BC culpa pandemia e crise hídrica por inflação acima da meta em 2021
O Banco Central atribuiu à pandemia — e, mais especificamente, seus efeitos sobre os preços das matérias-primas (commodities) — e à crise hídrica a culpa pela inflação de 10,06% acumulada em 2021. O índice ficou bem acima do centro da meta estabelecida pelo BC para o ano, de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos — ou seja, podendo variar entre 2,25% e 5,25%.
As justificativas foram enviadas hoje ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao CMN (Conselho Monetário Nacional). Toda vez que a inflação fica acima da meta definida para um ano, o presidente do BC — desta vez, Roberto Campos Neto — é obrigado a prestar esclarecimentos.
"Os principais fatores que levaram a inflação em 2021 a ultrapassar o limite superior de tolerância foram os seguintes: 1) forte elevação dos preços de bens transacionáveis em moeda local, em especial os preços de commodities; 2) bandeira de energia elétrica de escassez hídrica; e 3) desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos, e gargalos nas cadeias produtivas globais", explicou o BC, em carta.
A autarquia ainda acrescentou que a inflação alta em 2021 foi um "fenômeno global", impulsionado pela pandemia, que atingiu "a maioria dos países avançados e emergentes". Como exemplo, o BC citou a normalização das atividades no setor de serviços, impactado pelas políticas de quarentena e lockdown (confinamento total), necessárias para o combate à disseminação da covid-19.
"A inflação de serviços foi particularmente afetada pela pandemia da covid-19, refletindo em boa medida a evolução do distanciamento social", justificou. "À medida que o distanciamento social se reduziu, impulsionado pelo significativo progresso na vacinação contra a covid-19, a reativação do setor de serviços levou a um realinhamento dos preços, implicando aceleração da inflação".
As pressões sobre os preços de commodities e nas cadeias produtivas globais refletem as mudanças no padrão de consumo causadas pela pandemia, com parcela proporcionalmente maior da demanda direcionada para bens. (...) De fato, a aceleração significativa da inflação em 2021 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global, atingindo a maioria dos países avançados e emergentes.
Banco Central, ao explicar inflação acima da meta
Esta foi a sexta vez desde a criação do sistema de metas para a inflação, em 1999, que um presidente do BC teve que justificar seu descumprimento. Mas na última vez que isso aconteceu, em 2017, a carta explicou por que a inflação (2,95%) terminou o ano abaixo do piso da meta (3%), e não acima. Na ocasião, o presidente do Banco Central era Ilan Goldfajn, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Combustíveis e conta de luz
O resultado da inflação de 2021 foi influenciado principalmente pelo grupo de transportes, que apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19 pontos percentuais) no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial do país.
Segundo o gerente do IPCA, Pedro Kislanov, a categoria foi muito afetada pelo preço dos combustíveis. "Com os sucessivos reajustes nas bombas, a gasolina acumulou alta de 47,49% em 2021. Já o etanol subiu 62,23%, e foi influenciado também pela produção de açúcar", explicou.
Também contribuiu para a inflação alta o grupo habitação (13,05%), cujo salto foi puxado pelo aumento no preço da energia elétrica (21,21%), de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desde setembro de 2021, está em vigor a bandeira tarifária de escassez hídrica, citada pelo BC na carta, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos.
Inicialmente, a bandeira escassez hídrica deve vigorar até abril de 2022.
"O fraco regime de chuvas levou ao acionamento de termoelétricas e de outras fontes de energia de custo mais elevado durante a segunda metade de 2021, resultando em aumento expressivo das tarifas de energia elétrica", justificou o BC. "Em setembro, foi acionada a bandeira de escassez hídrica, o que causou aumento de 49,6% sobre a bandeira anterior e de 5,8% sobre a tarifa de energia elétrica ante o mês anterior."
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