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Sucesso da vacina ameaça país com apagão em 2021, diz especialista

Segundo Adriano Pires, do CBIE, o desejado crescimento econômico demandaria uma quantidade de energia que o Brasil não tem condições de fornecer - Arquivo pessoal
Segundo Adriano Pires, do CBIE, o desejado crescimento econômico demandaria uma quantidade de energia que o Brasil não tem condições de fornecer Imagem: Arquivo pessoal

Filipe Andretta

Do UOL, em São Paulo

27/12/2020 04h00

Uma crise energética em 2021 está "nas mãos de São Pedro e da vacina", diz o analista de energia Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). Segundo o doutor em economia industrial, o desejado crescimento econômico pós-pandemia demandaria uma quantidade de energia que o Brasil não tem condições de fornecer —a não ser que chova acima da média nos primeiros meses do ano, para recuperar a produção das hidrelétricas. O sucesso da vacina e da economia podem levar a um apagão.

Em dezembro deste ano, o nível dos reservatórios das principais usinas chegou a um dos mais baixos da série histórica. Para contornar o problema, o Brasil tem aumentado uso de outras fontes, principalmente termelétricas, e está importando energia da Argentina e do Uruguai. Isso aumenta o custo da eletricidade e foi um dos motivos que levou a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a acionar a bandeira vermelha 2, a mais cara para o consumidor.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por monitorar o fornecimento de energia, nega que haja risco de apagão.

"Canetada" em 2012 foi um erro

Para Adriano Pires, a situação atual reflete um erro de 2012, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) editou a Medida Provisória 579, convertida em lei no ano seguinte. A MP tinha como objetivo reduzir a tarifa de luz em 20% "numa canetada", diz o analista, permitindo que as empresas de energia renovassem seus contratos sem passar por novas licitações.

A ideia de baixar a tarifa parecia boa, mas o custo de produzir e transmitir energia subiu, e as empresas tiveram dificuldade em fechar suas contas.

Pressionado, o sistema elétrico passou a usar mais água dos reservatórios para produzir a energia mais barata possível. Como o nível de chuva não foi o suficiente para manter os reservatórios cheios, o potencial hidrelétrico chegou a um nível crítico.

Planejamento equivocado deixou governo sem opções

Adriano Pires diz que o governo errou ao não utilizar antes termelétricas mais baratas, como as de gás natural. "Essas usinas deveriam ficar ligadas o tempo todo, não só quando os reservatórios já estão quase vazios."

Agora, segundo o analista, o Brasil está apelando para a energia fornecida por termelétricas mais caras (movidas a petróleo e carvão, principalmente), num momento em que a tarifa já está na bandeira vermelha 2.

Não existe energia mais cara do que aquela que você não tem, que é o apagão. Não se consegue aumentar a geração de energia da noite para o dia. Construir uma termelétrica nova leva dois anos no mínimo.
Adriano Pires

Retomada da economia "acendeu sinal amarelo"

A pandemia fez os níveis de consumo de energia despencarem junto com a atividade econômica em 2020. Mas, após uma queda histórica no segundo trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 7,7% no terceiro trimestre.

A retomada do crescimento econômico mais cedo do que o esperado, somado à falta de chuva, acendeu o sinal amarelo no setor energético.
Adriano Pires

Sucesso da vacina pode levar a crise energética

Segundo o analista, se o Brasil tiver sucesso na imunização da população, a economia terá em 2021 uma retomada forte que demandará muita energia.

Normalmente, a relação de crescimento entre PIB e consumo de energia é de 1 para 2. Ou seja, quando cresce 1% o PIB, cresce 2% o consumo.
Adriano Pires

No entanto, esse crescimento só será possível se o Brasil puder fornecer energia suficiente aos setores produtivos e aos consumidores. Para isso, segundo o analista do CBIE, é necessário que chova mais do que o previsto no primeiro trimestre de 2021.

No pior dos cenários do ponto de vista energético, segundo Pires, o governo terá que pedir a indústrias que reduzam suas atividades, com o objetivo de evitar um apagão. Essa medida seria um freio para o crescimento econômico e geraria demissões em massa no setor produtivo.

Operador nega risco de apagão

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) afirma que não existe risco de desabastecimento.

"O maior uso de termelétricas está sendo realizado para fazer frente ao cenário de escassez hídrica, que vem se repetindo nos últimos anos", declarou o ONS. "Estamos entrando agora no período úmido, quando chove na maior parte do país, e a previsão é que os reservatórios das hidrelétricas voltem a encher."