Aspartame na mira: Quantas vezes a Coca-Cola já mudou sua receita secreta?

Uma eventual classificação do adoçante aspartame como "possivelmente cancerígeno" pode obrigar a Coca-Cola a mudar a receita de seu refrigerante sem açúcar. Mas não seria a primeira vez: em 2021, a empresa também fez adaptações na fórmula do produto para torná-lo mais parecido com a versão original. Relembre esta e outras mudanças feitas ao longo dos anos.

1903: "Descocainização"

Fórmula original da bebida levava coca, de onde vem a cocaína. Quando foi criada, em 1886, a receita tinha dois ingredientes conhecidos à época por suas supostas qualidades terapêuticas: a coca, planta da qual se extrai a cocaína, e a noz de cola.

Empresa começou a ser pressionada. Os efeitos da cocaína — legal à época — só se tornaram conhecidos no fim do século 19, como conta uma reportagem de 2001 da Folha de S.Paulo. A partir daí, a Coca-Cola passou a sofrer pressões para alterar a fórmula do refrigerante.

Receita passou por "descocainização". Em 1903, o então dono da Coca, Asa Candler, pediu ao químico alemão Louis Schaefer que produzisse um composto de coca totalmente livre de cocaína. Desde então, a companhia usa apenas um extrato de folhas de coca como aromatizante.

1982: Lançamento da Diet Coke

Primeira versão diet da Coca foi lançada nos anos 1980. Após dois anos de estudos e testes, a Coca lançou a Diet Coke em 1982. O projeto era "ultrassecreto", conhecido apenas por alguns executivos do alto escalão da empresa.

Ideia era arriscada, mas foi bem-sucedida. A princípio, a Coca temia que a Diet Coke afetasse as vendas de outro produto, o TaB, primeiro refrigerante diet da marca e líder nos Estados Unidos. Mas o risco valeu a pena: a Diet Coke era, segundo a empresa, o "produto certo na hora certa", beneficiada pelo "boom" nas vendas de refrigerantes diet verificado na época.

No Brasil, Diet Coke antecedeu Coca Light e Coca Zero. Empresa já teve a Coca Light, que foi lançada em 1997 e descontinuada em 2009, e a Coca Zero, vendida desde 2007 e hoje chamada de Coca Sem Açúcar.

1985: Fracasso da New Coke

Coca-Cola pensou em nova receita para impulsionar vendas. Em abril de 1985, a empresa lançou a New Coke, uma Coca-Cola com uma fórmula diferente da original. A ideia era impulsionar as vendas e aumentar a distância para a concorrência.

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Nova fórmula foi aprovada em testes. A empresa diz ter testado a receptividade da New Coke com cerca de 200 mil pessoas. O problema é que, embora a receita tenha agradado, os consumidores já haviam criado um "laço" com a Coca original e, por isso, não aceitaram bem a mudança na prática.

No fim, New Coke gerou uma enxurrada de reclamações. A nova receita foi alvo de muitos protestos, e a empresa recebeu "milhares de ligações de reclamação". Em junho, eram cerca de 1.500 telefonemas por dia — bem acima da média de 400 ligações registrada antes da New Coke.

Novidade não durou nem três meses. Atendendo às reivindicações, a Coca-Cola desistiu da New Coke e voltou a vender a fórmula original de seu refrigerante em julho de 1985 — 79 dias após o anúncio da nova receita.

2021: Mudança na Coca Zero

Empresa queria "unificar" marcas também no sabor. Em 2021, três anos depois de mudar o rótulo da Coca Sem Açúcar, a Coca-Cola também fez adaptações na receita para que a versão ficasse o mais parecida possível com a original.

Mudança não foi revelada, já que receita é secreta. A Coca não divulgou o que foi modificado na fórmula do refrigerante sem açúcar, dizendo apenas que a nova versão tinha um sabor "mais refrescante e delicioso". A receita dos refrigerantes continua secreta, e é guardada no museu World of Coca-Cola, nos EUA.

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2023: aspartame na mira da OMS

Adoçante usado pela Coca deve ser declarado como "cancerígeno". Uma reportagem publicada no fim de junho pela Reuters revelou que o aspartame, adoçante artificial usado na Coca Sem Açúcar, será declarado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como "possivelmente cancerígeno".

Eventual decisão da OMS teria "impacto limitado" sobre a Coca. Analistas ouvidos pela Reuters acreditam que a empresa não seria tão afetada, por conta de sua escala de produção. Para a Coca-Cola, a transição para um adoçante natural pode ser mais fácil do que para muitas outras empresas que usam o aspartame, avaliam.

Coca-Cola contesta avaliação. Procurada pelo UOL, a empresa enviou uma nota do Conselho Internacional de Associações de Bebidas (ICBA) que classifica como "enganosa" a análise sobre o aspartame. A entidade diz continuar "confiante" na segurança do adoçante, "considerando o peso esmagador das evidências científicas".

[Parecer sobre aspartame] Contradiz décadas de evidências científicas de alta qualidade e poderia, desnecessariamente, induzir os consumidores a consumir mais açúcar, tudo com base em estudos de baixa qualidade.
Kate Loatman, do ICBA (Conselho Internacional de Associações de Bebidas)

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