Rappi busca restaurantes que eram do iFood e quer entregas em só 10 minutos

A Rappi está atrás de marcas que até então tinham contratos de exclusividade com o iFood. Além disso, quer se tornar o delivery mais rápido da América Latina, com entregas em apenas 10 minutos, disse Felipe Criniti, CEO da Rappi no Brasil, ao UOL.

As novas apostas da Rappi

A Rappi está conversando com sete grandes marcas que eram exclusivas do iFood. Desde o final de setembro, o iFood não pode mais ter contratos de exclusividade com restaurantes depois de decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

"Monopólio é arriscado". Felipe Criniti, CEO da Rappi no Brasil, diz que o "monopólio é arriscado" e que a decisão deu à empresa "o direito de jogar o jogo". O executivo também diz que a mudança é benéfica tanto para o mercado de delivery como para os restaurantes.

Duas redes que, até então, estavam apenas no iFood já assinaram com a Rappi. A plataforma não revela ainda quais são, mas pretende anunciar até o final do ano. De qualquer forma, é sabido que alguns nomes como Outback, Habib's e McDonald's estavam apenas no iFood até então.

Em fevereiro, o Cade restringiu a exclusividade dos contratos que o iFood tinha com algumas redes de restaurantes. O órgão atendeu a um pedido da própria Rappi, que entrou em 2020 com uma representação acusando o iFood de práticas anticoncorrenciais e desleais. A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) aderiu à representação posteriormente, além do UberEats e a 99Food (que hoje não operam mais no Brasil). Mas a decisão passou a valer, na prática, após 30 de setembro.

O período pós-decisão do Cade pode marcar uma fase de transformação para o mercado. É o que avalia Criniti, que diz que antes as plataformas não tinham opção senão deixar o país. Ele acredita que agora é possível que elas retornem ou mesmo que novos aplicativos sejam criados. "Seria uma forma de dividir esse mercado e ficar menos concentrado como é hoje", diz.

Rappi quer ser o delivery mais rápido da América Latina

A plataforma quer se tornar o delivery mais rápido da América Latina. No modo Turbo, usuários podem fazer compras no aplicativo e recebê-las em até 10 minutos. Um dos objetivos da companhia hoje é ampliar o alcance da ferramenta para todas as cidades em que a Rappi está em até 12 meses.

Fez aquisição de olho na velocidade. Pensando nisso, em abril deste ano, pouco após a decisão do Cade, a Rappi comprou a Box Delivery. A startup opera o modelo Last Mile de entregas rápidas.

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A Rappi está hoje em mais de 100 cidades do Brasil. A empresa, que tem sede na Colômbia, não abre o número de usuários por aqui, mas estima-se que tenha cerca de 20 milhões em toda a América Latina. Por enquanto, não há pretensão de expansão geográfica da operação - o CEO afirma que a ideia é fortalecê-la onde a Rappi já está, com foco na modalidade Turbo.

Além disso, a companhia segue aperfeiçoando o Rappi Prime. No Brasil, 60% das compras realizadas dentro da plataforma são feitas por assinantes da modalidade. A assinatura dos planos, que têm valores diferentes, concede alguns benefícios, como frete grátis e descontos. Entre as novidades mais recentes, está a extensão dos benefícios digitais ao espaço "físico" dos restaurantes.

A gente quer expandir a modalidade para cidades que não são capitais. Com parceiros, isso está sendo construído ainda este trimestre. Um spoiler: o GPA [Grupo Pão de Açúcar] já roda operações turbo por meio da tecnologia Rappi, só que todo o sortimento de itens, o estoque, é do próprio Pão de Açúcar. A gente consegue aumentar [o alcance da modalidade] por meio dessa parceria, por exemplo.
Felipe Criniti, CEO da Rappi Brasil

Você tem uma grande marca, uma rede de restaurantes onde você costuma ir [pessoalmente]. Você pode ter benefícios. Sendo Prime, você automaticamente passa a ter um fura fila para entrar no restaurante, happy hour estendido... Temos trabalhado esse tipo de ação, trazendo [os benefícios] do mundo digital para o mundo físico.
Felipe Criniti, CEO da Rappi Brasil

A assinatura da carteira de trabalho dos entregadores

A Rappi vai recorrer da última decisão da Justiça do Trabalho sobre os seus entregadores. A 4º Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) de São Paulo determinou no último dia 13 que a empresa assinasse a carteira de trabalho de todos os entregadores do Brasil ligados à sua operação. A corte reconheceu o vínculo empregatício desses trabalhadores com a empresa.

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Para presidente, decisão que reconhece vínculo empregatício foi recebida com "grande pesar" pela empresa. Segundo o executivo, a Rappi vai, com certeza, recorrer da decisão que ele chamou de um "retrocesso". "Quando a gente olha uma decisão dessa, parece que o Judiciário não está acompanhando essa evolução. A gente vai recorrer com certeza, existem decisões no STF e no STJ que foram favoráveis ao segmento".

Os chamados trabalhadores plataformizados do Brasil ganham menos por hora. É o que diz a mais recente pesquisa do IBGE, lançada no último dia 25. Os entregadores de mercadorias e delivery receberam uma remuneração média de R$ 8,70 por hora trabalhada, enquanto os não plataformizados receberam R$ 11,90, uma diferença de 36,78%. Isso porque a jornada de trabalho dessas pessoas é mais extensa.

"Ninguém quer impedir o avanço tecnológico", disse o procurador-geral do Trabalho, José de Lima Ramos Pereira, quando a pesquisa foi publicada. "Mas isso precisa ser feito respeitando o patamar mínimo civilizatório conquistado ao longo de muitos anos de luta da classe trabalhadora", declarou.

Sobre o debate e as acusações relacionadas à precarização, o CEO da Rappi mencionou uma aproximação da empresa com os seus entregadores. Ele diz que a aquisição da Box criou um canal melhor com eles. "Uma das características [da Box] é que ela coloca o entregador no centro. Sempre foi uma plataforma que garantiu ganhos mínimos que gerassem engajamento. A Rappi vem se transformando com essa nova aquisição, não só mirando o restaurante, o nosso parceiro, mas também o entregador".

O mercado de delivery no Brasil

Não é possível saber quantos apps de delivery de comida existem hoje no Brasil. A Abrasel não faz estimativas, mas destaca os dez principais em operação: iFood, Rappi, Pedeaí, Delivery Much, UaiRango, Quero Delivery, Pede Pronto, RobinFood, AppJusto e Aiqfome.

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Mas é difícil ter espaço para todo mundo. Em março de 2022, o UberEats anunciou o fim das suas operações no Brasil. Depois foi a vez do 99Food, em abril de 2023. Nenhuma das companhias detalhou os motivos de saírem do país.

Com a pandemia da covid-19, o setor avançou "três anos em um", diz Criniti. Com isso, o CEO avalia que uma "correção" do mercado já era esperada. Ainda assim, ele acredita que isso vem acontecendo de forma de suave.

O setor deve faturar R$ 43 bilhões em 2023, aponta a Abrasel. Criniti avalia que o cenário para 2024 da Rappi é promissor. "A taxa de juros tem se mostrado promissora agora no final de 2023 para 2024, o mercado vai consumir mais. Com o Rappi, a gente está apostando nessa essa abertura de mercado [pós-decisão do Cade]. A gente vai conseguir crescer e engatar uma quinta marcha", diz.

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