Shopee, rival da Aliexpress, dispara no Brasil; vale a pena?
Grandes lojas internacionais online desembarcaram no Brasil, conectando vendedores dos mais variados produtos e clientes ávidos pela facilidade de comprar itens fabricados em países como China, Estados Unidos ou Rússia. Tornou-se comum acessar aplicativos ou sites de marketplaces (shoppings virtuais) estrangeiros como AliExpress, Shein e Shopee.
O UOL ouviu especialistas para entender a movimentação dessas plataformas no mercado brasileiro - especialmente a Shopee, que tem se destacado das concorrentes. Foi a empresa do setor que teve a maior alta de vendas entre abril de 2020 e abril de 2021: 1.419%.
A Shopee chegou ao Brasil em 2019 com uma estratégia agressiva de marketing, chamando a atenção de especialistas, consumidores e pequenos fornecedores que veem na plataforma criada em Singapura um relevante canal de vendas. A empresa foi procurada, mas não se manifestou até a publicação deste texto.
Qual o diferencial da Shopee?
Ricardo Moura, diretor de inteligência de mercado da consultoria GfK, avalia que o crescimento de 90% nas vendas do varejo online em 2020, mapeado pela consultoria, foi em parte impulsionado pelos marketplaces internacionais.
As plataformas estrangeiras brigaram com gigantes nacionais como Magazine Luiza, Casas Bahia e Americanas. "Temos um cenário bem forte de crescimento não apenas de empresas brasileiras, mas também de estrangeiras", diz.
Ele observa que a Shopee é a estrangeira mais dinâmica no momento, embora distante de sua principal concorrente, a AliExpress, cujo valor médio comercializado é dez vezes maior. A GfK não revela os números por questões contratuais com as empresas, que são de capital fechado e não são obrigadas a tornar a informação pública.
Promoções de R$ 1,99
Por enquanto, o foco é operar com um valor médio menor que o da AliExpress para atrair o consumidor e fazê-lo conhecer a plataforma. Em julho, por exemplo, a empresa promoveu produtos de R$ 1,99.
A companhia também criou um programa de atração de pequenos vendedores nacionais para ganhar maior agilidade de entrega. A estratégia é parecida com a do Mercado Livre quando chegou ao Brasil.
"O Mercado Livre atraiu o pequeno vendedor enquanto criava musculatura para trazer grandes marcas", afirma Moura.
Livros, jardinagem, celulares
Enquanto a Shein é especialista em roupas, a Shopee inovou comercializando livros, mas disponibilizando 20 categorias diferentes de itens que vão da bricolagem (trabalhos manuais, como jardinagem e artesanato) a celulares. A AliExpress oferece a mesma variedade.
Em comum, as empresas dão cupons de desconto em produtos e fretes, além da possibilidade de comprar em países com carga tributária reduzida -especialmente da China. No mês passado, a Shopee ofereceu produtos por até R$ 10, cupons de fretes grátis e vouchers de desconto.
O outro lado dessa moeda é o prazo maior de entrega -que pode ser superior a um mês, Marketplaces brasileiros oferecem entrega em poucas horas nas capitais.
É aquela da 'pisadinha'?
O marketing é um diferencial em relação às concorrentes, especialmente a Shein e a gigante chinesa AliExpress.
É quase impossível alguém com acesso à TV não ter visto os comerciais da Shopee, que tem desenvolvido uma linguagem tropicalizada.
Para começar, a cor predominante é o laranja. Nos vídeos da plataforma, uma música no estilo 'pisadinha' embala a dança de atores, enquanto seguram um celular e clicam no aplicativo para fazer produtos surgirem como passe de mágica (Barões da Pisadinha é uma banda de forró eletrônico e tecnobrega).
Foi assim na campanha publicitária da Black Friday 2020, quando a marca se tornou conhecida, e na do Mês do Consumidor 2021.
E qual a estratégia da Shein ou da Aliexpress?
