos práticos da divulgação do presidente sobre o Carnaval não serão sentidos. Segundo ele, apesar de o compartilhamento de cenas de tom sexual em local público não ser algo positivo, isso não terá grande apelo.

"Não é porque existe um padre pedófilo que as pessoas vão deixar de ser católicos. As pessoas sabem ponderar. [Bolsonaro] fez isso dentro da guerra cultural e poderia ter escolhido outras coisas para criticar, mas não o fez", disse. "De qualquer forma, efeitos reais para o público que frequenta o Carnaval serão inócuos", afirmou.

O que compromete a imagem do Brasil é violência urbana, assassinatos, o assassinato da Marielle [vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, assassinada em março do ano passado], a corrupção, as milícias. Agora, essas questões sexuais do Brasil no mundo, o pessoal sabe que aqui algumas coisas acontecem.
Luiz Gonzaga Godoi Trigo

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Band News