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Facebook se defende e diz que "não se beneficia com discurso de ódio"

JOEL SAGET / AFP
Imagem: JOEL SAGET / AFP

Renato Pezzotti

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/07/2020 12h27

O dia 1° de julho marca o início do boicote publicitário de vários anunciantes às redes sociais —em, especial, ao Facebook. O movimento surgiu no mês passado, nos Estados Unidos, a partir da criação do movimento Stop Hate For Profit ("pare de dar lucro ao ódio", em tradução livre), lançado por seis grupos norte-americanos de direitos civis.

Até agora, mais de 150 empresas no mundo todo já se juntaram à iniciativa. Unilever, Coca-Cola, Diageo, Adidas, Ford, Honda, Microsoft, Starbucks e Levi's são algumas das principais empresas que participam do movimento.

Pela primeira vez, o Facebook se pronunciou oficialmente, por meio de uma "carta aberta". No texto, assinado por Nick Clegg, pelo vice-presidente global de políticas públicas e comunicação do Facebook, a empresa comenta as críticas que tem recebido e declara que "não lucra com o ódio".

"Quando a sociedade está dividida e as tensões aumentam, essas divisões aparecem nas redes sociais. (...) Talvez nunca consigamos erradicar que o discurso de ódio apareça no Facebook, mas estamos melhorando o tempo todo para impedir esse tipo de conteúdo" —diz um trecho do comunicado. Leia o texto completo, abaixo.

Anunciantes aderiram ao movimento

O movimento Stop Hate For Profit exige que a rede social seja "menos complacente" com mensagens de ódios publicadas na plataforma. O Facebook gera 98% de sua receita por meio de anúncios. A companhia recebeu US$ 17,4 bilhões em publicidade apenas no primeiro trimestre de 2020.

Segundo uma pesquisa da Federação Mundial de Anunciantes, quase um terço dos 58 maiores anunciantes do mundo pretende suspender os investimentos com publicidade em plataformas de redes sociais como Facebook, Twitter e YouTube. Entre as principais marcas, 5% disseram que já suspenderam as verbas destinadas a essas plataformas. Outros 26% afirmaram que provavelmente o farão.

Confira o texto, na íntegra, que o Facebook publicou em seu blog:

"Quando a sociedade está dividida e as tensões aumentam, essas divisões aparecem nas redes sociais. Plataformas como o Facebook funcionam como um espelho da sociedade - com mais de 3 bilhões de pessoas usando pelo menos um dos aplicativos do Facebook todos os meses, tudo de bom, ruim e até desagradável vai encontrar expressão na nossa plataforma. Isso coloca uma grande responsabilidade no Facebook e em outras empresas de redes sociais, para decidir o limite sobre qual conteúdo é aceitável.

O Facebook tem recebido muitas críticas nas últimas semanas após a decisão de permitir que posts controversos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continuassem na plataforma, e receios da parte de muitas pessoas, incluindo empresas que são anunciantes em nossa plataforma, sobre nossa abordagem no combate ao discurso de ódio. Quero ser claro: o Facebook não lucra com o ódio. Bilhões de pessoas usam o Facebook e o Instagram porque elas têm uma boa experiência - elas não querem ver conteúdo odioso, nossos anunciantes tampouco querem ver isso e nem nós. Não há qualquer incentivo para nós a não ser remover esse tipo de conteúdo.

Mais de 100 bilhões de mensagens são enviadas por nossos serviços todos os dias. Somos todos nós conversando, compartilhando nossas vidas, opiniões, esperanças e experiências. Nessas bilhões de interações, uma fração muito pequena é de discurso de ódio. Quando encontramos posts odiosos no Facebook e Instagram, temos tolerância zero e removemos esses conteúdos. Quando o conteúdo fica perto de ser classificado como discurso de ódio - e também não viola outras políticas que têm como foco prevenir danos no mundo offline ou supressão de votos - prevalece a liberdade de expressão porque, no fim do dia, a melhor maneira de combater discurso ofensivo e divisivo é com mais argumentos e conversas. Dar luz ao tema é melhor do que escondê-lo.

Infelizmente, tolerância zero não significa incidência zero. Com tanto conteúdo sendo postado diariamente, erradicar o ódio é como procurar uma agulha em um palheiro. Investimos bilhões de dólares todos os anos em pessoas e tecnologia para manter nossa plataforma segura. Triplicamos para mais de 35 mil pessoas nossas equipes trabalhando em segurança e integridade. Somos pioneiros em uso de tecnologia de inteligência artificial para remover conteúdo com discurso de ódio em escala.

E estamos tendo progresso. Um recente relatório da Comissão Europeia apontou que o Facebook revisou 95,7% das denúncias de conteúdo com discurso de ódio em menos de 24 horas, mais rápido que YouTube e Twitter. No mês passado, divulgamos que encontramos perto de 90% dos conteúdos com discurso de ódio que removemos antes mesmo que alguém tivesse denunciado esses posts - ante 24% dois anos atrás. Agimos contra 9,6 milhões de posts no primeiro trimestre de 2020, contra 5,7 milhões no trimestre anterior. E 99% do conteúdo que removemos sobre o Estado Islâmico e a Al Qaeda acontece antes que qualquer um denuncie isso a nós.

Estamos melhorando, mas não estamos satisfeitos. Por isso, anunciamos recentemente novas políticas e produtos para garantir que todos possam permanecer seguros, informados e, principalmente, usar sua voz onde mais importa - nas eleições. Isso inclui a maior campanha de informações para eleitores da história dos EUA, com o objetivo de registrar quatro milhões de eleitores, e atualizações de políticas destinadas a reprimir a supressão de eleitores e combater o discurso de ódio. Muitas dessas mudanças são resultado direto do feedback da comunidade de direitos civis - continuaremos trabalhando com eles e com outros especialistas à medida que ajustamos nossas políticas para lidar com novos riscos à medida que eles surgem.

Obviamente, é necessário e compreensível se concentrar no discurso de ódio e outros tipos de conteúdo prejudicial nas redes sociais, mas vale lembrar que a grande maioria das bilhões de conversas online é positiva.

Veja o que aconteceu quando a pandemia de coronavírus começou. Bilhões de pessoas usaram o Facebook para permanecer conectadas quando estavam fisicamente separadas. Avós e netos, irmãos e irmãs, amigos e vizinhos. Mais do que isso, as pessoas se reuniram para ajudar umas às outras. Milhares e milhares de grupos locais se formaram - milhões de pessoas se uniram - para se organizar e ajudar os mais vulneráveis alvando empregos e vidas.

É importante ressaltar que o Facebook ajudou as pessoas a obter informações precisas e confiáveis sobre saúde. Direcionamos mais de dois bilhões de pessoas no Facebook e Instagram a informações de autoridades de saúde pública, com mais de 350 milhões de pessoas clicando nos links para saber mais.

E vale lembrar que, quando as coisas mais sombrias estão acontecendo em nossa sociedade, as redes sociais oferecem às pessoas um meio de fazer a luz brilhar. Mostrar ao mundo o que está acontecendo; organizar-se contra o ódio e se unir; e para milhões de pessoas em todo o mundo que demonstram solidariedade. Vimos isso em todo o mundo em inúmeras ocasiões - e estamos vendo isso agora com o movimento Black Lives Matter.

Talvez nunca consigamos erradicar que o discurso de ódio apareça no Facebook, mas estamos melhorando o tempo todo para impedir esse tipo de conteúdo."