IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Bolsonaro prevê inflação menor em 2022; mercado vê dado acima da meta

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que "a inflação vai baixar neste ano" - Reprodução/Facebook/Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que "a inflação vai baixar neste ano" Imagem: Reprodução/Facebook/Jair Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

17/01/2022 11h41Atualizada em 17/01/2022 14h45

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou hoje que a inflação será menor este ano ano, depois de fechar 2021 em 10,06%, maior nível desde 2015.

Analistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus apontam, de fato, desaceleração da inflação em 2022, para 5,09%. Caso a previsão se confirme, porém, a inflação ficará novamente acima da meta do BC, que é de 3,5% neste ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Ou seja, variando entre 2% e 5%.

Nesta segunda-feira (17), os analistas ouvidos pelo Focus aumentaram suas projeções para a inflação neste ano, que antes era de 5,03%.

Também subiram a estimativa para 2023, de 3,36% para 3,4%. No ano que vem, a meta de inflação é de 3,25%, com a mesma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Em entrevista à Rádio Viva, do Espírito Santo, o chefe do Executivo federal reconheceu que o desemprego e a inflação são problemas. Ele voltou a responsabilizar as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos para conter a disseminação da covid-19, mas afirmou que inflação irá arrefecer em 2022.

Conforme mostrou o UOL Confere em outubro, o isolamento não é a causa da alta nos preços e ajudaria a acelerar a recuperação da economia se tivesse sido bem feito, segundo economistas. "Vamos continuar lutando contra o desemprego, pode ter certeza que a inflação vai baixar neste ano", prometeu Bolsonaro, que deve concorrer à reeleição.

Causas da inflação

Os preços subiram mais no Brasil em especial por causa da desvalorização do real e da queda de investimento estrangeiro. Estes fatores têm relação com o ambiente político do país — o que inclui incertezas geradas pelo governo, como mostrou reportagem do UOL. Também entram na conta problemas como a alta nos combustíveis, a crise hídrica com o aumento na conta de luz e questões climáticas que afetaram a agricultura.

O resultado da inflação de 2021 foi influenciado principalmente pelo grupo de transportes, que apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19 pontos percentuais) no IPCA. O Brasil não teve uma política de isolamento social coordenada pelo governo federal. Ao longo da pandemia, o presidente atacou as medidas de isolamento — comprovadamente eficazes para a contenção da circulação do novo coronavírus — e repetiu a mentira de que o STF (Supremo Tribunal Federal) o impediu de agir no combate à covid.

Coube aos estados e municípios estabelecer regras próprias, e poucos locais no Brasil aderiram ao lockdown (isolamento total). A maioria dos estados optou pelo isolamento parcial, fechando comércio e serviços em horários ou dias específicos para diminuir a circulação de pessoas. Bares e restaurantes foram fechados, lugares públicos tiveram entrada controlada e aulas foram suspensas, mas raramente houve restrição à circulação nas ruas. O Banco Central atribuiu à pandemia — e, mais especificamente, seus efeitos sobre os preços das matérias-primas (commodities) — e à crise hídrica a culpa pela inflação de 10,06%.

'Reforma trabalhista não retirou direitos'

Durante a entrevista, Bolsonaro também defendeu a reforma trabalhista feita no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) e disse que as pessoas que afirmam que ela retirou direitos dos trabalhadores mentem.

A fala de Bolsonaro ocorreu em meio às manifestações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu provável adversário na corrida presidencial, sobre o assunto.

No início do mês, o petista afirmou que os brasileiros deveriam "acompanhar de perto" o que está acontecendo com a reforma trabalhista na Espanha. No país europeu, governo, sindicatos de trabalhadores e empresários fizeram um acordo para revisar alterações nos direitos dos trabalhadores feitas em 2012. Agora, haverá regras mais rígidas para as terceirizações, por exemplo.

No Brasil, a reforma trabalhista foi sancionada em 2017 por Temer. O texto modificou regras sobre férias, jornada de trabalho e contribuição sindical, dentre outros pontos. Foram alterados 117 artigos da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), a maior mudança desde a sua criação. À época, um dos principais argumentos do governo Temer era de que a reforma facilitaria contratações: a promessa era de geração de até dois milhões de vagas em dois anos, e seis milhões em dez anos.

Em 2020, o próprio ex-presidente Temer admitiu que as projeções eram exageradas.

Desde a reforma trabalhista, a taxa de desemprego não caiu de forma expressiva, mostram dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ao contrário: mesmo antes da pandemia, a taxa havia subido.

Com Reuters