Auxílio: primeiro dia de saque tem fila na Caixa, desinformação e bate-boca
Filas, problemas com o aplicativo, falta de informação e até bate-boca marcaram o primeiro dia do saque do auxílio emergencial de R$ 600, direto da conta digital, nesta segunda-feira (27) em São Paulo. Em agências da Caixa Econômica Federal, parte dos beneficiários não sabia que era preciso baixar o aplicativo Caixa Tem (disponível para Android e iOS)e confirmar o cadastro usando um email, nem que o saque seguirá um calendário, de acordo com o mês de aniversário do beneficiário.
A reportagem presenciou inúmeras reclamações e alguns bate-bocas entre cidadãos e funcionários da Caixa. "Nada funciona! Ninguém respeita a gente só porque é pobre, isso é ridículo", gritou uma mulher que não conseguiu fazer o saque na agência do banco no vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Ela não quis dar entrevista.
"Muitos estão com dúvidas e reclamam do aplicativo ou dizem que o saldo não apareceu, mas esse tipo de instrução nós não temos, né? Orientamos a baixar o aplicativo e a ligar para o [telefone] 111, não temos mais o que fazer", afirmou uma funcionária da Caixa ao UOL, sem se identificar.
Ao UOL, a Caixa afirmou que "vem adotando diversas medidas para melhorar a segurança de todos os clientes, colaboradores e parceiros no contexto da pandemia de Covid-19". Entre as medidas estão alteração do horário de funcionamento das 8h às 14h, limitação de pessoas no interior das agências e recomendação de distanciamento nas filas.
O banco informou ainda que não é preciso ir às agências para fazer cadastramento ou consulta do auxílio emergencial, que tudo deve ser feito pelo site ou pelo aplicativo e que os saques podem ser feitos em caixas eletrônicos do banco, em lotéricas e nos correspondentes Caixa Aqui. Os problemas com o aplicativo não foram comentados.
Filas começaram no início da manhã
Como o saque é feito no caixa eletrônico, não é preciso ir ao banco em horário comercial. Porém, muitas agências têm colocado funcionários para instruir os clientes, com o trabalho começando a partir das 8h.
Para evitar aglomerações, só podia entrar nas agências o número de pessoas equivalente à quantidade de caixas eletrônicos disponíveis. Do lado de fora, os beneficiários eram organizados em filas, que começaram a se formar desde o início da manhã.
"Já tinha gente na porta desde antes das 8h", contou uma funcionária de uma agência na República, na região central. Segundo ela, grande parte das pessoas que procuravam a unidade estava atrás do auxílio emergencial.
Na entrada das agências, havia uma espécie de triagem, para ver se o cliente poderia ou não ser atendido ali. "Muita gente chega com informações erradas ou serviços que, nesse horário, não podem ser resolvidos, então nós já instruímos antes, para que não fique tanta gente e ninguém perca tempo", informou uma funcionária de uma agência na Av. Henrique Schaumann, na zona oeste de São Paulo.
A depender da agência, a espera na fila durava cercava de 30 minutos. "Estou aqui há quase meia hora. Falaram que tem caixa que não está funcionando. Mas faz parte, né?", afirmou a dona de casa Silvana Dias, 41, na agência do Vale do Anhangabaú.
Em outras unidades da Caixa, como a da rua Oscar Freire, em Cerqueira César, o movimento estava tranquilo. "Aqui é agência de bairro, ainda não tivemos fila. As pessoas vêm, mas nenhum tumulto", informou um funcionário.
Pessoas relatam problemas com app ou email
Para fazer o saque do auxílio, é preciso se cadastrar no aplicativo Caixa Tem e pegar o código vinculado ao CPF. Este cadastro é confirmado por e-mail e, só então, o valor é liberado sem cartão nos caixas eletrônicos. Nesta segunda-feira, muitos beneficiados reclamavam de problemas de acesso ao aplicativo ou ao e-mail de confirmação.
"Eles falam que o email foi enviado, mas nunca chegou. Eu tenho direito ao benefício, estou desempregado. Agora como faço? Aqui, ninguém me ajudou. Pediram para ligar no 0800, mas ligar para onde? Sabe como funciona esses telefones?", reclamou Irandir Jorge, 48.
"Eu fiz [o cadastro] pelo celular do meu colega, porque o meu foi roubado na semana passada. Agora me pediram um código que eu não tenho. Eu não recebi esse email, eu não tenho nem como ver", informou o pedreiro Antonio Lima, 32, que teve de deixar a fila na República sem o benefício.
"Eu nem sabia disso de aplicativo. Para mim, era só vir aqui e sacar o dinheiro", afirmou a dona de casa Dirce Rocha, 38.
O autônomo Carlos Altino, 53, foi no dia errado. "Me avisaram que o meu só tá liberado semana que vem", afirmou. Para evitar aglomerações, a liberação foi dividida por mês de nascimento. Os aniversariantes de setembro e outubro, como ele, só terão acesso ao benefício a partir da próxima segunda (4).
"Já estou sem comida em casa"
Na fila da Caixa, muitos reclamavam até da falta de comida em casa e diziam que o dinheiro vem em boa hora. Caso da diarista Angelita Silva, 49. Com a epidemia, ela conta que teve a agenda esvaziada e só uma das clientes manteve o pagamento mensal.
"A maioria disse que estava difícil para todo mundo e cortou o pagamento. Agora, já estou sem comida em casa. Esse dinheiro faz diferença", declarou a diarista, mãe de três filhos. "Só o mais velho ajudava com bicos, mas ele também está sem serviço."
O encanador autônomo Aloísio Fraga, 47, também viu o serviço diminuir. "Fiz pouquíssimas visitas [no último mês]. Agora só chamam em casos muito emergenciais. Todo mundo tem medo, né? De receber um estranho", declarou.
Ele diz que usará o dinheiro para pagar o aluguel. "Minha esposa é registrada, estamos conseguindo segurar. Esse dinheiro vai garantir esse mês. Só não sei até quando", disse Fraga.
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