Sistema falho faz você ser caloteiro num lugar e bom pagador em outro
Resumo da notícia
- Dependendo do birô, o mesmo CPF tem diferentes notas de crédito, o chamado score
- Cadastro positivo completa um mês e começa a mexer com a pontuação dos consumidores
- Informações de calotes e contas atrasadas ainda atrapalham nota de crédito das pessoas
O cadastro positivo começou a valer no Brasil há pouco mais de um mês e já está afetando a vida de quem precisa de aprovação para fazer compra parcelada ou tomar empréstimo. Isso porque falhas estruturais no sistema podem fazer uma mesma pessoa ter diferentes notas de crédito —o chamado score— dependendo do birô, a empresa que elabora a pontuação.
Há quatro birôs autorizados pelo Banco Central para prestar esse serviço: Serasa Experian, SPC Brasil, Boa Vista e Quod. Cada um deles tem a própria fórmula para elaborar a nota. Além disso, cada birô tem convênio com certas redes de lojas. Portanto, uma mesma pessoa que já deveu numa empresa é vista como caloteira. Se ela pagou tudo certo em outra, é apontada como boa pagadora. O resultado são diferentes pontuações para o mesmo cliente.
Isso tem provocado descontentamento entre os clientes. No site Reclame Aqui, por exemplo, há consumidores que questionam por que a nota na Serasa está caindo enquanto nos outros birôs o score aumentou.
Nos quatro birôs, a pontuação de crédito vai de 0 a mil. As notas até 300 pontos representam alto risco de inadimplência; de 300 a 700 pontos, médio risco, e acima de 700 pontos o score representa um baixo risco de calote.
Ter notas diferentes em cada birô pode afetar a capacidade de um consumidor concluir um negócio. Por exemplo: se a pessoa tentar parcelar a aquisição de um TV numa loja que contratou justo o birô em que o consumidor tem uma pontuação inferior ao mínimo necessário para aprovação do crédito. Ele terá o cadastro negado, mesmo que possua uma pontuação maior em outro birô.
Cadastro positivo ainda em formação
O presidente da ANBC (Associação Nacional dos Bureaus de Crédito), Elias Sfeir, disse que a entrada dos dados do cadastro positivo, que reúne as informações de bons pagadores, está apenas começando. Por isso, afirma, as informações negativas, aquelas que mostram os atrasos e dívidas não pagas das pessoas, ainda pesam na pontuação dos cidadãos.
Segundo os birôs, o cadastro positivo vai ganhar peso na nota de crédito dos consumidores com o tempo, no correr do ano, porque essas informações estão chegando aos poucos.
Nessa primeira etapa, que começou em novembro do ano passado, apenas as informações que estão nos bancos é que estão sendo transmitidas para os birôs. Ainda este semestre começa a segunda etapa, em que as empresas de telefonia vão começar a enviar as informações de pagamentos de seus consumidores. Depois, será a vez das empresas de serviços públicos, como as companhias de eletricidade, gás e água. Após isso, será a etapa do varejo, em que redes de lojas e supermercados vão informar aos birôs de crédito os hábitos de pagamento de seus clientes.
"É um projeto de médio prazo. Não é em um ano que entrarão todos os dados", disse o presidente da ANBC. Segundo ele, até o fim deste ano, cerca de 120 milhões de pessoas estarão no cadastro positivo, segundo estimativas das empresas do setor.
Para 2021, a projeção é de que o número de pessoas com nota de crédito no país chegue a 150 milhões.
Fórmula de nota de crédito muda
Cada birô de crédito tem seu próprio banco de dados. A empresa que toma um calote pode fazer o registro em apenas um birô e não nos quatro ao mesmo tempo —até porque isso representa custo para a empresa credora. Uma dívida inscrita há mais de cinco anos não pode ser considerada para calcular a nota de crédito.
Só na medida em que forem entrando mais dados do cadastro positivo, as notas de crédito tendem a ficar mais parecidas entre os diferentes sistemas de pontuação. Isso porque as informações do cadastro positivo são as mesmas para todos os birôs.
"De fato, a gente reconhece que há hoje muitas diferenças entre os scores dos birôs", afirma o gerente de cadastro positivo do SPC Brasil, Vilásio Pereira. Segundo ele, além de dados diferentes que cada empresa pode ter de uma mesma pessoa, os birôs têm seus próprios sistemas de pontuação. "O peso 60 que damos aqui para algum dado pode ter outro peso em outro birô", disse o executivo.
Não pode sair apenas de um birô
O consumidor que não estiver satisfeito com sua pontuação em determinado birô não pode pedir para ter o nome retirado apenas de uma empresa. Se ele sair do cadastro positivo, os registros vão sumir dos demais birôs também.
O problema de quem pede para retirar o nome do cadastro positivo — o que pode ser feito pelo site de qualquer birô e precisa ser atendido em até 48 horas — é que os birôs continuarão mantendo apenas o cadastro negativo, ou seja, os registros das dívidas não pagas e atrasadas.
"Os scores hoje ainda são muito ligados aos atrasos de pagamentos. Isso seguirá sendo relevante se outras informações não forem incluídas", afirmou o diretor executivo de dados da Quod, Ricardo Thomaziello.
Consultores financeiros dizem que o consumidor pode procurar o birô para saber qual o item está pesando na pontuação dele.
As empresas não abrem em detalhes como chegam à nota de crédito de cada CPF, mas podem orientar o consumidor descrevendo quais os critérios que são usados e informar se o problema da nota baixa está relacionado a uma dívida não paga, a um comportamento de pagamentos em atraso ou falta de mais dados positivos.
Como melhorar o score?
"O cadastro positivo não vai levar milagrosamente a uma melhora do score de crédito", afirma a diretora de operações de dados da Serasa Experia, Leila Martins. "Se o consumidor percebe que a pontuação não está boa, ele pode se programar para começar a melhorar o seu histórico de pagamentos", disse.
Entre as dicas dos profissionais do setor para conseguir um bom score, estão regularizar ou renegociar dívidas atrasadas; evitar atrasos no pagamento de contas como faturas e boletos; colocar contas no débito automático e evitar utilizar crédito ou o cartão de crédito até o limite de sua capacidade de pagamento.
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