Novos sócios de plano da Amil querem limpar imagem e prometem investir
Os novos controladores que planejam assumir a gestão da APS (Assistência Personalizada à Saúde), operadora de saúde responsável pelos planos individuais da Amil, dizem que querem mudar a imagem da empresa. A reputação do plano ficou abalada após reclamações de clientes, como dificuldade em marcar consultas, descredenciamentos de hospitais, laboratórios e médicos.
O UOL entrevistou Henning von Koss e Claudio Seferin, dois executivos envolvidos na transação. Eles prometeram investir mais de R$ 2 bilhões no plano e criar um atendimento virtual com médicos 24 horas à disposição dos clientes. Falam até em eventual lançamento de ações na Bolsa para captar recursos.
Negócio suspenso
A APS e a Amil pertencem ao mesmo grupo norte-americano UHG (Grupo United Health Brasil). A APS seria repassada para um grupo de três sócios, mas o negócio foi suspenso pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). O acordo prevê um aporte de R$ 2,34 bilhões da Amil na APS.
A sociedade é composta pelas empresas Fiord Capital, gestora de investimentos fundada pelo empresário sérvio Nikola Lukic; Seferin & Coelho, empresa com investimentos em saúde privada e dona da rede de hospitais e clínicas Life Plus; e Henning von Koss, ex-diretor de empresas do setor, como a própria Amil, Hapvida e Medial.
Na proposta de composição de capital, Fiord e Seferin e Coelho detêm 45% de participação cada uma. Koss fica com uma fatia de 10%.
Caso a ANS se posicione favorável à negociação, a APS irá se dedicar exclusivamente à venda e gestão de planos de saúde individuais e familiares.
Promessa de manter a rede de atendimento
Segundo os futuros novos sócios, um dos primeiros passos será colocar em prática um plano de gerenciamento de crise para melhorar a reputação da empresa.
Inúmeras reclamações de clientes da Amil, com ênfase para o descredenciamento da rede contratada e dificuldade no agendamento de exames, têm sido feitas desde que a operadora passou a gerir 337 mil clientes em janeiro deste ano — além dos 4.000 da própria APS.
Koss diz que, a rede de hospitais, laboratórios e especialistas credenciados passada da Amil para a APS será mantida pelos próximos cinco anos. Mas os clientes reclamam das trocas na rede já feitas antes de o negócio ser concretizado.
"Nós olhamos com preocupação, estamos incomodados com isso. Vamos procurar entender a situação e regularizar, porque isso não pode acontecer", diz o executivo.
Gestão da APS terá apoio da Amil por até 12 meses
A APS diz que. durante seis meses, a Amil será contratada para fazer dua gestão operacional. Esse trabalho pode ser mais estendido por mais seis meses.
"Nós queremos que isso seja o mais rápido possível, mas tem que ser o mais seguro e estável também", afirma Claudio Seferin, fundador da Seferin & Coelho ao lado de Daniel Coelho.
Do total do aporte prometido de R$ 2,34 bilhões, o grupo terá cerca de R$ 1,1 bilhão em reserva técnica obrigatória, isto é, recursos que serão usados para garantir atendimento e assistência aos clientes. O restante do valor em caixa será utilizado para investimentos, diz a empresa.
Sob seu comando, Seferin afirma que a APS irá dobrar em dois anos o número de beneficiários. Hoje são mais de 340 mil clientes espalhados por São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Sem revelar detalhes, ele diz que a venda de planos deve ter início em agosto deste ano.
O empresário declara que o grupo já iniciou uma análise da carteira de beneficiários vindos da Amil a fim de entender as especificidades de cada cliente.
Atendimento virtual 24 horas
Para alcançar o crescimento almejado, a empresa irá trazer a força operacional para um escritório na região da avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, polo empresarial localizado na zona sul de São Paulo. A APS está sediada na cidade de Jundiaí, a 55 km de São Paulo.
Um dos planos anunciados pelo empresário é colocar à disposição do beneficiário um call center com médicos disponíveis 24 horas por dia. Para ele, essa proposição ajudaria seu cliente a ser mais bem orientado antes de ir a um hospital.
"Nós acreditamos que possa ser mais um atrativo para oferecermos os planos individuais", diz Seferin.
Lançamento de ações na Bolsa
Em uma segunda etapa, o consórcio pretende captar recursos para fazer mais investimentos. A abertura de um IPO (oferta pública inicial, em português, com abertura do capital em Bolsa de Valores) seria uma possibilidade.
"Primeiramente, precisamos colocar a nossa operação em funcionamento, recuperando a credibilidade dos beneficiários ao longo de 2022. Nesse projeto de expansão, que talvez envolva novas unidades assistenciais hospitalares ou o crescimento da carteira, vamos buscar recursos do mercado", avalia Seferin.
"A grande beleza desse projeto é que temos uma plataforma forte para poder construir e crescer. É diferente de começar do zero", diz Koss.
ANS interrompe negociação
Entretanto, as pretensões permanecem apenas no papel. Em 8 de fevereiro, a ANS suspendeu a venda da APS por entender que o grupo não deu respostas satisfatórias a respeito da capacidade financeira dos novos controladores para garantir a sustentabilidade do negócio. Ao todo, a agência reguladora formulou 23 exigências aos empresários.
A Amil e a APS foram informadas da decisão em 15 de fevereiro e têm 30 dias para responder a todos os questionamentos. As empresas podem ser multadas em R$ 100 mil por dia em caso de atraso.
"Nossa maior preocupação é com o consumidor. Não pode haver, em hipótese alguma, a interrupção da prestação de assistência aos beneficiários da carteira da APS, principalmente aos que estejam em regime de internação hospitalar ou em tratamento continuado", afirma o diretor-presidente da ANS, Paulo Rebello.
Advogados olham venda com cautela
O advogado Fernando Sotto Maior aponta que os consumidores devem ficar atentos a qualquer movimentação relacionada à transferência da APS.
"O mercado de saúde é sensível e a operação chama atenção pelo número de beneficiários e pessoas atingidas. Portanto, toda cautela é necessária neste momento."
Da mesma forma, o advogado Kalhil Kalume reforça que os beneficiários têm de conferir se a rede credenciada permanece a mesma. Se uma unidade for desligada, o convênio obrigatoriamente precisa substitui-la por uma equivalente, ou seja, com os mesmos serviços.
Ele afirma que o usuário que se sentir lesado pode entrar com ação no judiciário para reaver os hospitais e laboratórios desligados.
"Outra dica importante é guardar sempre uma cópia do seu contrato e o histórico de reembolsos. Se a nova operadora fizer uma alteração abrupta na sua política de reembolso, você terá condições de lutar pelo seu direito."
Para Henning von Koss, a ANS tem interesse em "acelerar ao máximo" a decisão para não criar mais dúvidas nos beneficiários. "O problema é lidar com a incerteza. Entendemos que o medo exista".
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