Medo da crise fará busca por empréstimos subir em ritmo 50% menor neste ano
Resumo da notícia
- Aumento da carteira de crédito este ano será menor que em 2020, segundo bancos
- Cenário dos bancos ficou mais pessimista por causa do avanço da covid-19
- Lucro menor dos bancos em 2020 não afeta oferta de crédito em 2021; problema é procura afetada por economia fraca
O brasileiro vai ter mais dinheiro disponível para financiamentos e empréstimos neste ano, mas o crescimento vai ser bem menor do que no ano passado. O total previsto para crédito neste ano é de R$ 4,3 trilhões, alta de 7,3% em relação a 2020, segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Isso é menos da metade do que foi a alta de 15,5% em 2020 na comparação com 2019. Só que isso ainda pode piorar. A previsão de alta de 7,3% foi feita no começo do ano, mas como a pandemia de covid-19 está piorando, a vacinação está lenta e a economia vai mal, a Febraban já prevê que o crédito possa crescer menos ainda (não se sabe quanto). E não é porque os bancos não queiram emprestar, mas é porque as pessoas vão procurar menos para evitar dívidas.
Os R$ 4,3 trilhões previstos para este ano compõem a chamada carteira de crédito. Ela é formada por todo o dinheiro envolvido em crédito: são os empréstimos já feitos (e que ainda estão sendo pagos), mais os novos financiamentos a serem concedidos.
Brasileiros vão procurar menos empréstimos
A crise econômica provocada pela covid-19 em 2020 levou o Brasil a ter a maior queda do PIB (Produto Interno Bruto) e já afetou os ganhos dos principais grupos financeiros, que apresentaram ano passado o menor lucro desde 2016.
Mas segundo o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Rubens Sardenberg, esse não é o motivo da desaceleração do crédito em 2021. O problema, afirma ele, é a dificuldade do país em retomar o crescimento em meio ao prolongamento da pandemia.
Os retornos caíram em 2020 porque os bancos fizeram muitas provisões [separaram dinheiro para calotes]. Mas no fim a inadimplência não foi tão ruim. Os bancos já tiveram recomposição do capital e têm liquidez para ampliar a carteira de crédito neste ano. Mas a questão determinante é a demanda.
Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban - Federação Brasileira de Bancos
Inadimplência e margens no crédito
Spread é a diferença entre o custo do dinheiro que o banco capta para emprestar e o que ele cobra do cliente. Segundo o Banco Central, o spread bancário em 2020 caiu de 17,8 pontos percentuais para 14,5 pontos percentuais.
O spread dos bancos é o que sobra depois que eles pagam custos, incluindo impostos, e, o que sobra, vira lucro. Uma parte dos custos do setor é o capital usado para cobrir os calotes. E em 2020, a inadimplência caiu de 2,9% para 2,1%.
Segundo o superintendente de assessoria econômica da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), Everton Gonçalves, o cenário básico para 2021 deverá ser pior em relação ao do ano passado com relação às taxas médias de juros e inadimplência, considerando pioras no endividamento e comprometimento de rendas das famílias e na geração de caixa pelas empresas.
A retirada de uma série de estímulos e incentivos terá impacto na dinâmica do crédito que deverá apresentar uma desaceleração em 2021. Pelo lado da oferta, o final da isenção do IOF nas operações, o aumento da CSLL e a elevação dos prêmios de risco na taxa futura de juros significará aumento importante no custo das instituições. Este processo tende a ser agravado pelos efeitos da 2ª onda da covid e com a provável elevação da taxa de inadimplência.
Everton Gonçalves superintendente de assessoria econômica da ABBC (Associação Brasileira de Bancos)
Ano passado, a carteira total de crédito no país cresceu 15,5% e atingiu R$ 4,02 trilhões. Mas nesse aumento estão incluídas as rolagens de dívidas. Já as novas operações, ou seja, as concessões de empréstimos realizadas em 2020 somaram R$ 197 bilhões, um total 5,7% maior que em 2019.
Para este ano, a carteira total de crédito deve apresentar crescimento de 7,3% em 2021 em relação a 2020, segundo projeções dos bancos apuradas pela Febraban em uma pesquisa com 21 instituições financeiras, entre os dias 27 de janeiro e 2 de fevereiro.
Avanço da covid-19 e vacinação lenta geram pessimismo
Essa expansão já é menor que a apurada em 2020. Mas o economista-chefe diz que esse cenário traçado no começo de fevereiro deve piorar ainda mais.
Desde lá, os casos de brasileiros com covid-19 e as mortes provocadas pela doença cresceram para números recordes e as ocupações de leitos nos hospitais bateram 100% em vários estados.
Prefeitos e governadores foram obrigados a retomar medidas de restrição à circulação de pessoas numa tentativa para conter a tragédia. E a vacinação, no ritmo atual, não será capaz de imunizar a população este ano, segundo especilaistas.
Os bancos trabalhavam com a expectativa de que a vacinação poderia ajudar no controle da pandemia, acelerando a retomada da economia. E, com isso, haveria um crescimento do crédito. Mas o que está acontecendo é uma vacinação lenta e a pandemia avançando, aponta o economista-chefe da Febraban.
A gente tinha um cenário de taxas de juros e spreads estáveis, com retomada da atividade econômica e expectativa de inadimplência estável. Ou seja, era um panorama otimista. Agora, vemos que aumentou o risco de termos um primeiro semestre mais fraco. Vamos depender mais de nossos problemas internos, já que o ambiente externo é positivo, com oferta de dinheiro e juros baixos no mundo.
Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban - Federação Brasileira de Bancos
Para pessoa física, o empréstimo consignado deve ter boa performance em 2021. Não é provável uma retomada no financiamento de automóveis. Dada a ociosidade no mercado de trabalho, o financiamento imobiliário deverá arrefecer. Para empresas, o desempenho deve ser melhor para operações de capital de giro e a antecipação de recebíveis que deverá se beneficiar da implementação do novo arcabouço para o registro de recebíveis.
Everton Gonçalves superintendente de assessoria econômica da ABBC (Associação Brasileira de Bancos)
Variação do dólar também atrapalha
Para o economista Roberto Troster, especialista em setor bancário pós-graduado em banking pela Stonier School of Banking, outro problema para a oferta de crédito neste momento é a grande variação do dólar.
Segundo ele, o Banco Central deveria atuar para reduzir as variações diárias que a moeda americana tem apresentado.
Há dúvidas sobre taxas de câmbio e de crescimento. Um ambiente de dólar alto e volátil com crescimento econômico baixo é ruim para a oferta de crédito. Nesse ambiente, os bancos devem assumir uma postura mais conservadora para emprestar.
Roberto Troster, sócio da consultoria Troster & Associados
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