Dependência externa do Brasil para vacinas é lamentável, diz União Química

O Brasil tem uma dependência externa desnecessária no campo das vacinas e tem condições de produzir mais imunizantes aqui. É o que diz Fernando de Castro Marques, presidente da farmacêutica União Química, em entrevista ao UOL Líderes.

O que ele disse

Mercado de vacinas é fechado para a iniciativa privada, diz empresário. Marques reclama que setor de vacinas tornou-se um "monopólio" da Fiocruz e do Instituto Butantan, instituições públicas. Segundo ele, isso faz com que o Brasil tenha uma dependência externa "desnecessária" e que isso "é lamentável". Marques defende a criação de uma política industrial que permita que o setor privado produza vacinas para atender o mercado interno e o mercado sul-americano.

Empresa exportou vacina contra a covid-19 para a Rússia. O empresário disse que a União Química chegou a produzir cerca de 2 milhões de unidades da vacina russa Sputnik V. Mas, como o imunizante não foi aprovado pela Anvisa, vendeu a produção para a Rússia. Ele diz que a empresa perdeu dinheiro por conta disso, mas que fez algo "fora da curva" ao assimilar a tecnologia da vacina russa no Brasil.

Faltam técnicos para agilizar aprovação de projetos desenvolvidos pela indústria. O empresário disse que o Ministério da Saúde precisa ampliar a equipe de técnicos da Anvisa, para agilizar a análise de projetos. Isso ajudaria no desenvolvimento do setor, diz. Marques reclama que a fila da Anvisa para aprovação de um medicamento desenvolvido no Brasil pode demorar anos, enquanto que um remédio desenvolvido em outro país às vezes consegue aprovação mais rápida.

Marques não descarta se candidatar novamente no futuro. Ele foi candidato a senador pelo Solidariedade em 2018, e é filiado ao PP. Segundo o presidente da União Química, o Brasil carece de mais empresários na política "para lutar pelo desenvolvimento industrial do país". O empresário também disse que Lula precisa governar para todos, fazer a máquina funcionar e que "o 8 de janeiro já passou".

Ele diz que ainda é cedo para avaliar a atual gestão do Ministério da Saúde. Sobre a atuação da pasta no governo Bolsonaro, Marques disse que o ex-presidente tinha uma posição pessoal contra a vacina da covid-19, mas que o ministério comprou e disponibilizou as vacinas disponíveis à época.

Você pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube ou ouvi-la no podcast UOL Líderes. Veja a seguir destaques da entrevista:

Produção de vacinas no Brasil

Vacina no Brasil é um monopólio de duas empresas, praticamente: Instituto Butantan e Fiocruz. Se o governo quiser que tenha produção local de vacina no Brasil, ele tem que apoiar a produção da iniciativa privada. Hoje a maior parte das vacinas mais importantes é importada. Não são produzidas aqui e poderiam ser. A consequência é uma dependência externa desnecessária. O que é lamentável.

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Nota da edição: Em nota, o Butantan disse que é referência internacional em imunobiológicos e que, graças à sua produção, o país é autossuficiente em vacinas contra a Influenza. Disse que fornece oito tipos de imunizantes ao governo e produz outros 12 tipos de soros. Também disse que está construindo uma nova fábrica de vacinas, que está em fase de avaliação técnica, etapa que antecede a submissão final à Anvisa.

Sputnik V

A Anvisa acabou não liberando a Sputnik aqui no Brasil, apesar de ela ter entrado em mais de cem países no mundo. Nós fizemos produção aqui. Exportamos para a Rússia para ela atender outros países. Perdemos [dinheiro], é lógico. Mas o importante é que conseguimos fazer uma coisa muito fora da curva: assimilar e produzir a tecnologia da Sputnik no território brasileiro.

Prazos da Anvisa

Eu desenvolvo um produto, faço todo um trabalho para soltar um novo medicamento, e entra em uma fila da Anvisa que pode levar seis meses, dois, três, quatro anos. Enquanto uma companhia internacional vem com um relatório lá da Índia, que é reconhecido, aprova e sai. Acaba sendo dois pesos e duas medidas. O Ministério da Saúde precisava arrumar mais técnicos para colocar na Anvisa. Não pode ficar lá em uma fila ad eternum. Ou sai ou, se tiver exigência, coloca exigência, ou recusa o projeto. Mas não pode ficar parado sem data para sair.

Empresários na política

Tenho um bom relacionamento com o meio político porque eu acho que, no Brasil, a vida do cidadão do Oiapoque ao Chuí, é decidida pela política. Eu sou contra radicalismo, tanto de esquerda quanto de direita, sou um cara de centro. Acho que o Brasil é carente de empresários na política, o que é muito importante para lutar pelo desenvolvimento industrial do nosso país.

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Governo Lula

O governo está precisando governar para todos. O presidente ganhou a eleição. Tem alguns membros do atual governo que ainda estão agarrados nessa coisa da política, mas o governo tem que fazer a máquina funcionar. O 8 de janeiro já passou. Quem foi lá fazer barulho, tem inocentes presos, tem culpados soltos, isso a Justiça tem que cuidar. Nós precisamos fazer o país andar e as coisas funcionarem de forma eficaz.

Compra de vacinas da covid-19

Tivemos uma posição do presidente [Bolsonaro] contra a vacina, uma posição pessoal dele. Eu acho que essa polêmica entre o discurso dele e a ação... A ação [do Ministério] foi comprar vacinas, disponibilizar vacinas. E a vacina que tinha. O mundo todo queria vacina e não tinha vacina. Até mesmo a vacina do Butantan, que tinha 50% de eficácia, que era cara ou coroa. Teve que ser utilizada, é o que tinha. O governo, em si, importou, fez convênio da Fiocruz com a Astrazeneca para produção.

Quem é Fernando de Castro Marques

Idade: 69 anos
Local de nascimento: Belo Horizonte (MG)
Trajetória: Começou a trabalhar na empresa da família aos 17 anos e assumiu o comando do negócio aos 25, posição que mantém até hoje.

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Assim é a União Química

Fundação: Em 1970, João Marques de Paulo, pai de Fernando, comprou o Laboratório Prata, empresa que estava no mercado desde 1936. Em 1980 a empresa passou a se chamar União Química.
Funcionários: 7.500
Receita líquida em 2022: R$ 3,8 bilhões
Lucro líquido em 2022: R$ 367,4 milhões

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • A receita líquida em 2022 é de R$ 3,8 bilhões e não R$ 3,8 milhões como havia sido informado anteriormente. O texto foi corrigido.

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