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Corintiano, amante de artes e exigente: conheça Joseph Safra, morto aos 82

Antonio Temóteo

Do UOL, em Brasília

10/12/2020 16h07

Ir ao Pacaembu ou ao Itaquerão, rebatizado de Neo Química Arena, para assistir aos jogos do Corinthians é um hábito comum para milhões de torcedores. Esse também era um dos passatempos preferidos do banqueiro Joseph Safra, natural do Líbano, mas naturalizado brasileiro. Safra, o homem mais rico do Brasil, morreu nesta quinta-feira (10), aos 82 anos, de causas naturais.

A diferença é que ele, os filhos e os netos eram sempre escoltados por seguranças. Há quem diga que todos eram ex-agentes do Mossad, o serviço secreto de Israel. As idas ao estádio diminuíram a partir de 2019, quando ele já estava debilitado por causa do Mal de Parkinson. Passava mais tempo em casa, em sua mansão no Morumbi, que teria mais de 100 cômodos e mais de 10 mil metros quadrados.

Seu José, como era chamado pelos mais chegados, sempre fugiu dos holofotes, era avesso em dar entrevistas e tinha duas grandes paixões. Uma delas, a esposa Vicky Sarfaty, com quem se casou em 1969 e teve quatro filhos e 14 netos.

A outra paixão era os negócios. Com R$ 1 trilhão de recursos sob gestão, R$ 80 bilhões de patrimônio líquido e presença em 25 países, o grupo J. Safra é respeitado no mundo todo.

Investimentos para além do setor bancário

Joseph foi eleito o homem mais rico do Brasil em 2020, segundo a revista Forbes, com um patrimônio estimado em R$ 119,08 bilhões.

Todo esse dinheiro vem dos retornos que tinha com o Banco Safra, no Brasil, com Safra Sarasin, na Suíça, e com o Safra National Bank, nos Estados Unidos.

Além de banqueiro, Joseph era dono, ao lado de José Cutrale, da Chiquita Brands, maior produtora de bananas do mundo. Também fez significativos investimentos imobiliários, com a compra do icônico edifício Gherkin (em formato de pepino), em Londres, na Inglaterra, o segundo mais alto da cidade, com 180 metros.

Família chegou ao Brasil em 1953

Para uma família que atua no setor bancário desde o século 19, a diversificação dos investimentos é uma mudança importante. Os Safra são judeus originários de Alepo, centro financeiro da Síria.

O banco da família, o Safra Frères & Cie, tinha filiais em Istambul (Turquia), Alexandria (Egito) e Beirute (Líbano) e financiava o comércio nos territórios do Império Otomano. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e o desmembramento do império, a família se mudou para Beirute e abriu o Banco Jacob Safra.

Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e da criação do Estado de Israel (1948), surgiram revoltas contra judeus em cidades do Oriente Médio, incluindo Beirute e, para se afastar da pressão, os Safra se mudaram novamente.

Em 1953, Jacob Safra e seus filhos chegaram a São Paulo e continuaram trabalhando com o que mais entendem: bancos. O filho mais velho, Edmond, foi para Genebra, na Suíça, no ano seguinte para fazer fortuna sozinho.

Um homem discreto e exigente

Diretor da extinta Área Bancária do BC (Banco Central) na década de 1980, o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes conheceu Joseph nesse período. Segundo ele, Joseph tinha uma devoção ao trabalho, era sempre educado e era muito bem relacionado em Brasília.

"Com ele não tinha conversa fiada. Joseph ia direto ao assunto mais importante, sem qualquer rodeio. Banqueiro tem que ser direto e ele sempre teve esse comportamento. Ele não era economista ou estatístico, era um banqueiro. Fazia tudo sozinho e confiança nas pessoas ao seu redor. E sempre esteve preocupado com sua credibilidade e a do banco. Sua maior preocupação era garantir segurança para os clientes", disse Gomes.

O presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, descreve Joseph como um homem de personalidade emblemática e marcante.

"Ele faz parte de uma geração de primeiríssima linha de banqueiros que forjaram um sistema financeiro voltado para o desenvolvimento da economia brasileira", disse Sidney ao UOL.

Lendas do mercado

No mercado, alguns economistas e executivos de bancos mais experientes costumam contar algumas lendas sobre Joseph. Entre elas, duas são marcantes. Em uma delas, ex-funcionários dizem que ele costumava presentear as esposas de seus executivos com joias, quando os casamentos deles passavam por crises. Era uma forma de compensação e um pedido de desculpas pelas horas extras dos maridos.

Ex-empregados contam que tinham acesso irrestrito ao banqueiro, que não media esforços para manter os executivos estimulados. Entretanto, o nível de cobrança era altíssimo. Alguns deles contam que recebiam ligações de Joseph domingo à noite pressionando-os a fechar operações de câmbio, uma das especialistas do banco Safra.

O banqueiro também era um filantropo. Ele foi um dos principais doadores dos hospitais paulistanos Albert Einstein e o Sírio Libanês, além de apoiar associações beneficentes como a Fundação Dorina Nowill para Cegos, o GRAAC, a Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer, a Associação de Assistência à Criança Deficiente, a Apae e a Casa Hope.