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Rainha dos Reboques foi de 'forasteira' ao luxo antes de operação policial

Do UOL, em São Paulo

09/06/2022 04h00Atualizada em 09/06/2022 08h33

Priscila Karla Pereira dos Santos, 37, afirma que saiu "de jegue" do interior do Espírito Santo, onde acumulou uma dívida de mais de R$ 1 milhão, para se tornar a "Rainha dos Reboques" no Rio de Janeiro, conforme conta em vídeos nas redes sociais. Ela virou alvo de operação com oito mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Civil carioca, após sua empresa ter supostamente obtido vantagens ilícitas a partir dos serviços prestados, como vender carros em leilões e não os entregar aos vencedores.

Empreendedora desde os 18 anos, a capixaba já se disse vítima de homens que estão há mais tempo no ramo, se definindo como uma "forasteira" que sofreu "muitas ameaças" de concorrentes.

"O meu ramo é totalmente masculino, eu sou a forasteira da história. A que veio de jegue do Espírito Santo e caiu de paraquedas em um meio que já existia. Por isso, sofri tantas ameaças, tantas dificuldades durante todo esse tempo. De dezembro pra cá, isso ficou muito ruim, porque esse contrato que eu tenho sofreu um desequilíbrio econômico muito grande, mas ainda assim continuei, venho continuando, não parei as operações, como disseram", disse Priscila, em um vídeo no início do ano, no Instagram.

Na gravação, ela fazia a primeira de muitas publicações sobre o descumprimento de um contrato entre ela e o estado do Rio de Janeiro. A empresa da capixaba, a Rebocar Remoção e Guarda de Veículos Eireli, ganhou uma licitação pública em 2019 que previa a realização de serviços de reboque, guarda e leilão de veículos no Rio, Niterói e São Gonçalo.

A polícia agora apura a falta de repasse de valores dos veículos leiloados para o governo estadual e a não entrega de carros arrematados em leilão.

Além de empresária, Priscila também é conhecida como influenciadora digital, por mostrar seu estilo de vida luxuoso e publicar vídeos com conselhos de vida e expondo sua opinião sobre assuntos diversos, que vão de temas pessoais, como autoconfiança e espiritualidade, até assuntos gerais, como relacionamentos homoafetivos.

De distribuidora de bebidas aos reboques

Em uma gravação sobre sua trajetória, a capixaba contou que teve seu primeiro trabalho em uma autoescola de Aracruz, cidade de 100 mil habitantes no interior do Espírito Santo, quanto tinha 16 anos.

Pouco depois, "ainda muito nova", ela se casou com um homem três anos mais velho. Juntos, eles começaram um primeiro negócio.

"Montei com meu ex-marido uma distribuidora de bebidas, aprendi muito com a família dele, com o irmão dele e minha ex-cunhada, que trabalhavam lá também. Fomos aprendendo e amadurecendo juntos, entendendo a responsabilidade de ter uma empresa", afirmou. "Então não é como alguns dizem, que acham que foi da noite pro dia ou que alguém me deu de presente. Não, muitos anos de luta e glória, muito cair e levantar".

Após algum tempo, os dois decidiram seguir novos rumos profissionais. Priscila trabalhou em uma empresa "de grande porte, em nível Brasil" e depois tentou voltar ao mundo do empreendedorismo, abrindo uma loja, ainda no Espírito Santo. Já com dois filhos pequenos, ela acabou abandonando a ideia para se dedicar à família.

Não demorou muito até que ela voltasse a explorar seu lado de empresária, fechando um contrato com o Detran do Espírito Santo, na época em que não eram necessárias licitações.

Depois que o processo burocrático para prestar serviços para o estado mudou, "em uma fase financeira ruim, pós-divórcio", Priscila decidiu ir para o Rio, em busca de um volume maior de trabalho e de voltar a trabalhar "com aquilo que sempre fez e gostou de fazer, que é pátio e reboque".

"Os momentos ruins existem para aproveitarmos os bons. Quando saí do Espírito Santo, minhas dívidas somavam quase R$ 1 milhão, mas eu não desisti. Sou a maior empresária de reboques do Sudeste, a maior empresa do estado do Rio e atuo em todo o estado", comemorou a empresária em uma postagem de 2020.

Saída de uma juventude humilde, Priscila mostra um estilo de vida luxuoso em suas redes sociais. Em um de seus posts, ela ostentou uma viagem à Tulum, no México, com direito a roupas de banho da grife Dior. Em outro, ela posou nos bastidores de sua festa de aniversário com a atração musical contratada para a noite, a cantora Ludmilla.

"Gente, olha só, eu jamais, na minha vida inteira, saindo do interior do Espírito Santo, ia imaginar um dia ter essa presença ilustre no meu aniversário, na minha casa. Eu sempre fui fã dessa maravilhosa, a vida inteira. Mais uma mulher negra, forte. Não desistam nunca dos sonhos de vocês", comemorou a empresária em um vídeo com a estrela, que disse que já conhecia a "Rainha dos Reboques" por seu perfil no Instagram, com mais de 400 mil seguidores.

Entre as fotos em cenários paradisíacos e ensaios com roupas grifadas, a empresária também não deixa de expor ações como a criação de postos de doação para as vítimas das chuvas em Petrópolis, em fevereiro, e a participação em um mutirão de entrega de marmitas para pessoas em situação de rua, no Rio.

"Muitos nos chamam de loucos por ajudar o próximo. Só quem faz isso são os loucos. Pessoas normais têm coisas mais interessantes a fazer com suas vidas medíocres e egoístas. Obrigada, meu Deus, por nos capacitar cada dia mais para conseguir ajudar o próximo", escreveu ela, ao postar um vídeo que mostrava da preparação para a entrega da comida.

Empresária admitiu dívidas, mas culpou poder público

Nas redes, Priscila admitiu que tem dívidas trabalhistas e com o Detro (Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro), mas afirmou que atrasou os pagamentos porque o contrato com o poder público previa uma demanda estrutural muito maior que a realmente exigida, já que a pandemia mudou temporariamente as regras de apreensão de veículos e reduziu o trabalho da empresária para 10% do esperado.

Além disso, ela atribuiu ao Detro a responsabilidade pelos veículos leiloados não entregues, afirmando que o Departamento não deu a autorização necessária para o fim dos trâmites. Na nota publicada virtualmente, a empresária afirmou que havia retomado o diálogo com o órgão e que os carros seriam direcionados aos novos donos assim que as autoridades enviassem uma "relação" das pendências.