Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Bares e restaurantes tradicionais do Rio não sobrevivem à crise e fecham

Restaurante Hipódromo, no Rio de Janeiro, fechou as portas - Reprodução
Restaurante Hipódromo, no Rio de Janeiro, fechou as portas Imagem: Reprodução

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

22/07/2020 16h09

Após 75 anos, o Hipódromo, restaurante tradicional no bairro da Gávea, na zona sul do Rio de Janeiro, fechou as portas. O anúncio foi postado nas redes sociais do restaurante, que vivia lotado antes da pandemia do novo coronavírus, cercado de clientes que se estendiam pela rua e pela praça Santos Dumont, localizada em frente.

"Esperamos ter ao longo desses anos proporcionado momentos alegres e, por que não, inesquecíveis também", disse o comunicado.

A casa é mais uma em uma extensa lista de estabelecimentos, muitos com décadas de história, que não sobreviveram à pandemia na cidade. Já chegam a 14,5 mil as demissões no setor de bares e restaurantes no ano.

O Hipódromo havia suspendido as atividades em 19 de março, devido à pandemia, e retomou o serviço em 5 de julho, com sistema de delivery. Mas a receita das entregas não foi suficiente para manter o Hipódromo.

Um funcionário lamentou o fechamento. "Não entra na minha cabeça como fecharam isso aqui. Era o coração da Gávea, sempre cheio. Era difícil encontrar uma mesa vazia. Como assim acabou?", disse.

'O Navegador' fecha e leiloa objetos

Outro restaurante que fechou em meio à pandemia foi O Navegador, no Clube Naval, no centro do Rio. O restaurante organizou há cinco dias um leilão para a venda de objetos do espaço, como panelas, batedeiras industriais, e móveis.

"Começa hoje o leilão online dos objetos que contam a história dos mais de 40 anos do nosso restaurante (...). Colabore! Ajude! E decore sua casa com um pedaço d'O Navegador", disse o restaurante nas redes sociais.

Em junho, a chef Teresa Corção gravou um vídeo com uma mensagem para um antigo cliente, o ministro da Economia Paulo Guedes, reclamando da falta de apoio do governo.

"Oi, Guedes! Posso te chamar de Guedes, né? Você ia lá para o meu restaurante antes de ir para Brasília, gostava de comer pão de queijo, de ser tratado com todo carinho. Pois é, venho aqui para te dar uma notícia que não é boa. Você não vai mais encontrar nem o pão de queijo, nem o carinho, nem o restaurante. Porque, infelizmente, nós não conseguimos mais aguentar as despesas todas sem entrar nenhum dinheiro. A gente vive do dinheiro do cliente e a gente ficou esperando com fé e bastante esperança que viesse ajuda do governo para que a gente conseguisse ficar de pé, mas não veio", disse Teresa.

Aconchego Carioca fecha 3 de 5 casas

Aconchego Carioca - Divulgação - Divulgação
Aconchego Carioca da Praça da Bandeira sobrevive
Imagem: Divulgação

A chef Kátia Barbosa precisou encerrar as atividades de três das suas cinco casas. Restaram apenas o tradicional Aconchego Carioca, na Praça da Bandeira, região central da cidade, e a filial no shopping Village Mall, na Barra da Tijuca, na zona oeste.

O Fellini, no Leblon, zona sul, anunciou o fechamento no dia 30 de maio.

O Baródromo, na Lapa, bairro boêmio no Rio, segue fechado por tempo indeterminado.

Setor demitiu 14,5 mil no Rio

A capital fluminense acumula quase 14,5 mil demissões no setor de bares e restaurantes, ficando atrás apenas de São Paulo (-27,9 mil vagas), segundo o SindiRio (Sindicato de Bares e Restaurantes).

Antes da pandemia, a cidade tinha cerca de 10 mil bares e restaurantes. Desde o início do ano, mais de 1.000 já fecharam as portas, e a previsão é que mais 3.000 fechem as portas até o final do ano.

Segundo uma pesquisa do sindicato, feita na primeira quinzena de junho, 76% das empresas tiveram pedido de crédito recusado; 72% tiveram que demitir funcionários e 76% fizeram uso da MP 936, que prevê redução de jornadas e salários e suspensão de contratos.

Mesmo com o retorno das atividades na cidade, obedecendo as regras da Vigilância Sanitária, a maioria dos estabelecimentos permanece vazia.

Entidade pede liberação de crédito

Fernando Blower, presidente do SindiRio, fez coro às reclamações da chef Teresa Corção sobre a falta de apoio do governo.

"Muitas pessoas ainda têm evitado sair de casa, seja por receio ou dificuldade econômica. Então o que mais temos visto são estabelecimentos vazios, com muita dificuldade por conta da falta de apoio governamental em termos de crédito", disse. "O número de demissões foi gigantesco e, infelizmente, o que percebemos é uma tendência de ainda mais desligamentos e fechamento definitivo de muitas casas."