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Pedro Guimarães foi indicado por Guedes e virou aliado próximo de Bolsonaro

Presidente da Caixa, Pedro Guimarães - Isac Nóbrega/Presidência da República
Presidente da Caixa, Pedro Guimarães Imagem: Isac Nóbrega/Presidência da República

Do UOL, em São Paulo

29/06/2022 09h41Atualizada em 29/06/2022 14h21

Conhecido como um dos personagens que mais se aproximou do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos anos, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Duarte Guimarães, voltou a ficar sob holofotes após ser alvo de denúncias de assédio sexual a funcionárias durante viagens e eventos.

Segundo relatos feitos por funcionárias do banco estatal ao site Metrópoles, elas passaram por situações que envolveram toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis à relação de trabalho. As denúncias resultaram na abertura de uma investigação pelo MPF (Ministério Público Federal). Em sua defesa, Guimarães disse hoje, durante evento da Caixa, que tem "uma vida pautada pela ética".

Especialista em privatizações, Guimarães assumiu o comando da Caixa em janeiro de 2019 após ser indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda no início da gestão Bolsonaro. Desde então, o presidente do banco estatal se afastou do chefe da pasta e virou um dos nomes mais próximos de Bolsonaro.

Casado com Manuella Guimarães, filha do delator da Lava Jato Léo Pinheiro, o presidente da Caixa tem 57 anos, sendo pai de dois filhos pequenos. Ele se graduou em Economia na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), em 1992, e possui três cursos em nível de mestrado, sendo um na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. Antes de assumir a Caixa, passou pelos bancos BTG Pactual e Plural.

Em abril, Guimarães disse que se mudaria para a África caso Bolsonaro não seja reeleito este ano, mostrou a coluna de Bela Megale, do jornal O Globo. De acordo com a colunista, a fala teria ocorrido durante um jantar promovido pelo grupo Esfera Brasil.

No fim do ano passado, Guimarães já havia sido alvo de polêmicas por ter colocado funcionários para fazer flexões durante um evento de fim de ano para gestores da instituição. Na ocasião, no palco e na plateia, diretores e vice-presidentes da Caixa fizeram os movimentos em dois momentos, sob contagem do chefe.

Auxílio emergencial deu holofote a Guimarães

Antes considerado como uma figura mais discreta, Guimarães foi alçado ao centro das atenções principalmente após o início da pandemia da covid-19, que fez o governo federal criar medidas de socorro financeiro à população. A mais conhecida delas foi o auxílio emergencial, benefício pago pelo governo, por meio da Caixa, durante a emergência sanitária, e que, em diversas situações, fez Guimarães se tornar peça central em anúncios e entrevistas coletivas do governo sobre o auxílio.

Esse comportamento de Guimarães resultou em uma ação apresentada pelo Sindicato dos Bancários de Brasília e a Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro Norte acusando o presidente do banco de uso de recursos da Caixa para promoção política pessoal e propaganda eleitoral, além de indícios de tráfico de influência.

A denúncia citou, por exemplo, viagens realizadas por Guimarães por meio da estrutura do banco e a veiculação de fotos destas agendas em meios oficiais de divulgação da Caixa. Em muitos desses eventos, ele estava ao lado de Bolsonaro.

Inicialmente essa ação foi apresentada ao TCU (Tribunal de Contas da União), mas, depois, foi reencaminhada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e, em outubro passado, chegou ao MPE (Ministério Público Eleitoral) após os ministros da Corte Eleitoral entenderem que houve evidências de possível campanha política antecipada. À época, Guimarães colocou em prática uma agenda positiva para tentar se viabilizar como vice de Bolsonaro, segundo informações da Folha de S.Paulo.

Em entrevista à revista Veja naquele mês, porém, ele disse que não seria candidato a nenhum cargo público nas eleições deste ano e comentou a relação que tem com Bolsonaro.

"Não sou político. Eu queria deixar isso muito claro: meu foco único e exclusivo é a Caixa Econômica Federal. A gente não discute outra alternativa. A única conversa que tenho com o presidente da República é sobre a Caixa porque a Caixa já é um desafio gigantesco", afirmou.

Cogitado em ministérios

Em março deste ano, o presidente do banco chegou a ser cotado para assumir o cargo do ex-ministro Rogério Marinho, que deixou o comando da pasta do Desenvolvimento Regional para concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Norte. Além disso, Guimarães também foi cogitado como substituto de Paulo Guedes em momentos de crise na pasta de seu padrinho no governo, de acordo com a Folha.

"Eu não controlo o que as pessoas falam. Mas não tenho diferenças com o ministro Paulo Guedes. Do ponto de vista objetivo, sou presidente da Caixa com muito orgulho — e essa é a minha missão no governo", disse Guimarães à Veja ao comentar esses rumores.

Governo Bolsonaro é 'injustiçado'

Nessa mesma entrevista à revista, o presidente da Caixa também afirmou que o governo Bolsonaro é "injustiçado". "Há uma injustiça com o governo. Nós estamos concluindo obras que estavam paradas há muitos anos", afirmou Guimarães ao sobre a gestão do chefe do Executivo ser considerado ruim por mais de metade dos brasileiros.

Com dezenas de transmissões ao vivo e viagens ao lado de Bolsonaro, Guimarães justificou suas visitas dizendo que "há um mundo onde a economia e a parte social dependem da presença da Caixa". "Sou carioca e morei quinze anos em São Paulo. Então aquela lotérica a que eu ia num shopping, na Faria Lima, não tem nada a ver com a lotérica no interior do Acre e Rondônia, na tríplice fronteira. Esse foi um dos motivos de eu viajar o Brasil inteiro, porque era óbvia a questão social da Caixa", disse.

Frases polêmicas

Como outros aliados de Bolsonaro, Guimarães já foi autor de frases controversas. Em abril de 2020, o presidente da Caixa se referiu ao auxílio emergencial como "molezinha": "A gente tem evitar o cara que tá que quebrado, que já estava quebrado antes, e quer a nossa molezinha".

Também nessa mesma reunião ministerial, ele falou que pegaria em armas se algum familiar fosse detida por furar o isolamento imposto para conter a transmissão da covid-19. "Eu ia morrer. Se a minha filha fosse para o camburão, eu ia matar ou morrer", afirmou.