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Idosa forçada a transferir R$ 75 mil em banco luta para reaver dinheiro

Sequestro ocorreu dentro de agência bancária no bairro de Higienópolis  - Reprodução/Google Street View
Sequestro ocorreu dentro de agência bancária no bairro de Higienópolis Imagem: Reprodução/Google Street View

Do UOL, em São Paulo

23/09/2022 04h00Atualizada em 23/09/2022 07h40

Uma idosa de 72 anos foi sequestrada e obrigada a realizar uma transferência bancária de R$ 75 mil dentro de uma agência do Banco do Brasil em Higienópolis, região central de São Paulo. Segundo a filha da idosa, a vítima ficou cerca de três horas detida com dois homens. O caso ocorreu no dia 5 de julho e, até agora, a família não conseguiu recuperar o dinheiro perdido.

A abordagem aconteceu na esquina da casa da filha por volta das 10h, quando a vítima caminhava até uma feira próxima de casa. "Sempre orientei ela para não falar com pessoas na rua, já que ela é do interior e está desacostumada com a violência daqui. Nesse dia, ela disse que uma pessoa pediu informação sobre um endereço, ela contou que não era daqui e saiu andando. Só que a pessoa insistiu, falando que não sabia ler e, de repente, chegou um segundo homem", relata ao UOL a filha da vítima, que não quis se identificar.

Os homens começaram a questioná-la sobre o dinheiro que ela tinha no banco. "Eles sabiam quanto ela tinha na poupança e perguntavam se ela tinha mais, falando que queriam tudo. Eles também disseram que se ela não fizesse o que eles mandassem, mandariam buscar o neto dela".

De acordo com a filha, a mulher estava sem o cartão do banco no momento e foi orientada e retornar ao apartamento, e depois descer novamente para entrar no carro. "Eu tinha ido com o meu filho tomar vacina. Se eu estivesse aqui, teria percebido a reação dela", explica.

Os homens levaram ela até a agência do Banco do Brasil e, enquanto um aguardava no carro, o outro acompanhou a vítima até o caixa. "Ela disse que ele passou pela porta giratória. Ela foi até o funcionário, que não fez nenhum tipo de pergunta, entregou o papelzinho que eles deram com os dados bancários e transferiu todo o dinheiro que estava na poupança. Ela estava sob forte ameaça".

A filha informou que a vítima não costumava movimentar a conta em questão e que o dinheiro era essencial, pois ela não possui plano de saúde e guardava as economias para eventuais emergências.

Após a ação, a idosa foi deixada na avenida Paulista. "Ela não sabia onde estava. Perguntou para as pessoas na rua onde tinha uma agência do Banco do Brasil mais próxima e, de lá, me ligou dizendo que tinha sofrido sequestro. Eu fiquei desesperada".

Segundo a filha da vítima, a família estranhou a demora da idosa. "Teve um momento que, ao perceber que ela estava demorando para retornar, eu liguei para ela. Ela me atendeu, falando que estava na 'correria' dentro de uma loja e desligou. Eu comecei a ligar loucamente e ela me atendeu em uma videochamada, dizendo que estava tudo bem e que precisava desligar. Depois ela contou que, quando eu comecei a ligar, os homens orientaram ela a sair e avisar que estava tudo bem".

Família pediu interceptação do dinheiro

A família acionou a polícia e pediu para que o gerente do banco interceptasse o valor da transferência. No entanto, a filha informa que não foi possível reaver o dinheiro. "A gerente disse que ia tentar interceptar o valor que tinha sido transferido para uma conta no Banco Inter, mas já adiantava que o dinheiro não estaria lá porque quando acontece isso, eles já começam a transferir para outras contas".

A filha ainda informou que a gerente disse que crimes como esse "acontecem mais" do que se imagina. "A minha indignação foi que uma senhora de 72 anos, muito simples, vai até uma agência que não é dela e pede para transferir R$ 75 mil, que não é uma movimentação que ela costuma fazer e ninguém estranha? Eles simplesmente levaram o dinheiro todo. Não me perguntaram nada. Se você tá com uma arma na cabeça, você não vai digitar a senha?"

Segundo ela, a mãe ainda está muito abalada com o sequestro."Ela anda superpreocupada, nervosa. Eu percebo que ela está sofrendo com mais insônia, está mais chorosa. Ela gostava muito de passear com o meu filho e a cachorrinha, mas agora faz tudo com muito receio. É um trauma que eu não sei como tratar."

Ela ainda informou que, na conta da mãe, ainda restou R$ 5 mil, que foi transferido em parcelas para uma nova conta da família. "Eles falaram que não conseguiam transferir o valor todo porque a gerente bloqueou o cartão. Para transferir R$ 75 mil foi fácil, mas para transferir R$ 5 mil tá difícil?"

Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou que o caso é investigado pelo 4º Distrito Policial (Consolação). "A equipe da unidade já ouviu a vítima e analisa as imagens das câmeras da agência bancária. As diligências prosseguem visando à identificação da autoria."

Bancos se pronunciam

Procurado pelo UOL, o Banco Inter lamentou o ocorrido e informou que quando há a identificação de uma conta sendo utilizada para prática de golpes e fraudes, ela é encerrada de imediato.

"Nos casos em que há relatos de crime, o Inter orienta que os clientes acionem a instituição imediatamente após a ocorrência, para que as análises cabíveis sejam realizadas e procurem a instituição financeira em que a transação se originou para que as providências cabíveis sejam avaliadas", diz o comunicado.

O banco ainda informou que não pode dar detalhes sobre o caso mencionado, por questões de sigilo bancário, "mas que está à disposição para esclarecer as dúvidas do cliente", além de trabalhar "em cooperação com as autoridades e com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos)."

A instituição ainda informa que tem diversas medidas de segurança no aplicativo para garantir a integridade da conta digital e que "reforça o seu respeito com os clientes", estando à disposição nos canais de atendimento 24 horas.

Em nota, o Banco do Brasil afirmou que colabora com as investigações para a elucidação do caso e disse que analisa todas as contestações de movimentações financeiras não reconhecidas pelos clientes.

"O Banco cumpre com as exigências legais relativas a equipamentos e procedimentos de segurança prevista na legislação para agências bancárias", afirmou. O UOL questionou a instituição financeira sobre a fala da gerente do local, de que crimes do tipo ocorreriam com frequência em agências, mas o BB não se pronunciou sobre o assunto.