Novas pandemias devem chegar, mas estamos mais preparados, diz Pfizer

Novas pandemias devem surgir, mas a humanidade hoje está mais preparada. É o que diz Marta Díez, presidente da Pfizer Brasil, em entrevista ao UOL Líderes. Ela também falou sobre a imagem da empresa após a pandemia, a queda nas taxas de vacinação e novos remédios em desenvolvimento.

O que ela disse

Estamos mais preparados para pandemias. A executiva disse que, segundo os cientistas, estaremos mais suscetíveis a novas pandemias no futuro. Mas também estamos mais preparados. Isso porque os países têm mais consciência das vulnerabilidades de seus sistemas de saúde, e a tecnologia usada na vacina da covid-19, a mRNA, está adaptada para outras pandemias. "Que vamos ter novas [pandemias] parece que é fato, que estamos preparados também é fato", disse.

Lição da pandemia é que é possível ser mais ágil. Segundo Díez, a lição da pandemia para a Pfizer foi perceber que é possível criar uma inovação em tempo muito curto. Agora, a farmacêutica busca formas de trabalhar com a mesma agilidade em projetos prioritários.

Vacina ajudou imagem da empresa. A executiva diz que a população médica já conhecia bem a empresa, mas que a população em geral passou a conhecer e a respeitar a Pfizer após o desenvolvimento da vacina contra a covid-19, e que isso ajudou a imagem da companhia.

Desafio na negociação de vacinas com o Brasil. Segundo Díez, o maior desafio na negociação das vacinas de covid-19 com o governo brasileiro foi a necessidade de mudanças legislativas para atender a algumas cláusulas do contrato proposto pela empresa. Ela diz que talvez o processo pudesse ter sido mais rápido, mas que é difícil julgar.

Redução nas taxas de vacinação é catastrófica. A executiva diz que as taxas de vacinação da população não estão se recuperando após a pandemia, e que isso é catastrófico para a saúde pública. Dentre os motivos para isso estão desconhecimento do calendário vacinal e a dificuldade em ir até o posto de vacinação. Para atacar o problema, ela propõe a vacinação nas escolas e a disseminação de informação sobre o tema.

Mulheres na liderança da empresa. Díez é a primeira mulher a chefiar a Pfizer Brasil. Ela diz que a empresa criou um comitê de diversidade em 2008, e hoje tem 57% de mulheres na alta liderança. O foco agora é avançar em diversidade racial.

Remédio para enxaqueca e nova vacina. Ela também falou sobre medicamentos em desenvolvimento pela empresa. Dentre eles estão medicamentos oncológicos, um produto para tratamento de síndrome de Duchenne, doença que causa fraqueza muscular, além de um remédio para enxaqueca e uma vacina para o vírus sincicial, que causa infecções respiratórias em bebês.

Você pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube ou ouvi-la no podcast UOL Líderes. Veja a seguir destaques da entrevista:

Novas pandemias

Os cientistas falam que no futuro seremos mais suscetíveis a novas pandemias. Seja porque as doenças infecciosas estão aumentando, seja pela interconectividade do mundo. Que vamos ter novas parece que é fato, que estamos preparados também é fato. Os países ficaram muito conscientes das vulnerabilidades dos sistemas de saúde. E a outra parte é a tecnológica. A plataforma mRNA [tecnologia usada na vacina de covid-19 da Pfizer] está muito adaptada para pandemias.

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Lição da pandemia

Conseguimos trazer uma inovação na Pfizer em um tempo muito curto. O que estamos agora tirando de lição internamente é como nós conseguimos trazer toda esse foco e essa velocidade para projetos que achamos que são importantes. Porque sabemos que na saúde cada dia importa. A pergunta é como nós conseguimos sustentar essa agilidade e trazer esse produto três meses antes, seis meses antes, um ano antes.

Imagem da empresa

Se eu falasse há três anos que eu trabalhava para a Pfizer, a pessoa dizia: 'Pode repetir?' Agora não. A população em geral passou a conhecer e respeitar muito a imagem de marca da Pfizer, e isso é muito importante para nós. A saúde se baseia muito na confiança. Isso ajudou muito a imagem da companhia, sem dúvida, e nos posicionou num lugar muito bom para falar de saúde em geral.

Negociação com o governo

No Brasil, o desafio maior era que a legislação não permitia firmar o contrato. Era exatamente o mesmo contrato para todos os países, a única diferença era o preço. Tinham algumas cláusulas nesse contrato que o governo estimava que precisava de mudança legislativa. Essa discussão no Congresso tardou bastante. Poderia ter acontecido mais rapidamente? Poderia talvez. Mas é muito difícil no momento da pandemia julgar se foi feito o que tinha que ser feito. Mas é fato que, uma vez que essa mudança foi feita, as coisas foram muito mais rápidas.

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Taxas de vacinação

Antes da pandemia já tinha uma queda das taxas de vacinação. A pandemia acelerou muito. Pós-pandemia, as taxas não se estão recuperando. O que é catastrófico para a saúde pública, porque tem probabilidade de surtos de doença que estão praticamente erradicadas, como sarampo, coqueluche.

Fizemos uma pesquisa para entender melhor, e tem várias razões. Uma importante é o desconhecimento. O calendário vacinal ficou complexo. Outra razão é ter que ir até o centro de vacinação, muitas pessoas têm que trabalhar e não querem ou não podem tirar um dia para levar os meninos para vacinar. Tem poucas pessoas que falam que realmente não querem vacinar. Estamos falando que vacinar na escola seria uma iniciativa muito boa, e continuar informando as pessoas.

Diversidade

Sou a primeira mulher que preside a Pfizer Brasil. Em 2008, a Pfizer Brasil estabeleceu um comitê de diversidade e inclusão, não tinha nenhuma mulher nesse momento. Hoje nós temos 57% de mulheres na alta liderança. O importante é ter um plano. Só pensando que isso vai acontecer por osmose não vai acontecer. Para nós o desafio grande agora é o tema racial. Fizemos um programa de estagiários esse ano, com 14 vagas, e a metade tinha que ter diversidade racial. Nós conseguimos.

Novos medicamentos

Teremos outros lançamentos ainda, temos um produto para enxaqueca, temos a vacina de vírus sincicial, temos vários produtos mais na oncologia, que é uma área gigantesca e com muita inovação. Temos produtos em doenças raras, por exemplo temos um produto em terapia gênica para o Duchenne. É bem motivador o pipeline que vamos trazer nos próximos anos para o Brasil.

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Quem é Marta Díez

Idade: 46 anos
Local de nascimento: Barcelona, Espanha
Cargos de destaque: Foi presidente da Pfizer para Bolívia, Chile, Equador e Peru e executiva na Europa e no Oriente Médio. Também trabalhou na Novartis e no Boston Consulting Group.
Formação: Engenharia na Universidade Politécnica da Catalunha, tem mestrado em Imagens Médicas pela Telecom Paris e MBA pela IESE Business School.

Como é a Pfizer

Fundação: Foi fundada em 1849 nos Estados Unidos e hoje tem presença em 185 países.
Funcionários: 83 mil funcionários no mundo, 1.265 no Brasil.

Receita em 2022: US$ 100 bilhões
Lucro em 2022: US$ 31 bilhões
Investimento em inovação e pesquisa em 2022: US$ 11,4 bilhões

Receita em 2021: US$ 81 bilhões
Lucro em 2021: US$ 22 bilhões
Investimento em inovação e pesquisa em 2021: US$ 10,5 bilhões

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