Pedro Guimarães diz não ter relação com consignado e microcrédito da Caixa

Advogados de Pedro Guimarães, que presidiu a Caixa Econômica Federal entre 2019 e julho de 2022, enviaram uma notificação extrajudicial ao UOL em que afirmam que ele não tem responsabilidade por empréstimos que deram prejuízo ao banco durante o período eleitoral do ano passado.

Em 29 de maio deste ano, o UOL revelou indícios de uso político da Caixa para conceder empréstimos à população de baixa renda, fatia do eleitorado em que Lula tinha maior vantagem, segundo pesquisas. A reportagem reuniu dados sobre duas linhas de crédito do banco, o SIM Digital e o consignado do Auxílio Brasil.

O SIM Digital, programa de microcrédito para pessoas já negativadas iniciado na gestão de Guimarães, em março de 2022, registrou 80% de inadimplência este ano.

"A Pedro jamais poderia se imputar o suposto 'rombo na CEF' por conta do 'programa de microcrédito' SIM Digital, eis que não tomara uma só decisão sobre o programa", afirmam os advogados, na carta enviada ao UOL.

Dados oficiais, contudo, registram que a maior parte dos desembolsos do SIM Digital ocorreu durante a gestão de Pedro Guimarães na Caixa. Até julho de 2022, mês em que ele deixou o cargo, o banco emprestou R$ 2,8 bilhões na linha de crédito.

Isso representa 94% do volume dos empréstimos do SIM Digital em 2022. Pelo desenho do programa, 75% da inadimplência podem ser custeados pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.

Em 29 de julho de 2022, Pedro Guimarães pediu demissão da Caixa, após denúncias de assédio sexual e moral, que ele nega. A partir da saída dele, o SIM Digital começou uma trajetória de queda até praticamente desaparecer em dezembro.

Além disso, Pedro Guimarães exaltou o programa implantado em sua gestão em diversas ocasiões. Na cerimônia de assinatura do SIM Digital, disse que era a "primeira vez que a Caixa Econômica Federal emprestava para os negativados. Essa é uma operação que pode chegar até 30 milhões de brasileiros".

Já depois que o SIM Digital entrou em vigor, fez apresentações públicas, gravadas em vídeo, sobre os primeiros resultados do programa.

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Consignado e segundo turno

As reportagens do UOL também mostraram a operação montada pela Caixa para pôr em marcha o empréstimo consignado a beneficiários do Auxílio Brasil.

O banco estatal concedeu R$ 7,6 bilhões em empréstimos entre a semana seguinte ao primeiro turno e a sexta-feira que antecedeu o segundo turno. Com a eleição decidida, o banco cortou novos créditos.

Na comunicação ao UOL, os advogados afirmaram: "A Pedro jamais poderia se imputar o suposto 'rombo na CEF' [Caixa Econômica Federal] por conta do programa de empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, eis que não tomara uma só decisão sobre o programa."

A reportagem do UOL informou que Pedro Guimarães estava presente na assinatura do programa e que deixou o banco em julho de 2022, meses antes da implementação do consignado para os beneficiários do Auxílio.

Pedro Guimarães foi procurado antes de publicação

Antes da publicação da reportagem, em 29 de maio, o UOL entrou em contato com Pedro Guimarães com o objetivo de registrar sua versão, mas ele não quis se manifestar.

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Em 22 de maio, em um telefonema de 30 minutos, Pedro Guimarães recusou-se a dar entrevista. Também não quis enviar manifestação por escrito ou se encontrar com o UOL. Repetiu diversas vezes que estava gravando a ligação e que, se a reportagem atribuísse a ele qualquer conteúdo da conversa, seria processada. Dessa forma, a reportagem registrou que "Pedro Guimarães não quis comentar".

Na notificação extrajudicial enviada ao UOL, os advogados dizem ainda que "a Pedro jamais poderia se imputar o suposto 'rombo na CEF' resultado do decaimento no índice de liquidez da CEF".

Afirmam que, em 2019, primeiro ano da gestão de Pedro Guimarães na Caixa, "o índice de liquidez (LCR) subiu significativamente (35%)". Como a reportagem tratou da gestão do banco durante a eleição do ano passado, não foram abordados dados relativos a 2019.

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