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Analista do Santander compartilha relatório que menciona golpe contra Lula

Mariana Bomfim e João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

13/08/2021 12h31Atualizada em 13/08/2021 14h29

Um analista do banco Santander compartilhou com clientes um relatório de análise política que menciona a possibilidade de golpe contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para evitar a volta do PT ao poder.

"Ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula", diz a nota.

O Santander disse em nota enviada ao UOL que "o Santander esclarece que o conteúdo do informe é de autoria de uma consultoria independente, cuja opinião não reflete a visão do Santander", depois que o texto circulou nas redes sociais.

O relatório partiu da CAC Consultoria Política, uma casa de análises de Brasília, fundada em 1997, que desenvolve serviços de análise e estratégia políticas, segundo informa a empresa no site.

A consultoria diz que monitora os principais acontecimentos políticos e fornece aos seus clientes informação e análise, focalizando questões da conjuntura imediata e associando dados políticos, econômicos e sociais para indicar contextos de risco.

A CAC diz que também realiza estudos e pesquisas sobre temas políticos diversos, como eleições, processo legislativo e política externa, entre outros.

Autor do texto é mestre e doutor em ciências políticas

O texto é assinado pelo principal sócio diretor da CAC, José Luciano de Mattos Dias, mestre e doutor em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).

No site da consultoria, é informado que ele foi pesquisador da Fundação Getúlio Vargas entre 1987 a 1998 e analista sênior do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos entre 1998 e 2007.

Procurada, a casa de análise e o autor do texto não responderam até a publicação deste texto.

Santander não diz se é cliente da CAC

O Santander não informou se paga para receber as análises da CAC. O UOL apurou que os analistas do banco recebem diariamente diversos textos e outros materiais analíticos e de informações que ajudam seus profissionais a tomarem decisões.

No caso do relatório da CAC Consultoria que menciona um golpe contra Lula, o texto chegou ao analista do Santander por email. Daí, o material foi compartilhado por esse funcionário do Santander com alguns clientes por meio do terminal Bloomberg.

A Bloomberg é a maior plataforma de informações e de negociação para o mercado financeiro do mundo, que tem no Brasil cerca de 5.000 assinantes. As principais instituições financeiras e investidores utilizam essa plataforma para fazer negócios e buscar informações.

Veja o relatório

Leia abaixo o documento distribuído pelo analista do Santander na íntegra:

"Um escritor alemão advertiu que a História, quando se repete, é como farsa e, ontem, o experimento do presidente Bolsonaro para repetir 1964 terminou como farsa, com seus blindados da Guerra do Vietnã e seus generais funcionários. Não há apoio social, nem apoio do establishment, nem radicalismo de esquerda para justificar uma aventura, que terminaria de forma melancólica com algumas prisões. Por fim, não há interesse do sistema político em um regime bolsonarista.

Dito isso, é preciso reconhecer um problema na eleição de 2022: a perspectiva de retorno ao poder da máquina de corrupção do governo Lula.

Basta comparar os esquemas de corrupção do Mensalão e do Petrolão com as aventuras cômicas de reverendos e militares da reserva tentando uma comissão na compra de vacinas pelo governo Bolsonaro. Os recursos desviados pelas máquinas políticas dos governos passados ainda não apareceram. Ou seja, se o sistema político e judicial, se o establishment político brasileiro acham cômico o governo Bolsonaro, o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria. Hoje, Lira é o presidente da Câmara, mas sob um governo do PT, seria um modesto aliado abrigado em um cargo menor.

Em suma, ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo. Pode voltar a sê-lo".

Não é a primeira vez do Santander

O Santander já se envolveu em outra polêmica com o PT e a política. Em 2014, uma analista do banco fez um texto distribuído a clientes, afirmando que a economia do país pioraria se a então presidente Dilma Rousseff fosse reeleita. O Santander pediu desculpas e demitiu a funcionária.