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4 pontos para entender o resultado do PIB do Brasil no 1º trimestre

Darlan Alvarenga

Do UOL, em São Paulo

01/06/2023 09h57

A economia brasileira cresceu 1,9% nos três primeiros meses do ano, na comparação com o trimestre imediatamente anterior. O resultado foi puxado, principalmente, pelo avanço de 21,6% da agropecuária, maior alta para o setor desde o quarto trimestre de 1996. Entenda abaixo a alta do PIB (Produto Interno Bruto) no 1º trimestre.

1. Economia volta a crescer

A alta vem após um recuo de 0,1% no 4º trimestre do ano passado, segundo dados revisados pelo IBGE. Foi o melhor resultado trimestral desde o 4º trimestre de 2020, quando a economia brasileira cresceu 3,4%. Foi também o melhor primeiro trimestre desde 2010 (2,2%).

Frente ao mesmo trimestre de 2022, o PIB cresceu 4%. No acumulado dos quatro últimos trimestres, o PIB subiu 3,3% ante os quatro trimestres imediatamente anteriores.

Em valores correntes, o PIB no primeiro trimestre totalizou R$ 2,6 trilhões.

2. Avanço puxado pelo agro

O resultado do PIB foi puxado pelo "Pibão" da agropecuária (21,6%). O setor tem peso de aproximadamente 8% na economia do país. O setor de serviços, que possui o maior peso na economia brasileira, cresceu 0,6%; a indústria teve queda de 0,1%.

Segundo o IBGE, resultado pode ser explicado pelo bom desempenho de produtos da lavoura com safra relevante no primeiro trimestre e pelo aumento da produtividade. A soja, principal cultivo, apresentou crescimento expressivo na produção anual, estimada em 24,7%. Com exceção do arroz (-7,5%), outras culturas relevantes nesse trimestre também tiveram bons ganhos anuais, como o milho (8,8%), o fumo (3%) e a mandioca (2,1%).

Estamos com previsão de safra recorde de soja, que representa aproximadamente 70% da lavoura no trimestre, com crescimento de mais de 24% de produção. A safra da soja é concentrada no primeiro semestre do ano. Ao compararmos o quarto trimestre de um ano ruim com um primeiro trimestre bom, observamos esse crescimento expressivo da agropecuária.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE

3. Consumo tem alta; investimentos caem

Pela ótica da despesa, o consumo das famílias cresceu 0,2%, em ritmo mais fraco que o registrado no trimestre anterior (0,4%). Especialistas apontam que o resultado foi sustentado pelo alívio da inflação e pelo impacto de medidas como aumento do salário mínimo e Bolsa Família mais robusto. O poder de compra das famílias, porém, segue pressionado pela inadimplência elevada, crédito caro e renda comprimida.

Já os investimentos tiveram queda de 3,4%. O resultado ocorre em um cenário de juros nas alturas e inadimplência das empresas em nível recorde. No setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram variação negativa de 0,4%, enquanto as importações de bens e serviços caíram 7,1% ante o quarto trimestre de 2022.

A taxa de investimento ficou em 17,7% do PIB, permanecendo abaixo do observado no mesmo período do ano anterior (18,4%). Já a taxa de poupança ficou em 18,1% no trimestre, ante 17,4% no mesmo período de 2022.

Este é o calcanhar de Aquiles da economia brasileira, mas em alguma medida era esperado: dificilmente os investimentos iriam deslanchar num início de governo.
André Perfeito, economista

4. Projeções para o PIB de 2023

Dados do 1º trimestre vieram melhores do que o esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de expansão de 1,3% sobre os três meses anteriores.

Mesmo com a expectativa de números mais fracos para o resto do ano, mercado tem revisado para cima as projeções para o PIB. A estimativa para o crescimento da economia brasileira em 2023 passou de 1,20% para 1,26%, segundo a última pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central. Já o governo trabalha com estimativa de avanço de 1,9% neste ano. O número, porém, é menor do que o esperado para a média de crescimento global e dos países emergentes.

Governo avaliou que o resultado eleva o viés positivo para a estimativa de crescimento no ano. "O início da flexibilização monetária e as reformas fiscal e tributária, somadas ainda às medidas para desburocratizar e agilizar emissões no mercado de capitais tendem a reduzir incertezas, propiciando o retorno do investimento. A desaceleração esperada para a economia global e as condições monetárias que devem seguir restritivas, no entanto, ainda preponderam no cenário de atividade esperado para 2023", disse, em nota, o Ministério da Fazenda.

Foi um bom início, mas há muito o que ponderar. Dificilmente a agricultura irá ajudar tanto nos próximos trimestres e o setor externo pode não ser tão generoso também. Cabe agora observar a evolução da renda com a inflação mais sob controle e ver se o empresariado volta a investir com a perspectiva de juros em (leve) queda.
André Perfeito, economista