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Governo adia reforma administrativa após polêmica de Guedes com 'parasitas'

Paulo Guedes, ministro da Economia - Daniel Resende/Futura Press/Estadão Conteúdo
Paulo Guedes, ministro da Economia Imagem: Daniel Resende/Futura Press/Estadão Conteúdo

Carla Araújo

Colaboração para o UOL, em Brasília

10/02/2020 17h39

Resumo da notícia

  • Pedido de desculpas de Guedes parece não ter surtido efeito
  • Na sexta, em evento no Rio, ele chamou servidores de 'parasitas'
  • Segundo fontes, governo não deve mais enviar reforma administrativa ao Congresso nesta semana
  • Avaliação é de que clima precisa ser apaziguado antes do envio do texto
  • Não há nova data definida, segundo fontes do Ministério da Economia

O pedido de desculpas do ministro da Economia, Paulo Guedes, que na última sexta-feira chamou servidores públicos de "parasitas", parece não ter surtido o efeito esperado e, segundo fontes do Ministério da Economia e do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro não deve mais enviar o texto da reforma administrativa ao Congresso nesta semana, como anteriormente planejado.

A avaliação é de que o clima precisa ser apaziguado antes do envio do texto, já que o governo reconhece que haverá pressão dos servidores e resistências dos próprios parlamentares para tratar do tema. De acordo com membros da equipe de Guedes, "não há uma nova data definida" para o envio do texto.

Na última sexta-feira, enquanto Guedes deu a declaração polêmica em palestra no Rio de Janeiro, em Brasília duas longas reuniões foram dedicadas para o ajuste final do texto e para que o presidente tomasse conhecimento de todos os detalhes da proposta.

Já estava acertado, inclusive, que Guedes e outros ministros, como o responsável pela articulação política, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), levariam o texto pessoalmente ao Congresso. Depois da repercussão da fala de Guedes, a estratégia foi reavaliada.

Um ministro disse, em condição de anonimato, que a fala "não ajudou em nada" e agora é preciso ter cautela nas ações.

"O ministro lamenta profundamente que sua fala tenha sido retirada de contexto pela imprensa, desviando o foco do que é realmente importante no momento: transformar o Estado brasileiro para prestar melhores serviços ao cidadão", justificou o ministério da Economia, em nota, na última sexta-feira.

Outras polêmicas de Guedes

Não foi a primeira vez que o ministro criou desgaste para o governo. Mesmo antes de tomar posse, Guedes falou em "prensa" no Congresso. Na ocasião, em novembro de 2018, o então futuro presidente Jair Bolsonaro culpou a falta de "vivência política" e de "experiência" de Guedes pressionar pela reforma da Previdência. "A bola está com eles. Prensa neles", disse o futuro ministro.

Quando o presidente chamou a primeira-dama da França, Brigitte Macron, de feia, Guedes concordou com o chefe. "Macron falou que tão botando fogo na floresta brasileira e o presidente devolveu: 'que a mulher dele é feia, por isso ele tá falando isso'. Tudo bem, é divertido, não tem problema nenhum. É tudo normal e é tudo verdade. Presidente falou mesmo, e é verdade mesmo, a mulher é feia mesmo", disse, numa palestra em Fortaleza, em novembro do ano passado.

Questionado por jornalistas sobre a declaração, o ministro tentou minimizar a polêmica. "Chamar a primeira-dama de feia? Não sei do que você tá falando". Na sequência, tentou suavizar: "Você viu que a gente tá brincando, falando que o presidente é uma pessoa com bons princípios, e às vezes, na forma de falar, ele extrapola, brinca...".

Outra declaração aconteceu fora do Brasil, em novembro do ano passado. Numa longa entrevista coletiva em Washington (EUA), Guedes se exaltou ao comentar os discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia sido solto, e falou em AI-5.

"É irresponsável chamar alguém pra rua agora pra fazer quebradeira. Pra dizer que tem que tomar o poder. Se você acredita numa democracia, quem acredita numa democracia espera vencer e ser eleito. Não chama ninguém pra quebrar nada na rua. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo pra quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem, então, se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?", disse Guedes, em referência à ditadura militar.