Quem são e o que fazem os empresários bolsonaristas que defenderam golpe
Coco Bambu, shopping Barra World, no Rio de Janeiro, e Mormaii são algumas das marcas pertencentes aos empresários que defendem um golpe de Estado caso o presidente Jair Bolsonaro seja derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro, de acordo com reportagem do colunista Guilherme Amado, do site Metrópoles. As declarações teriam sido enviadas em um grupo de WhatsApp chamado "Empresários & Política", criado em 2021.
Nesta terça (23), a PF (Polícia Federal) faz uma operação contra os empresários, cumprindo mandados de busca e apreensão. As buscas estão sendo feitas em endereços de oito empresários em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará.
Dos executivos que participam do grupo, quatro defenderam e/ou apoiaram posicionamentos favoráveis a um golpe, segundo o site:
- José Koury, dono do shopping Barra World
- Marco Aurélio Raymundo ("Morongo"), dono da Mormaii
- Afrânio Barreira, dono do Coco Bambu
- André Tissot, da Sierra Móveis
A operação, no entanto, envolve oito empresários. Além dos quatro acima, os mandados são cumpridos nos endereços de Luciano Hang, da Havan; José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan; Ivan Wrobel, da Construtora W3; e Meyer Nigri, da Tecnisa.
Veja abaixo quem são os empresários citados pelo Metrópoles:
José Koury, do Barra World Shopping
Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo."
José Koury é dono do Barra World Shopping, localizado no Recreio dos Bandeirantes, um bairro nobre da zona oeste do Rio de Janeiro, perto da Barra da Tijuca.
Segundo a Riotur, empresa de turismo da capital fluminense, "é o primeiro shopping temático do mundo que reproduz a arquitetura e os principais monumentos de vários países", como a Torre Eiffel, de Paris e o Big Ben, de Londres.
O shopping tem 400 lojas, praça de alimentação, arena de Air Soft, escola e clube de tiro e um campus da Universidade Estácio.
Afrânio Barreira, do Coco Bambu
Respondeu à mensagem de José Koury com a figurinha de um rapaz aplaudindo.
Afrânio Barreira Filho é fundador da rede de restaurantes Coco Bambu, conhecido pelos pratos com frutos do mar.
Engenheiro civil por formação, Barreira começou no ramo de alimentação em 1989, com a inauguração do Dom Pastel, em Fortaleza. A unidade serviu de inspiração para a criação do primeiro restaurante Coco Bambu, em 2001, também na capital cearense. Hoje, de acordo com o site da empresa, já são 64 lojas em todo o Brasil.
No ano passado, o Grupo Coco Bambu teve faturamento de mais de R$ 1 bilhão.
Não é a primeira vez que Barreira se manifesta favoravelmente ao governo Bolsonaro. Em 2020, em meio à primeira onda de covid-19 no Brasil, o empresário fez coro à posição do presidente, defendendo o relaxamento das medidas de isolamento social, necessárias para conter a disseminação do vírus. Ele também disse ter usado hidroxicloroquina para se tratar da doença, ainda que naquele momento não houvesse comprovação de sua eficácia. Hoje, é sabido que o medicamento não funciona contra o coronavírus.
Mais recentemente, em maio deste ano, Barreira foi alvo de xingamentos por parte de Ciro Gomes (PDT), adversário de Bolsonaro nas eleições. Em entrevista a um canal do YouTube, Ciro chamou o empresário de "vagabundo" e "sonegador" de impostos. O Coco Bambu, por meio da sua assessoria, negou as acusações.
Marco Aurélio Raymundo (ou Morongo), da Mormaii
O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e, ao mesmo tempo, deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top, e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro. (...) Golpe foi soltar o presidiário! Golpe é o 'Supremo' agir fora da Constituição! Golpe é a velha mídia só falar m..."
Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, é médico pediatra formado pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e fundador da Mormaii, uma rede de lojas de roupas e artigos de surfe.
A empresa foi criada na década de 1970, quando Morongo se mudou de Porto Alegre para Garopaba (SC) com a mulher e seu primeiro filho. Com a dificuldade de surfar no mar gelado do litoral catarinense, o empresário teve a ideia de costurar para si mesmo uma roupa de neoprene. Começou assim seu negócio.
No início dos anos 2010, Morongo chegou a passar a fábrica para um amigo, mas depois voltou a ela. "Quando cheguei a certa idade, pensei em me retirar e permitir que outros seguissem o caminho. Mas tive que voltar, e trabalho tão forte quanto antes: descobri que o trabalho tem um lado terapêutico do qual não estava me dando conta", disse o empresário em entrevista à Forbes Brasil, em 2021.
Hoje, a Mormaii tem mais de 30 franquias, 15 estúdios fitness, 100 atletas — entre patrocinados e apoiados — e "dezenas de eventos realizados", de acordo com o site oficial da empresa. Em 2020, seu faturamento foi estimado em R$ 350 milhões pelo mercado.
André Tissot, da Sierra Móveis
O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais."
Luiz André Tissot, que vem de uma família com tradição na manufatura de artigos de madeira na Serra Gaúcha, é dono da Sierra Móveis, especializada em móveis de luxo. Fundada em 1990 em Gramado (RS), a empresa tem 72 lojas em todo o Brasil e está presente em mais oito países, incluindo Argentina, Chile, Paraguai e Peru.
Em agosto do ano passado, à Exame, o empresário disse projetar crescimento de 30% em 2021, impulsionado por uma maior preocupação das pessoas, em meio à quarentena e ao isolamento social, com o bem-estar dentro de casa. "A decoração de ambientes ganhou uma relevância única para clientes de todos os segmentos, sobretudo os de maior poder aquisitivo", analisou.
Para 2022, a empresa planejava abrir uma loja em Miami, nos Estados Unidos, e outra em Estoril, em Portugal.
Empresários respondem
O UOL tenta contato com os empresários para pedir posicionamento.
Ao Metrópoles, José Koury, do Barra World, negou que defenda um golpe, mas acrescentou em seguida que "talvez preferiria" a ruptura à volta de Lula à Presidência.
"Vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade. Não disse que defendo um golpe de Estado, e sim que talvez preferiria isso a uma volta do PT. Para mim, a volta do PT será um retrocesso enorme para a economia do país", declarou.
Já Afrânio Barreira, que respondeu à mensagem de Koury com uma figurinha de aplausos, disse desconhecer qualquer apoio a um golpe e que nunca se manifestou a favor de qualquer conduta que não seja democrática. Ele também defendeu que a democracia é "a chave para a construção de um Brasil melhor" e afirmou que valoriza o direito ao voto.
"Com frequência me manifesto com reações em 'emoticon' a alguma mensagem, sem necessariamente estar endossando seu teor, ou ter lido todo o seu conteúdo. São centenas de grupos, milhares de mensagens e publicações para serem lidas e respondidas todos os dias. Dito isto, ratifico que meu apoio é pelo processo eleitoral que começou neste mês de agosto", acrescentou o dono do Coco Bambu.
Marco Aurélio Raymundo (Morongo), da Mormaii, também negou que tenha apoiado um golpe de Estado. "Sem acesso ao conteúdo ou à matéria que referes, informo que não apoiei, não apoio e não apoiarei qualquer ato ilegítimo, ilegal ou violento, e destaco que uso de figuras de linguagem que não representam a conotação sugerida", respondeu ao Metrópoles.
A assessoria de imprensa da Sierra Móveis, por sua vez, informou que André Tissot está viajando e, por isso, não enviaria um posicionamento imediatamente.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.