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Inflação chega a 10%; até quando vai subir? Preços vão cair? Veja previsões

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Imagem: Getty Images

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

26/09/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Inflação subindo há 16 meses bate maior patamar desde maio de 2016
  • Economistas dizem que inflação só desacelera entre fim deste ano e começo de 2022
  • Veja por que redução da inflação não significa queda dos preços

A inflação vem acelerando de forma insistente desde maio de 2020, chegando a quase 10% em 12 meses. Ela corrói a renda das famílias e reduz seu poder de compra, tornando mais difícil a vida dos brasileiros.

Até quando os preços vão continuar subindo? Economistas ouvidos pelo UOL dizem que a perspectiva é a inflação desacelerar, mas isso depende de uma série de fatores. Além disso, mesmo que as previsões se confirmem, isso não quer dizer que os preços de produtos e serviços do dia a dia das pessoas vão cair. A tendência é que eles apenas subam menos ou, no melhor dos cenários, se estabilizem no atuar patamar.

As exceções, destacam economistas, são produtos cujos preços variam muito, por questões climáticas, por exemplo, caso de alimentos perecíveis. Eles, sim, podem ficar mais baratos após subirem e atingirem um pico.

Mas para a grande maioria dos produtos e mesmo serviços, os preços só caem quando o PIB (Produto Interno Bruto) encolhe e a economia entra em recessão. Aí acontece o contrário da inflação, a deflação.

Veja abaixo por que a inflação está acelerando e o que especialistas projetam para os preços.

Por que inflação está tão alta?

As principais causas da inflação atual são:

  • Dólar: A alta da moeda encarece produtos importados, insumos usados na produção nacional e itens que tem seu preço definido no mercado internacional, como os combustíveis. O dólar é vendido hoje acima de R$ 5,30, mas deveria estar na casa de R$ 4,70 se fossem considerados apenas os fundamentos da economia brasileira, nas contas do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo. O que faz o dólar ir além desse patamar são as incertezas políticas, relacionadas ao andamento das reformas no Congresso e aos choques entre o presidente Bolsonaro e o STF (Supremo Tribunal Federal). Esses problemas aumentam o risco-país e afastam investidores estrangeiros.
  • Combustíveis: O dólar alto puxa os preços de gasolina, diesel e etanol. Como os transportes entram na conta de custos de todos os setores da economia, a alta dos combustíveis contamina outros preços. Em 12 meses, eles já subiram 41,2%.
  • Energia: A crise hídrica levou o governo a acionar, desde o final de 2020, as usinas térmicas, mais caras que as hidrelétricas. Desde então, a situação só piorou. Como energia também entra na lista de custos da ampla maioria das atividades econômicas, a conta de luz mais cara também acelera a inflação. A energia elétrica aumentou 21,1% em 12 meses no país.
  • Alimentos: Eles já estavam subindo por causa do dólar e dos combustíveis e sofreram ainda o impacto das geadas, que afetaram a produção. Na média, os alimentos subiram 16,6% em 12 meses, mas há itens que aumentaram bem mais, como óleo de soja (67,7%), feijão-fradinho (40,3%), arroz (32,7%) e carnes (30,8%).

Expectativa é inflação desacelerar a partir de outubro

A inflação vai fechar este ano em 8,35% e encerrar 2022 em 4,1%, segundo projeções de economistas de mais de cem instituições financeiras e consultorias apuradas pelo Boletim Focus, do Banco Central.

Para que esses cenários aconteçam, precisa diminuir já em outubro o ritmo de alta de dólar, combustíveis, energia e alimentos.

O economista e especialista em setor bancário Roberto Troster vê espaço para que a inflação comece a ceder no mês que vem, mas alerta que o mercado vem errando nas apostas

O problema é que controlar a inflação é como parar um carro numa ladeira. Quanto mais você demora para pisar no freio, maior a dificuldade. O mercado errou para menos em nove das últimas doze vezes em que o IPCA foi anunciado. Ainda podemos ter um pico.
Roberto Troster, da Troster & Associados

Além disso, há uma questão técnica que ajuda a explicar a expectativa de desaceleração da inflação acumulada em 12 meses, a partir de outubro. Índices altos de inflação registrados no final do ano passado vão saindo da conta conforme o tempo passa. Em outubro, por exemplo, entra uma inflação mensal de 0,5%, substituindo outra bem maior, de 0,86%, de outubro de 2020, nas contas de Julia Passabom, economista do Itaú BBA.

Segundo ela, o pico da inflação será este mês, quando vai atingir 10,2%. Depois disso, o indicador começa a ceder, para 9,8% em outubro, e assim mês após mês.

Alimentação, energia elétrica e combustível, ainda que continuem subindo, estão desacelerando. Mas essa desaceleração será lenta, com o IPCA rodando acima de 5% até agosto de 2022.
Julia Passabom, do Itaú BBA

Felipe Sichel, do banco Modalmais, diz que a inflação vai começar a cair no primeiro trimestre do ano que vem, dependendo da desaceleração dos preços na indústria, da conta de luz e dos serviços.

Inflação pode voltar a disparar?

Apesar de a expectativa predominante no mercado ser de desaceleração a partir de outubro, economistas admitem o risco de a inflação voltar a disparar. Algumas ameaças estão no radar:

  • Energia: Se as chuvas não forem suficientes para uma recuperação parcial dos reservatórios das hidrelétricas, e o país tiver que aumentar ainda mais o uso de energia térmica, a conta de luz ficará ainda mais cara, puxando para cima outros preços.

O aumento de chuvas, que começa no verão, tende a aliviar a crise hídrica, tirando parte das pressões inflacionárias, segundo André Braz, coordenador dos índices de preços do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Mas ele destaca que isso não é certo.

Já vimos de um período muito seco, com baixos níveis nos reservatórios em termos históricos e, agora, a projeção é de pouca chuva. Então essas pressões inflacionárias podem continuar até maio de 2022. Teremos um ajuste que ainda vai desafiar os orçamentos das famílias, principalmente das mais humildes e pobres.
André Braz, do Ibre/FGV

  • Serviços: Os preços no setor de serviços foram os que menos subiram desde o início da pandemia, em 12 meses, como manicure (4,3%), cabeleireiro (3,81%), tratamento de animal (3,27%), hospedagem (0,84%) e atividades físicas (2,88%). Mas os negócios vão tentar subir os preços com a reabertura das atividades econômicas, para recuperar parte do que a crise e a inflação corroeram. Quanto mais gente circulando e comprando, maior o espaço para que esses aumentos de preços sejam aceitos pelos consumidores.
  • Dólar: O dólar pode continuar subindo por causa de questões que têm mais a ver com política brasileira que com a economia, como os ataques do presidente Bolsonaro ao STF e a ameaça de não respeitar os resultados das eleições. Se isso acontecer e a moeda ficar mais perto de R$ 6 do que de R$ 5, a inflação não deve desacelerar, segundo economistas.