A Shein foi criada por um chinês radicado nos EUA e vende majoritariamente produtos fabricados na China. A empresa é mais focada em roupas produzidas na região chinesa de Cantão, que comercializa no Brasil desde 2019.
A Shein vem ganhando destaque desde o ano passado como a queridinha quando o assunto é moda e apostou em youtubers do mundo fashion como estratégia de marketing.
A AliExpress é uma das empresas do grupo Alibaba, do bilionário chinês Jack Ma. Consumidores brasileiros começaram a comprar na AliExpress em maior volume a partir de 2017 e, no ano seguinte, a plataforma se tornou o terceiro site com mais vendas por aqui.
Em 2021, a empresa contratou a cantora Ivete Sangalo para uma campanha de marketing. A empresa de Ma também anunciou que começaria a fazer entregas de compras internacionais em até 12 dias no Brasil
A plataforma Wish começou a vender no Brasil por volta de 2018, com a promessa de produtos baratos e entrega acelerada. Ela foi criada nos EUA por um polonês naturalizado americano. A empresa perdeu terreno no e-commerce brasilerio ao longo de 2020.
Como está a Shopee no Reclame Aqui?
De acordo com dados do Instituto Reclame Aqui, as queixas de consumidores da Shopee só no primeiro semestre foram 121% maiores que o número registrado em todo o ano de 2020. No ano passado todo, foram 11.240 reclamações, contra 24.849 entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2021.
No entanto, as vendas da empresa aumentaram muito mais que isso. Segundo o relatório E-commerce no Brasil, elaborado pela agência Conversion, as vendas da Shopee cresceram 1.419% durante a pandemia, entre abril de 2020 e abril de 2021. O crescimento das vendas é 12 vezes maior que a alta nas reclamações.
As vendas superaram AliExpress (48% de crescimento), Amazon (38%) e Magazine Luiza (23%).
Suas concorrentes diretas, que cresceram menos, também tiveram números menores de reclamações, o que está dentro do previsto. O AliExpress teve aumento de 5,3% nas queixas no Reclame Aqui
A Shein teve queda de 2,15% no número de queixas, caindo para 10.646 no primeiro semestre ante 10.881 reclamações ao longo do ano anterior.
No geral, as principais reclamações envolvendo todas as empresas são atraso na entrega e dificuldade para devolver produtos, com o reembolso de valores pagos.
O que fazer se tiver problemas com a entrega?
Todo atraso na entrega ou avaria em produtos deve ser questionado diretamente na empresa para buscar uma solução amigável. Em casos mais graves, o consumidor pode acionar a Justiça.
André Salgado Felix, especialista em direito digital do escritório Ernesto Borges Advogados e professor da PUC-SP, afirma que o Código de Defesa do Consumidor protege clientes porque a empresa tem representante legal no país.
A legislação local permite, por exemplo, devolver um produto após sete dias da entrega. O advogado diz que, inicialmente, a plataforma não permitia a desistência.
"O Shopee não deixava devolver o produto no prazo de sete dias, mas alterou isso porque havia muito consumidor reclamando", diz.
Meus dados estão seguros?
O especialista em comércio digital Arthur Igreja afirma que grandes plataformas eletrônicas de vendas são seguras, com baixo risco de exposição de dados dos clientes. "O mais importante [para a credibilidade] dessas empresas é manter a segurança para o consumidor", diz.
Igreja recomenda uma medida importante a se tomar seja qual for seu marketplace preferido: não deixar informações do cartão de crédito salvas nas plataformas. "Parte da questão da segurança depende muito do comportamento do usuário", observa.
Outra dica dele é checar a reputação do vendedor dentro da própria plataforma para verificar se ele entrega o que promete. "Aprenda a mexer na plataforma antes de fazer compras mais caras. Faça uma compra teste em valor baixo para verificar se a entrega está de acordo com a sua expectativa. Veja a reputação dos vendedores, observe o histórico deles e a opinião de outros consumidores", afirma Igreja.
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