Jereissati sobre marco do saneamento: Municípios pobres já são prejudicados
Resumo da notícia
- Relator do projeto diz que críticos do projeto são esquerda ideológica e direita fisiológica
- Senador afirma que governo federal falhou no plano de ajudar micros e pequenas empresas
- Ele diz ainda que este é um dos piores momentos para o Brasil em termos de imagem no exterior
- Jereissati voltou a criticar o governo Bolsonaro, que segundo ele é o "mais desastroso"
O senador Tasso Jeiressati (PSDB-CE) afirmou hoje no UOL Entrevista que o projeto de lei do saneamento básico, aprovado no Senado, vai beneficiar cidades pobres porque são locais que já não têm acesso ao serviço atualmente.
"Municípios mais pobres já não têm saneamento. É uma grande falácia dizer que serão prejudicados porque eles já são prejudicados, o que prova simplesmente que esse modelo [atual] não funcionou", disse o senador na conversa com a colunista Thais Oyama e o repórter Antonio Temóteo.
O novo marco ainda depende da sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para virar lei. Apoiadores do projeto veem nele uma forma de atrair investimentos privados para levar água e esgoto a toda a população, melhorar a qualidade do serviço e estimular a retomada da economia. Por outro lado, críticos afirmam que a privatização deve encarecer a conta de água, e que regiões periféricas não serão atendidas porque dariam pouco ou nenhum lucro às empresas do setor.
Jereissati negou que o marco do saneamento, do qual ele foi relator, seja um projeto de privatização. "Isso não é um projeto de privatização, é um projeto de universalização. Você não contrapõe um ao outro, você junta um ao outro, abre a possibilidade de trazer o capital privado e investimento privado para suprir essa demanda que existe, e que o governo brasileiro, nem Estados, nem municípios, nem União, hoje vão ter recursos para suprir", afirmou.
Os críticos de esquerda e de direita
Ele criticou os congressistas de esquerda e direita que criticam o projeto. Segundo ele, as críticas feitas são para proteger as companhias estaduais de água e esgoto que atualmente são responsáveis pelo serviço.
"Esse não é um projeto de privatização, mas os críticos são de dois tipos: a esquerda ideológica e a direita antiga e fisiológica. As duas se juntaram e fazem a mesma crítica, que tem um fundamento só, que é o corporativismo das companhias estaduais estatais. Não existe outro inimigo nessa luta: só um", disse.
Segundo Jereissati, as empresas operadoras de serviço que pegarem os "filés", ou seja, as grades cidades", também deverão levar no pacote "os ossos" que são as regiões periféricas e cidades do interior do país.
Falta crédito para micro e pequena empresa
Ainda na entrevista, o senador disse que o governo federal falhou no plano de ajudar micros e pequenas empresas na crise do novo coronavírus. "A grande falha do governo é não ter conseguido chegar o crédito a pequenas e médias empresas, os grandes geradores de emprego no Brasil", disse.
Segundo Jereissati, se o governo federal não assumir totalmente o risco de calote nessas linhas, como foi nos EUA, o dinheiro não vai chegar a quem precisa porque os bancos - públicos e privados - não vão assumir riscos.
Jereissati disse que nos Estados Unidos o governo abriu US$ 300 bilhões em linhas que vão diretamente para a mão do pequeno empresário. E quem mantiver 70% dos funcionários pode dar calote no crédito porque o governo banca, é um recurso a fundo perdido.
"Isso não aconteceu no Brasil. Risco, os bancos não vão correr, e as empresas pequenas quando entram no sistema são risco. Tinha que ser dinheiro da União que não tivesse a ver com risco dos bancos privados e públicos. Eles exigem tanta coisa que uma loja pequena de 10, 15 funcionários, como vai apresentar um título que não tem título em cartório nestes últimos 90 dias. Todos atrasaram um pagamento", disse Jereissati.
Pior momento para imagem no exterior
O senador disse que há muito dinheiro no mundo, o que é positivo para o Brasil atrair recursos para o saneamento. "Não existe nenhuma oportunidade como essa. O Brasil vai oferecer essa oportunidade única para esses investidores. Não tem ninguém no mundo que tenha o nível mínimo de desenvolvimento com 100 milhões de pessoas sem esgotamento sanitário" afirmou.
Jereissati ponderou que o problema para o Brasil é a instabilidade política, que afeta a imagem do país no exterior. "Esse é um dos piores momentos que nós estamos vivendo em termos de imagem no exterior", afirmou.
Bolsonaro poupado de impeachment
Tasso disse que é contrário ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas que ele está sendo salvo do processo por causa da pandemia.
"Sou contra falar de impeachment agora, numa situação como essa de maneira alguma queria passar por um impeachment. Ele está sendo poupado pela pandemia, que é tão grave que está sendo o salva-vidas [do presidente]", disse o senador na entrevista à colunista Thaís Oyama e ao repórter de Economia Antonio Temóteo.
Segundo Jereissati, como o Brasil já enfrenta uma crise sanitária e econômica, abrir uma crise política com um processo de impeachment criaria uma sensação de caos. "Junto com a pandemia tem a crise econômica, um desemprego e uma recessão sem precedentes, e a União, estados e municípios quebrados. Se juntarmos a isso uma crise politica, temos o que o [economista e ex-ministro da Fazenda] Delfim Netto chama de tempestade perfeita".
Jereissati voltou a criticar o governo Bolsonaro, que segundo ele é o "mais desastroso" que já viu em sua vida. O senador criticou diretamente o ex-ministro da educação Abraham Weintraub, a quem chamou de "uma caricatura de filme de gozação política", e cobrou de Paulo Guedes, o ministro da Economia, um plano de retomada para o pós-pandemia.
O senador, que se diz um crítico do centrão, elogiou a aproximação de Bolsonaro com o grupo. "Entre o centrão e essa desordem, é melhor o centrão porque o país tem um rumo e uma estabilidade", concluiu.
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