Desempregado recebe Pix de R$ 50 mil e devolve: 'Mudaria a minha vida'

Já imaginou acordar, abrir o aplicativo do seu banco e dar de cara com um depósito de R$ 50 mil? Foi o que aconteceu com um morador de Caldas Novas (GO). Gustavo Santos Santana da Silva, 33 anos, está desempregado e acabou recebendo a quantia via Pix por engano. Mas, no mesmo dia, devolveu o dinheiro ao verdadeiro dono. "Não pensei duas vezes", disse.

O depósito foi feito no dia 13 de outubro, como mostra o comprovante. Gustavo contou ao UOL que assim que acordou e pegou o celular, encontrou várias ligações e mensagens de áudio avisando sobre o depósito errado. Quem tentava contato era Vinicius Eduardo Silva, 31, morador de Itumbiara, região que também fica localizada em Goiás. O pai dele era o dono do dinheiro, que havia sido destinado a comprar um carro.

"Eu estava trabalhando e depois que fui aprovado em um concurso do Governo do Distrito Federal, pedi demissão. Mas a nomeação ainda não aconteceu e decidi procurar emprego. Quando vi a quantidade de mensagens, achei que era um convite para entrevistas. Mas quando ouvi os áudios, era um rapaz me dizendo que me mandou Pix por engano. Eles tinham meu telefone porque digitaram o último dígito errado e caiu no meu número", conta.

Em um primeiro momento, o morador de Caldas Novas acreditou que se tratava de um golpe. Mas, ao abrir o aplicativo, confirmou que o valor estava depositado em sua conta e logo pensou em sua namorada, que sofre de ansiedade.

Eu imaginei como eles poderiam estar desesperados e ansiosos, pois já vi minha namorada com crises e isso é muito difícil e complicado. E, claro, não poderia ficar com algo que não é meu. O dinheiro mudaria a minha vida. Ajudaria minha mãe, cuidaria da minha saúde, mas não fazia sentido. É errado, né? Então, não pensei nem duas vezes. Logo devolvi os R$ 50 mil. Gustavo Santos Santana da Silva.

Gustavo contou que vários conhecidos não apoiaram a atitude de devolver o dinheiro. "Recebi até dicas do que eu deveria ter feito se quisesse ficar com o dinheiro e escapar da Justiça. Porém, isso nunca me abalou. Não faria nada diferente", complementa.

Vinicius Eduardo Silva conseguiu falar com Gustavo para avisar sobre o Pix enviado por engano
Vinicius Eduardo Silva conseguiu falar com Gustavo para avisar sobre o Pix enviado por engano Imagem: Arquivo Pessoal

Alívio

A devolução foi um grande alívio para a família de Vinicius Eduardo. O técnico em tecnologia da informação contou que a família foi até Caldas Novas para finalizar a compra do veículo para o pai. Na hora de fazer a transferência, ele trocou o último número. Digitou 5, em vez de 2.

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"Percebemos quase no mesmo instante que tínhamos enviado errado, então procuramos uma agência onde meu pai era correntista para pedir ajuda. Chegando lá, disseram que simplesmente não poderiam fazer nada e nos orientaram a procurar o outro banco que recebeu o valor. Fomos até o local e, novamente, recebemos a informação de que não poderiam fazer nada", conta.

Desesperada, a família procurou a delegacia mais próxima. Lá, foram informados que só poderiam ir atrás de Gustavo caso ele se recusasse a entregar a quantia depositada indevidamente.

Após toda essa situação desesperadora, falei com o Gustavo e quando ele me respondeu, já percebi que se tratava de um rapaz honesto. Não demorou muito tempo e ele devolveu a quantia. Para nós, foi um alívio muito grande, principalmente para o meu pai, que não anda muito bem de saúde. Vinicius Eduardo Silva.

Atitude correta

O advogado Max Kolbe, especialista em direito civil, explica que o cancelamento de uma transferência via Pix só é possível em caso de agendamento, ou seja, se o valor ainda não tiver sido enviado ao destinatário.

"A primeira coisa a se fazer depois de mandar um Pix por engano é tentar entrar em contato com a pessoa que recebeu o valor. Caso uma solução amigável não seja alcançada, a pessoa que realizou a transação deve recorrer ao banco, uma vez que a instituição possui acesso aos dados do destinatário e pode contatar a instituição financeira vinculada à conta do destinatário, a fim de facilitar a restituição dos fundos", completa o especialista.

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Mas, caso não consiga resolver de forma amigável, é possível entrar com ação na justiça.

A pessoa que recebe um Pix, sabendo que não era destinado a ela e mesmo assim não o devolve, pode enfrentar processos tanto no âmbito civil quanto criminal. No âmbito criminal, a apropriação indébita pode resultar em uma pena de 1 a 4 anos de prisão. Max Kolbe, advogado especialista em direito civil.

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