Seca fecha pontos turísticos e deixa diárias de hotéis até 15% mais caras
A seca, que provocou o aumento da conta de luz e até demissões em uma hidrovia, também está tendo impacto no turismo. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a alta da energia elétrica, em conjunto com o aumento do preço dos alimentos, deve deixar diárias de hotéis entre 5% e 15% mais caras, em média.
Além da alta de preço, a CNC aponta que atrações turísticas que dependem de água —como em lagos, por exemplo —também estão sofrendo. Alguns, principalmente em Minas Gerais, não resistiram e fecharam as portas.
No caso de parques aquáticos, há estabelecimentos que viram poços artesianos secarem, o que aumentou ainda mais os custos. Mas, segundo associação do setor, os parques estão absorvendo as altas, e os ingressos não devem ficar mais caros.
Pós-pandemia diminui, mas não impede reajuste
De acordo com a CNC, a energia elétrica responde por 19% dos custos de hospedagem, em média. Parte dos hotéis participa do mercado livre de energia, em que grandes consumidores podem escolher de onde vão comprar energia elétrica. Nesse caso, o impacto não é imediato, já que os contratos são de longo prazo: a energia usada hoje foi adquirida há meses.
Segundo Alexandre Sampaio, diretor do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da CNC, os hotéis que estão no mercado livre estão se deparando com os custos maiores ao firmar novos contratos. Mas há aqueles que estão no mercado cativo (o mesmo em que estão as casas das pessoas, não podem escolher a fonte de energia), e estão enfrentando o aumento de preços agora.
A energia elétrica é um fator de impacto grande na diária. Com as bandeiras [taxas extras na conta de luz], tivemos um aumento de preço importante, mas os valores não foram repassados totalmente porque estamos em processo de recuperação. A ideia é consolidar essa recuperação antes de sair repassando preço.
Alexandre Sampaio, da CNC
Mesmo assim, parte dos custos mais altos não deve ser absorvida pelos hotéis e acabará chegando aos clientes —algo entre 5% e 15%, diz Sampaio.
O repasse deve ser necessário porque a energia não foi o único custo que subiu. A inflação de alimentos também pressiona valores de café da manhã, um dos itens incluídos nas diárias.
O preço do pão francês, por exemplo, aumentou 7,72% nos últimos 12 meses, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de outubro, medido pelo IBGE. Para o queijo, a alta foi de 15,15%. Café e leite subiram 34,53% e 2,14%, respectivamente.
'Quando a água baixa, acaba o emprego'
Além dos custos, a seca também está afetando atrações que dependem de reservatórios naturais de água, como lagos e represas. É o caso de estabelecimentos que ficam em cidades do Sul de Minas Gerais, no entorno da represa de Furnas. São hoteis, pousadas e pesqueiros.
Braz Pagani, presidente da Edersul (Empresa de Desenvolvimento Regional do Sul de Minas), diz que a preferência dada à geração de energia tem baixado o nível do lago, o que prejudica os empreendimentos.
Segundo ele, porém, os problemas não são de agora: a falta de infraestrutura já causou o fechamento de "dezenas de estabelecimentos" nos últimos dez anos. Pagani não soube precisar quantos fecharam por causa da seca de agora.
Apesar disso, ainda há muitos empreendimentos de turismo náutico, em núcleos como Capitólio (MG). Mas são poucas as cidades beneficiadas, porque esse problema de infraestrutura nunca foi atacado. Quando a água baixa, acaba o emprego.
Braz Pagani, da Edersul
Parques aquáticos seguram reajustes
Outros tipos de atração turística também estão sofrendo impactos, mas estão conseguindo manter as operações sem aumentar o preço para o consumidor.
Murilo Pascoal, presidente do Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas) e CEO do Beach Park (que fica no Ceará) diz que, nos parques aquáticos, o custo da energia é "um dos mais relevantes", junto com o gasto com pessoal.
Segundo ele, alguns parques têm investido em alternativas para minimizar o impacto da alta dos custos, como a instalação de unidades de energia solar ou eólica. Mas isso demanda investimento, e nem todos os empreendimentos têm dinheiro para isso agora.
Menos investimentos no futuro
Paulo Kenzo, diretor de parques aquáticos da Adibra (Associação de Empresas de Parques de Diversões do Brasil) e presidente do Conselho de Administração do Magic City (que fica em Suzano, em São Paulo), afirma que, em geral, os parques não repassaram o aumento do gasto com energia aos ingressos.
Procuramos manter os valores porque sabemos que estamos em tempos de inflação alta, com outras coisas ficando mais caras. No caso do Magic City, diminuímos as margens [de lucro]. A empresa segue saudável, mas os investimentos para os próximos anos devem cair.
Paulo Kenzo, da Adibra
Poços secaram
Ainda de acordo com Kenzo, há casos em que parques tiveram problemas com fornecimento de água. A maioria usa poços artesianos —e alguns viram esses reservatórios secarem. Com isso, tiveram de buscar outras alternativas de fornecimento, o que também aumentou os custos.
Pascoal, do Sindepat, afirma que os parques têm sistemas para uso da água que evitam desperdícios. "A gente vê aquela água correndo e pode imaginar que a água será jogada fora, mas não é assim que funciona", diz.
Ele afirma que os sistemas das piscinas são fechados: a água que corre em um toboágua vai para a piscina e, depois, para uma cisterna, onde é filtrada e tratada para, então, retornar ao toboágua.
A água usada em cozinhas e banheiros também é tratada, e volta ao meio ambiente na irrigação de gramados, por exemplo.
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