É errado comparar gasolina no Brasil e na Inglaterra, como fez Bolsonaro?
O presidente Jair Bolsonaro (PL), que viajou ao Reino Unido para acompanhar o velório da rainha Elizabeth 2ª, compartilhou no domingo (18) um vídeo em que critica o preço da gasolina no país europeu. Bolsonaro, porém, errou ao converter os valores em libras para reais e fazer essa relação sem mencionar as diferenças de renda e do poder de compra em cada país.
A gravação tem cerca de 30 segundos (assista acima). Nela, Bolsonaro aparece em frente ao painel de preços de um posto de gasolina em Londres, Inglaterra, onde o litro do combustível custa 1,61 libra, segundo o presidente. "Praticamente o dobro da média de muitos estados no Brasil", diz, antes de exaltar o próprio governo.
Se convertido para reais (R$ 9,62), o preço da gasolina em Londres é, de fato, maior do que a média verificada no Brasil — R$ 4,97 na última semana, de acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). O problema é que essa comparação se trata de uma falsa simetria, uma vez que os londrinos não ganham em reais, e sim em libras, e pagam pelos combustíveis na moeda local.
Como a comparação deveria ser feita? Neste caso, o correto é fazer uma relação entre os preços verificados em cada país com algum indicador de renda, como o salário mínimo, por exemplo. Assim, é possível ter uma noção do quanto abastecer carro afeta o bolso de brasileiros e ingleses. Em economia, esse método de comparação é chamado de PPC (Paridade do Poder de Compra).
Hoje, o brasileiro gasta R$ 248,50, em média, para encher um tanque de 50 litros — capacidade da maioria dos carros de passeio. Esse valor corresponde a 20,5% do salário mínimo atual, que está em R$ 1.212.
Já o londrino gastaria 80,50 libras para abastecer o mesmo carro no posto em que Bolsonaro esteve, uma quantia equivalente a 5,3% do piso nacional local, que chega a 1.520 libras por mês (ou 9,50 libras por hora) para cidadãos acima de 23 anos. Os dados são do governo do Reino Unido.
Sem menção à guerra
No vídeo, Bolsonaro também não mencionou os impactos negativos da guerra entre Rússia e Ucrânia — que, embora também tenham afetado o Brasil, foram mais fortes na Europa, provocando alta generalizada de preços dos combustíveis e da energia.
Antes da invasão, a Rússia era responsável por 40% do gás utilizado em todo o continente europeu. Em meio ao conflito, esse fornecimento foi reduzido e, em alguns momentos, interrompido.
Não à toa, os europeus buscam alternativas para diminuir a dependência do gás russo nos próximos anos, independentemente do desfecho da guerra. Na Alemanha, por exemplo, já existem planos para a construção de um novo gasoduto para receber importações de outros países, como os Estados Unidos.
Corte no ICMS
O preço do litro da gasolina no Brasil, que chegou a ultrapassar os R$ 8 no primeiro semestre, começou a cair no fim de junho. A queda foi puxada pela isenção de impostos federais e pela adoção de um teto de 17% para o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que incide sobre o combustível. Esse limite, porém, só vale até dezembro deste ano.
Na semana em que o teto do ICMS foi aprovado, a gasolina comum custava R$ 7,23, em média, segundo a ANP. Hoje, é vendida por R$ 4,97 — uma redução de mais de 30%.
Essa queda ainda se intensificou com os cortes promovidos pela Petrobras no preço da gasolina nas distribuidoras, movimento que também acompanhou a cotação do petróleo no mercado internacional. A última redução, de R$ 0,25 por litro, foi anunciada pela empresa em 1º de setembro.
O que diz o governo
O UOL procurou a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) da Presidência para pedir um posicionamento e ainda aguarda retorno.
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