Auxílio mudou percepção sobre medidas de proteção social, dizem economistas
A criação do auxílio emergencial durante a pandemia de covid-19 mudou a percepção da população em relação às medidas de proteção social. A análise foi feita na última quarta-feira por economistas que participaram de um seminário organizado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Os especialistas acreditam que seria impossível tornar permanente o atual modelo de benefício, mas a ampliação das políticas de renda básica deve ser discutida. Segundo o economista Naercio Menezes Filho, professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a concentração de recursos de proteção social nas famílias pobres seria um método eficaz e menos custoso para promover a igualdade de oportunidades aos brasileiros.
"Quando se nasce pobre no Brasil, os problemas se acumulam ao longo da vida e tornam muito difícil a concretização de projetos e sonhos. Isso desestimula os jovens a estudar, a fazer faculdade e a buscar um emprego formal, afetando sua produtividade", afirmou o economista.
Menezes Filho defende que o Bolsa Família foi bem-sucedido na redução da pobreza extrema, mas precisaria ser ampliado para que pudesse ter um efeito real sobre a pobreza.
"Hoje, apenas 64% dos pobres do país são atendidos e metade deles ainda permanece pobre após receber o benefício", contou.
Assim, ele acredita que o governo utilize o aplicativo criado para o auxílio e conceda R$ 800 a 3,62 milhões de famílias pobres com filhos no Brasil. A medida, de acordo com apresentações feitas no evento, poderia beneficiar mais de 5 milhões de crianças e custaria R$ 69 bilhões — mais do que o dobro do valor anual do Bolsa Família.
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Rodrigo Orair, defende estratégia parecida.
"No Ipea discutimos um programa híbrido: focado nas famílias mais pobres, mas com um componente de universalidade para as crianças. Esse mix pode ser mais eficaz para reduzir a pobreza do que a renda básica universal", afirmou.
"Manter o auxílio emergencial custaria 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB), isso seria irrealista. Mas o Bolsa Família também ficou pequeno para a realidade atual. Até onde podemos ir? Podemos optar por manter a neutralidade fiscal e, nesse caso, o novo programa não poderia custar mais do que 0,8% do PIB. Podemos aumentar esse custo para 2% ou 3%, mas quais seriam os possíveis cenários de financiamento?", questionou.
O pesquisador disse que aumentar imposto em meio à recessão econômica não é viável, mas há a possibilidade de ampliar a base de arrecadação por meio de uma reforma tributária.
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