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Papa pede reforma da dívida externa em mensagem a chefes de Estado

A mensagem do pontífice está sendo interpretada como uma demonstração de apoio indireto à Argentina. - Alberto Pizzoli/AFP
A mensagem do pontífice está sendo interpretada como uma demonstração de apoio indireto à Argentina. Imagem: Alberto Pizzoli/AFP

Colaboração para o UOL

21/04/2021 15h28

Em uma mensagem enviada hoje aos Chefes de Estado e de Governo reunidos na Cúpula Ibero-Americana, em Andorra, o papa Francisco cobrou comprometimento da comunidade internacional e "forte vontade política" para que não sejam os pobres a pagar o preço mais alto da pandemia de covid-19.

A mensagem foi dirigida aos 22 representantes dos Estados que compõem o bloco de países latino-americanos e da península ibérica. Nela, Jorge Mario Bergoglio falou sobre o "contexto particularmente difícil" devido aos "terríveis efeitos" da pandemia do novo coronavírus em todos os âmbitos da vida diária.

Na carta, o líder da Igreja Católica fez um apelo pela reforma da "arquitetura" da dívida externa dos países pobres como uma "resposta comum à pandemia". O pontífice sugeriu a renegociação do peso da dívida das nações mais necessitadas como um gesto que ajudará os povos a se desenvolverem, a terem acesso às vacinas, saúde, educação e emprego.

Para isso, é urgente a "implementação de políticas econômicas sólidas", afirmou o papa, permitindo o acesso desses países ao financiamento externo, através de uma nova emissão de Direitos Especiais de Saque, um instrumento monetário internacional, criado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para completar as reservas oficiais dos países membros.

A mensagem do pontífice também está sendo interpretada como uma demonstração de apoio indireto à Argentina, sua terra natal, que está em plena negociação com o FMI e o Clube de Paris, que congrega 22 países credores, na tentativa de adiar o pagamento de US$ 2,4 bilhões, previsto para 31 de maio, evitando assim um default.

Em 14 de abril, o papa recebeu, em audiência privada no Vaticano, o Ministro da Economia argentino, Martín Guzmán, que estava em viagem oficial à Europa em busca de apoio para renegociar a dívida do país com os organismos internacionais.

Imunização extensiva

Depois de reconhecer o sofrimento de todos que perderam seus familiares e entes queridos, os milhões de vítimas e doentes, além do trabalho árduo de médicos, enfermeiras, profissionais de saúde e voluntários no enfrentamento da crise sanitária, Francisco reforçou seus pedidos pela distribuição extensiva dos imunizantes anti-Covid.

Na sua mensagem, o papa reiterou que as vacinas devem ser consideradas um "bem comum universal".

Nesta área, o pontífice sugeriu a criação de iniciativas que busquem desenvolver novas formas de solidariedade em nível internacional, não baseadas "em critérios puramente econômicos, mas levando em conta as necessidades de todos, especialmente os mais vulneráveis e necessitados".

O papa pediu união de forças para criar um "novo horizonte de expectativas" onde o benefício econômico não seja o objetivo principal, mas sim a proteção da vida humana. "Neste sentido, é urgente considerar um modelo de recuperação capaz de gerar soluções novas, mais inclusivas e sustentáveis, visando o bem comum universal", finalizou.

Sobre a Cúpula Ibero-Americana

A reunião da Cúpula Ibero-Americana que busca mais acesso às vacinas e financiamento para a recuperação pós-covid para a América Latina começou hoje em Andorra. A sessão, que foi iniciada com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da covid-19, conta com a presença de treze líderes latino-americanos. Os presidentes do Brasil, El Salvador, México, Nicarágua, Paraguai e Venezuela não compareceram à cúpula.