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Busca por roupas e outros itens de 2ª mão cresce 572% no Google na pandemia

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Pedro Leite Knoth

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/08/2022 04h00

Durante a pandemia, a crise econômica e a inflação levaram o brasileiro a se interessar cada vez mais por itens de segunda mão, como roupas, calçados e acessórios usados. Segundo dados da ferramenta de buscas do Google, as pesquisas por peças de segunda mão cresceram 572% no Brasil entre os primeiros semestres de 2019 e de 2022.

Alguns clientes dizem buscar não só economia, mas também a sustentabilidade, consumindo menos recursos naturais e reaproveitando o que ainda está bom.

O que diz a pesquisa do Google? Os dados do Google mostram que o brasileiro está renovando o guarda-roupa à medida que os eventos presenciais retornam.

A partir de uma pesquisa da empresa, cerca de metade dos entrevistados declarou que suas roupas mudaram de tamanho na pandemia —ficaram ou pequenas ou grandes demais.

"As pessoas estão voltando a casamentos, shows, festas, mas elas não querem gastar tanto com uma roupa formal", afirma Carolina Soares, líder de insights para Moda & Beleza do Google Brasil.

Quantos compraram itens usados? Entre 2019 e 2022, o brasileiro mudou seu hábito de consumo na moda. Uma pesquisa do Google Survey avaliou que 44% disseram ter comprado pelo menos um item usado nas categorias de Moda e Beleza nos últimos meses.

A pandemia foi apontada como um fator importante para 51% dos entrevistados desenvolverem uma consciência em torno da economia circular, o que inclui o uso de uma mesma peça de roupa por mais pessoas.

O Google também concluiu que a sustentabilidade é um fator de peso: pesquisas por refis de produtos de beleza cresceram 62% no mesmo período.

Carolina Soares cita que o consumidor no Brasil está cada vez mais intencional e buscando controlar cada etapa de sua jornada de compra. Ela explica que, na pandemia, milhões de clientes experimentaram pela primeira vez uma roupa usada, ou fizeram sua primeira compra em um brechó. "Depois da primeira vez, virou um hábito do consumidor comprar itens de segunda mão", diz.

Consumo com menos desperdício: Durante os lockdowns, Rosneide Anulino de Oliveira começou a pesquisar na internet sobre sustentabilidade. A consumidora, que sempre gostou de moda, repensou a forma como se vestia e abandonou as roupas novas pelos itens de segunda mão.

Para ela, a indústria da moda gera muitos resíduos; reciclar o guarda-roupa é mais importante. "Hoje compro roupas usadas até para o meu filho, porque sempre penso no tipo de mundo que eu quero deixar para ele", afirma Rosneide.

Antes da pandemia, um dos principais problemas dos brechós era a falta de mais tamanhos de roupa além do pequeno e do médio. Agora, mais marcas estão oferecendo mais modelos de itens plus size. É uma evolução grande para Rosneide, o que a motiva a continuar comprando roupas usadas.

Brechós online facilitaram busca: O Google vê o boom do varejo digital como uma herança da pandemia que veio para ficar de vez.

Para Carolina Soares, o consumidor mais cauteloso com preços tem mais facilidade no mundo online para garimpar itens de segunda mão. Mesmo que o cliente compre em loja, primeiro ele faz a busca online.

Aumenta número de brechós: Um relatório do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) com base em dados da Receita Federal aponta que o número de lojas que vendem produtos de segunda mão teve um aumento de 48,5% no primeiro semestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020.

Grandes redes de moda fazem parcerias com brechós: A C&A incluiu em uma de suas lojas físicas um quiosque da DaZ Roupas, uma rede paulista de brechós.

Os clientes poderão vender suas roupas e ganhar créditos a serem gastos com produtos dentro da rede. A parceria permite que o consumidor aumente o poder de compra enquanto se desfaz de roupas que já não usa mais.

Economia com estilo próprio: A compra de roupas de segunda mão pode ser mais barata e sustentável, mas isso não quer dizer que a pessoa deva abrir mão do estilo pessoal ou do look diferentão. A partir desse ponto de vista, Juliana Santos, fisioterapeuta, procura vestidos, calças e blusas que se destacam do resto do catálogo, geralmente com estampas, bordados ou cores vibrantes.

Juliana começou a comprar mais roupas de segunda mão durante a pandemia porque o preço em brecho é muito mais acessível. Diz que faz dois anos que não frequenta lojas de moda ou grife de luxo.

Isabel Stasi, psicóloga, também se esforça para poupar dinheiro, garimpando ofertas em brechós, sites e marketplaces. "É entrar em algum lugar sem saber o que você vai comprar e, no meio de várias, ter uma que você ama", declarou.

Publicitária e cofundadora da DaZ, Julia Wolff compra roupas de brechó desde a primeira vez em que saiu de casa com alguns reais no bolso.

Ela é frequentadora assídua de bazares e criou a empresa com a irmã depois de vender as primeiras roupas para funcionárias de uma agência de eventos onde trabalhava.

Mesmo sem o apoio de investidores, as irmãs abriram duas lojas na zona oeste de São Paulo e, neste ano, a expectativa de Julia é dobrar o faturamento em relação ao do ano passado.

"Hoje meu armário é 90% de itens de segunda mão. Tenho prática de comprar em outros brechós porque, para mim, é uma parte prazerosa e sentimental do meu trabalho e da minha vida."