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BC estudou acabar com nota de R$ 100, mas custo com dinheiro iria dobrar

Getty Images/iStockphoto/AndreaGoldschmidt
Imagem: Getty Images/iStockphoto/AndreaGoldschmidt

Ricardo Marchesan

Do UOL, em São Paulo

06/08/2020 04h04

O BC (Banco Central) fez estudos no ano passado sobre a possibilidade de acabar com a nota de R$ 100, mas concluiu que isso seria inviável, entre outros motivos por causa do custo de produção de mais cédulas de valor menor, além da logística para distribuí-las.

A retirada de circulação de notas de maior valor, como a de R$ 100, é uma demanda de entidades que lutam contra a corrupção, que também são contra a criação da cédula de R$ 200. Elas defendem que há uma tendência mundial de acabar com as cédulas mais altas, porque facilitam o transporte e a ocultação de dinheiro vindo do crime.

Custo dobraria, segundo BC

O BC, porém, afirma que acabar com as notas de R$ 100 "não reduziria o montante total dos recursos em poder do público, apenas levaria à migração para notas de menor valor".

Com isso, obrigaria a produzir mais cédulas menores para atender a população, o que praticamente dobraria o custo anual de produção de notas, de R$ 900 milhões para R$ 1,76 bilhão, de acordo com o estudo.

Diz ainda que, mesmo que o custo seja desconsiderado, essa maior emissão "encontraria obstáculos na capacidade de produção da Casa da Moeda do Brasil e em provedores internacionais, já comprometidos com a impressão das cédulas de seus países de origem".

A concentração em um grande número de notas menores também traria "sérios problemas logísticos" para que fossem distribuídas "desde a Casa da Moeda até os milhares de caixas eletrônicos", segundo o BC, "resultando em grave risco de desabastecimento da população".

Não há comparação com nota de 500 euros, diz BC

O Banco Central também rebate o argumento de que a circulação da nota de R$ 100 vai contra a tendência mundial de acabar com as cédulas de maior valor.

"Na comparação internacional, a cédula de R$ 100 representa valor equivalente em dólares americanos inferior à maior cédula da maioria dos países europeus e sul-americanos", afirma o BC.

Ele ainda cita o caso da nota de 500 euros. Em 2016, o Conselho do Banco Central Europeu decidiu que os países do bloco deveriam deixar de produzir essa cédula, a de maior valor em circulação da moeda. Uma das intenções era, justamente, dificultar crimes.

"A experiência da interrupção da produção da cédula de 500 euros (que não foi retirada de circulação) não serve de parâmetro para a cédula de R$ 100, pois se trata de nota de valor comparativo 25 vezes maior, com baixo volume de circulação e raro uso entre a população; portanto, os efeitos esperados para a população e para o funcionamento da economia real não podem ser comparados", diz o Banco Central.

Entidades criticam nota de R$ 200

Na semana passada, o BC anunciou que planeja colocar as notas de R$ 200 em circulação a partir do final deste mês.

Segundo o Banco Central, a criação já estava planejada, mas foi motivada pela pandemia de coronavírus, que fez com que caísse a quantidade de dinheiro em espécie circulando no mercado, por causa do fechamento do comércio em muitos lugares e do hábito de muitas pessoas de guardar dinheiro em casa em momentos de instabilidade.

Dez entidades que combatem a corrupção divulgaram nota nesta semana criticando a medida e dizendo que a nota de R$ 200 irá facilitar o transporte e a ocultação de dinheiro de origem de atividades ilegais, como "corrupção e crimes do colarinho branco, além de tráfico de drogas, tráfico de armas, contrabando, terrorismo, entre outras".

Além de serem contra a nova cédula, elas pedem a "gradual extinção da nota de R$ 100, dado o potencial de impacto positivo da medida para o combate ao crime".

Na nota, afirmam, ainda, que seus representantes se reuniram no ano passado com a diretora de Administração do BC, Carolina de Assis Barros, para "tratar da tendência mundial de restrição ao uso"de cédulas de valor alto e "paulatina restrição da circulação de notas de R$
100".

O BC respondeu às entidades que havia estudos em andamento, na época, para tratar dessa possibilidade. A conclusão, porém, é que isso seria inviável, segundo o Banco Central.

Durante o anúncio da nova nota, Carolina de Assis Barros negou que a cédula possa facilitar a corrupção. "Nós temos um arcabouço de combate e prevenção à lavagem de dinheiro extremamente avançado, e ele não é dependente apenas do valor de denominação das cédulas", afirmou.