Topo

Gestão Bolsonaro é ruim para a economia, diz revista 'The Economist'

PEC dos Precatórios: The Economist diz que o ministro Paulo Guedes tem capitaneado uma volta do Brasil a um estado de "incontinência fiscal" Imagem: Evaristo Sá/AFP

Colaboração para o UOL, em Brasília

12/11/2021 07h57

A gestão do presidente Jair Bolsonaro é negativa não só para o meio ambiente, a democracia e os direitos humanos, mas também para a economia brasileira, afirmou a revista britânica "The Economist", em artigo publicado hoje.

Ao abordar a PEC dos Precatórios, o texto afirma que o ministro Paulo Guedes (Economia) tem capitaneado uma volta do Brasil a um estado de "incontinência fiscal", puxado pelo aumento da inflação, a alta da taxa de juros e a desaceleração do crescimento econômico.

Em setembro de 2019, Guedes disse ao Congresso que poderia 'fazer história' mantendo o orçamento sob controle e dizendo que 'a classe política não deveria perseguir ministros, implorando por dinheiro'. Agora, Guedes tem apoiado uma tentativa do governo de contornar o limite constitucional para os gastos públicos estabelecidos em 2016, o que foi um passo crucial para endireitar as finanças do país.
Revista The Economist

Ainda sobre as manobras de governistas para furar o teto de gastos, de acordo com a The Economist, "as travessuras orçamentárias" do governo "provocaram incerteza sobre o futuro do principal programa social do país", o Bolsa Família.

"Na eleição de 2018, a aliança de Bolsonaro com Guedes, um economista que prega livre mercado, colaborou para persuadir os empresários a votarem num ex-oficial do Exército de extrema-direita que nunca havia mostrado interesse pela economia liberal. Guedes prometeu uma reforma radical do Estado ineficiente do Brasil", afirma a publicação.

"Mas essa promessa resultou apenas em algumas políticas econômicas úteis, como projetos voltados à independência do Banco Central, por exemplo. Agora, a bandeira reformista foi substituída pela corrida de Bolsonaro por dinheiro para comprar apoio político", diz a Economist.

Queda na aprovação do governo

Para se esquivar de um possível processo de impeachment por causa de sua má gestão da pandemia, diz a publicação britânica, Bolsonaro se aliou ao chamado Centrão —grupo de legisladores sem coloração ideológica definida, mas que pendem ao conservadorismo.

"Quando a pandemia começou a se agravar, o governo declarou estado de calamidade", abrindo espaço para a criação de programas como o Auxílio Emergencial de R$ 600, "apesar do limite de gastos", aponta o texto. Na avaliação da revista, o programa freou o avanço da pobreza no Brasil em 2020, contrariando as estimativas, e alavancou a popularidade de Bolsonaro.

"Em março, o Congresso promulgou uma emenda constitucional que garantiu a continuidade do auxílio emergencial [de R$ 300]. Mas agora, a queda no índice de aprovação do presidente está reduzindo sua chance de um segundo mandato na eleição do próximo ano", analisa o texto da publicação britânica.

Uma nova emenda constitucional aumentaria esse rombo, diz a Economist, referindo-se à PEC dos Precatórios, que muda o pagamento de dívidas do governo com sentença judicial definitiva. Até 2029, aquelas com valor acima de 60 mil salários mínimos (ou R$ 66 milhões, atualmente) poderão ser quitadas com entrada de 15% e nove parcelas anuais. Segundo o governo, a medida é necessária porque em 2022 o montante em precatórios deverá alcançar R$ 89,1 bilhões, acréscimo de R$ 34,4 bilhões em relação a 2021.

Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, esse valor poderá comprometer os demais gastos do Executivo. O dinheiro do parcelamento das dívidas da União vai para o Auxílio Brasil —uma das principais apostas de Bolsonaro para a sua reeleição.

"Esse programa vai incorporar o Bolsa Família, o bem-sucedido esquema de combate à pobreza lançado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas vai acrescentar complexidade e incerteza. Bolsonaro também prometeu um bônus temporário que beneficiaria 17 milhões de famílias elegíveis a receber pelo menos R$ 400 por mês até dezembro de 2022", afirma a Economist.

O Auxílio Brasil, que começará a ser pago neste mês, terá acréscimo de cerca de 20%, passando da média de R$ 189 por mês para R$ 227. A promessa do governo é de que, caso a PEC dos Precatórios passe no Congresso, o novo programa social pagará R$ 400 para mais de 17 milhões de pessoas até o fim de 2022, ano em que Bolsonaro tenta a reeleição.

Outra grande parte do dinheiro extra iria para causas "menos dignas", como o financiamento de "emendas orçamentárias que concedem contratos de aquisição pública superfaturados a legisladores individuais em troca de apoio", aponta a revista. Nesta semana, a execução de repasses no chamado "orçamento secreto" foi considerada ilegal pelo STF (Superior Tribunal Federal).

A revista relembra ainda que tantas manobras do Executivo federal levaram assessores de Guedes na pasta a renunciar no mês passado. "O objetivo do teto de gastos era travar o aumento dos gastos públicos para satisfazer os aliados de Bolsonaro. Mas o crescimento desacelerado da economia mostra que Bolsonaro não é ruim apenas para o meio ambiente, para os direitos humanos e para a democracia, mas também para a saúde fiscal do Brasil", conclui a publicação.

A opinião da The Economist segue a linha do Financial Times, jornal de finanças britânico que em 1º de novembro publicou um editorial afirmando que os erros do presidente brasileiro "vão muito além da pandemia".

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Gestão Bolsonaro é ruim para a economia, diz revista 'The Economist' - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Economia