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Bolsonaro sugere mudar ICMS ou fixar valor para baixar preço do combustível

Hanrrikson de Andrade e Stella Borges

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

05/02/2021 11h04Atualizada em 05/02/2021 15h57

Diante da ameaça de greve dos caminhoneiros, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu que vai enviar ao Congresso, na semana que vem, um projeto de lei sugerindo uma "previsibilidade" para o ICMS relacionado a combustíveis.

O objetivo seria estimular a cobrança diretamente na saída do produto das refinarias, e não nos postos —o que pode impactar o preço ao consumidor final. De acordo com o governo, as medidas estão sendo formuladas com o intuito de "evitar a volatilidade" nos valores praticados pelos postos.

Como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é um tributo estadual, o poder de decisão quanto a mudanças efetivas cabe às Assembleias Legislativas. A intenção do governo, portanto, é criar um mecanismo pelo qual governadores possam aderir a uma política única, que daria fim a oscilações nos preços, de acordo com as projeções.

"Nós pretendemos é ultimar um estudo e, caso seja viável, seja juridicamente possível, nós apresentaremos ainda na próxima semana, fazendo com que o ICMS venha a incidir sobre o preço do combustível nas refinarias ou um valor fixo para o álcool, a gasolina e o diesel. E quem vai definir esse percentual ou esse valor fixo serão as respectivas assembleias legislativas."

Há, por outro lado, resistência anunciada de alguns estados em relação a mudanças na política de ICMS. O imposto é um dos principais fatores de arrecadação dos entes federados.

Atualmente, o ICMS é calculado com base no preço médio cobrado ao consumidor final. Cada estado possui uma legislação específica em relação às alíquotas.

Uma das alternativas que estão sendo analisadas pela área jurídica do Executivo seria propor um "valor fixo" de ICMS, a exemplo do que ocorre com o PIS/Confis do diesel (R$ 0,35 por litro).

O chefe da pasta da Economia, Paulo Guedes, revelou ainda que o governo pretende desonerar o PIS/Cofins como medida alternativa para impulsionar a queda dos preços. Na versão do ministro, contudo, os cálculos são complexos devido ao impacto financeiro. "Não dá para fazer isso de uma vez", comentou.

O projeto de lei a ser encaminhado ao Parlamento é uma resposta de Bolsonaro à ameaça de paralisação dos caminhoneiros em razão dos aumentos do diesel. O presidente voltou a agradecer aos profissionais da categoria pela "não adesão" à greve que havia sido anunciada para a última segunda-feira.

Na manhã de hoje, Bolsonaro se reuniu com ministros e com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, para discutir o assunto. Ele buscou enfatizar que o governo não vai atuar diretamente para baixar preços de combustíveis por meio de interferências na Petrobras. O discurso tem se repetido nos últimos dias para rechaçar o temor do mercado de que o Executivo possa tomar alguma medida nesse sentido.

Como funciona o ICMS

O ICMS é um imposto cobrado sobre venda de produtos e mercadorias. As tarifas variam de acordo com o que é transacionado.

Hoje, segundo explicou o governo, o ICMS é repassado ao consumidor com base em um cálculo referente à venda do combustível na bomba.

Bolsonaro sugere, portanto, que a incidência do imposto passe a ocorrer no momento em que o combustível sair das refinarias. Dessa forma, em tese, seria possível prever o preço a ser praticado pelos postos.

Petrobras

A fim de tranquilizar o mercado, Bolsonaro repetiu que o governo federal não vai interferir na Petrobras a fim de baixar os preços.

"Jamais controlaremos preço da Petrobras. A Petrobras está inserida no contexto mundial com suas políticas próprias, e nós a respeitamos (...) Somos um governo que não interferiremos em nada nessa política econômica de combustíveis da nossa Petrobras", afirmou.

O presidente também agradeceu mais uma vez aos caminhoneiros por não entrarem em greve — fato que acarretaria em prejuízos à logística de abastecimento no país. "Nosso respeito para eles é enorme, agradeço do fundo do coração a sua sensibilidade".

Também hoje, o presidente da Petrobras afirmou que o governo de Jair Bolsonaro nunca interferiu em preços ou atos internos da estatal. "Preços de combustíveis são determinados por questões globais", disse Castello Branco.

"Fazer diferente disso, como no passado, foi desastroso. Isso contribui para piorar a percepção de risco do Brasil, que tem reflexo na taxa de juros e na taxa de câmbio", acrescentou.

Gasolina e diesel tiveram alta

Na semana passada, a Petrobras anunciou um novo aumento da gasolina (5%) e do diesel (4%) nas refinarias, com um preço médio de R$ 2,08 e R$ 2,12 por litro, respectivamente. Foi o segundo aumento da gasolina em 2021.

O preço dos combustíveis é formado por uma série de componentes. As refinarias impõem um valor para as distribuidoras que, por sua vez, vendem para os postos.

Em todas as etapas, incidem o preço de custo e o lucro. Também há incidência de tributos federais e estaduais. O consumidor final está na última ponta dessa cadeia.

(Com Estadão Conteúdo)