Auxílio faz Caixa ter mais força em sociedade com BB e Bradesco na Elo
Resumo da notícia
- BB, Bradesco e Caixa são os três donos da bandeira Elo; fatia de cada um no negócio muda a cada quatro anos
- Conforme regras, sócio que gera mais negócios ganha mais participação na empresa
- Emissões de cartões para quem recebeu auxílio emergencial podem inflar fatia da Caixa na Elo
- Mas BB e Bradesco questionam se auxílio deveria valer para a conta
Três dos maiores bancos do país estão travando uma batalha nos bastidores que vale fatias de participação nos cartões de crédito e de débito Elo, única bandeira nacional capaz de rivalizar no país com as líderes do setor, Visa e Mastercard. Tudo por causa do auxílio emergencial.
Caixa, Bradesco e Banco do Brasil são os três sócios da Elo Serviços Financeiros S.A. Essa é a empresa dona da bandeira Elo de cartões de crédito e de débito. Esse negócio foi criado por esses três bancos em março de 2002. Entre os objetivos da iniciativa, estavam levar o cartão a mais brasileiros e criar uma concorrência 100% nacional em um mercado até então dominado por apenas duas gigantes estrangeiras.
Quando foi criada, a bandeira Elo se dividiu em três partes iguais: Caixa ficou com 33,335%, e uma fatia de 66,665% ficou com a Elopar - uma empresa formada pelo Bradesco (com 50,01%) e Banco do Brasil (49,99%). Mas também na criação, foi definida uma regra: a cada quatro anos, essas participações de cada sócio seriam revistas.
Quem trabalhasse mais pela bandeira Elo ganharia como prêmio mais fatias da empresa. O que vale muito.
No exercício de 2019 (dado mais recente), a sociedade registrou lucro líquido de R$ 419,3 milhões, ganho 172% maior que o de 2018. O patrimônio líquido em 2019 era de R$ 591,7 milhões e os ativos totais de R$ 1,2 bilhão. Quanto maior a fatia do sócio no negócio, maior a parte que lhe cabe nesse resultado.
Caixa já vem ganhando fatias da Elo
Os sócios não revelam exatamente quais critérios são usados para decidir quem está ajudando mais a bandeira Elo. Mas o UOL apurou que dois dos principais fatores são quantidade de novos cartões emitidos e volume de dinheiro movimentado por base de clientes que usa essa marca.
Ao longo dos anos, a Caixa vem se destacando nessa operação. O banco, que é 100% controlado pelo governo federal, elevou sua fatia, em março de 2018, a 36,9% da Elo. Ou seja, em sete anos, ganhou 3,5 pontos percentuais na empresa.
Naquele mesmo ano, em dezembro, o Bradesco decidiu colocar mais dinheiro no negócio e reequilibrou as forças. Comprou 6,142% da Elo. Mas ainda assim, a Caixa ficou com quase 37% da operação.
Auxílio emergencial infla setor de cartão de débito
A terceira rodada de revisão das participações acontece neste ano. No mês que vem, os três sócios vão se reunir para contabilizar qual deles está gerando mais negócios para a bandeira Elo. Não haveria nada de diferente do que já aconteceu nas duas outras vezes se não fosse por um fato novo: a pandemia.
O novo coronavírus levou os governos a adotarem medidas de isolamento social. Para aliviar as dificuldades de quem perdeu renda, o governo federal lançou o auxílio emergencial.
E, na hora de fazer o auxílio emergencial chegar às mãos de milhões de brasileiros, o governo usou a Caixa como o principal banco de pagamento.
Dinheiro extra vai entrar na conta?
É aqui que entra o cartão Elo. Essa foi a bandeira usada pela Caixa para emitir as dezenas de milhões de contas digitais.
Com esses milhões de cartões emitidos em 2020, a Caixa se destacou no desempenho da Elo em 2020. E, por isso, o banco estatal deve voltar a ganhar nacos da empresa.
Mas Banco do Brasil e Bradesco querem discutir esses critérios. Se é auxílio emergencial, essas operações feitas pela Caixa não deveriam entrar na conta.
A Caixa defende que o que importa é que o banco efetivamente trabalhou para que a bandeira Elo siga conquistando mercado - e, por isso, todos os sócios saem ganhando no fim.
Procurados, nenhum dos bancos quis comentar o assunto.
Auxílio movimentou R$ 52,6 bilhões
Essa discussão faz sentido. Dados divulgados nesta semana pela Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) mostram que o auxílio emergencial representou cerca de R$ 52,6 bilhões nas transações com cartões de débito em 2020, ajudando esse segmento a bater os R$ 815 bilhões em transações no ano.
Sem o auxílio emergencial, o aumento das transações com cartões de débito em 2020 teria sido de 14,8%. Com o auxílio emergencial, esse mercado cresceu na verdade 22,7%.
Em busca do meio termo
O UOL apurou que os bancos podem encontrar um meio termo para resolver a pendência. Uma opção seria reduzir o peso que o número de cartões emitidos tem na avaliação, dando maior valor então ao volume médio movimentado pelo total de usuários.
Outra alternativa seria alongar o prazo de avaliação - para checar o quanto desses cartões que foram emitidos pela Caixa para pagar auxílio emergencial continuarão sendo usados pelos clientes.
Isso poderia ser feito ao longo de 2021, por exemplo. E em 2022, o tema seria revisto.
Por que Elo é importante
Segundo analistas de mercado, a bandeira Elo tem mais peso na faixa de consumidores de menor poder aquisitivo, especialmente entre os usuários de cartão de débito.
São clientes que geram menos negócios que os consumidores de cartões de crédito internacionais.
Por outro lado, a bandeira Elo foi a porta de entrada no mundo da conta bancária e dos cartões para milhões de brasileiros que jamais tinham sido clientes de bancos.
O chamado público desbancarizado pode não representar tanto hoje em termos da quantidade de negócios que gera, mas tem valor pelo potencial de novos negócios. A integração dessas pessoas desbancarizadas tende a gerar negócios no futuro.
Carlos Macedo, especialista em bancos e meios de pagamento da casa de análises Ohmresearch
Macedo também diz que a Elo é um negócio 100% nacional que representa concorrência para Visa e Mastercard. Isso ajuda Bradesco, Banco do Brasil e Caixa na hora de negociar condições com essas bandeiras.
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