Conteúdo publicado há 2 meses

Ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore morre aos 84 anos

Morreu hoje em São Paulo, aos 84 anos, o economista Affonso Celso Pastore. Ele presidiu o Banco Central entre 1983 e 1985, durante o governo do general João Figueiredo, último presidente da ditadura militar.

O que aconteceu

Pastore estava internado na UTI desde sábado (17), quando passou por uma cirurgia após ter sofrido um acidente vascular.

Velório acontece hoje, aberto ao público, das 13h às 17h no Cemitério do Morumbi, na zona sul da capital paulista.

Economista foi sócio-fundador da consultoria AC Pastore & Associados, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e ajudou a formular o programa econômico de Sergio Moro (União Brasil-PR) quando ele pretendia concorrer à Presidência em 2021. A candidatura ao Executivo não deslanchou, e o ex-juiz foi eleito senador em 2022.

O Banco Central lamentou a morte de Pastore e destacou que o economista deixou marca profunda nos estudos de economia desenvolvidos no Brasil. ''Sua partida deixará uma lacuna no debate econômico brasileiro. Sempre manteve um diálogo generoso com o Banco Central, dando apoio inestimável às causas da instituição'', escreveu em nota de pesar.

Quem foi Affonso Celso Pastore

O economista e colunista do jornal O Estado de São Paulo, Affonso Celso Pastore, nasceu em São Paulo, em 19 de junho de 1939, e terminou sua graduação na Universidade de São Paulo no início dos anos 60. "A economia sempre me atraiu e nunca me arrependi de ter entrado nessa profissão", diz. Ao concluir o doutorado no fim daquela década, ele optou por estudar como a agricultura poderia contribuir para o desenvolvimento econômico do Brasil.

Iniciou sua vida pública em 1966, como assessor do então secretário da Fazenda do Estado de São Paulo Antônio Delfim Neto, seu ex-professor na USP. No ano seguinte, integrou a equipe de assessores de Delfim quando ele se tornou ministro da Fazenda.

Mais tarde, teve passagens pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e assumiu a coordenação de pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada à USP.

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Convidado pelo à época ministro da Fazenda Ernane Galvêas, Pastore comandou o Banco Central entre 1983 e 1985, durante o governo Figueiredo, no fim do regime militar.

"Há um marco na vida profissional de Pastore: sua passagem pelo Banco Central. Ele se dedicou às negociações com os banqueiros credores e com o FMI, na tentativa de amenizar os efeitos da crise externa dos anos 80. Ajudou a deixar para trás a recessão", lembra o economista José Júlio Senna, ex-diretor da Dívida Pública e Mercado Aberto do Banco Central.

Após deixar o BC, tornou-se conselheiro consultivo da Caterpillar do Brasil. "Ele mergulhou, então, em pesquisas empíricas, voltadas para entender os fenômenos associados a uma inflação na casa dos 200%. Os resultados estão reunidos em Inflação e Crises, livro de leitura indispensável a todos os interessados na macroeconomia brasileira. São 80 anos muito frutíferos", diz Senna.

No fim dos anos 90, Pastore passou a atuar como professor titular da Escola de pós-graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e também no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

Nos últimos anos, dedicava-se à consultoria A. C. Pastore e Associados, especializada em análises macroeconômicas aplicadas, onde também trabalha sua mulher, Maria Cristina Pinotti.

A colunista do jornal O Estado de São Paulo, Zeina Latif, que é ex-aluna de Pastore, comenta que o professor foi uma das inspirações para que ela seguisse a carreira de economista. "Os problemas econômicos do país invadiam nossas casas, e eu, ainda menina, ficava curiosa para entender o que dizia aquele senhor austero que era presidente do Banco Central", diz.

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"Na pós-graduação, decidi fazer pesquisa na área monetária e a USP oferecia o que tinha de melhor: Pastore. Sua análise tinha grande rigor analítico. Como acadêmico, fez grandes contribuições e, como consultor, se sobressai pelo zelo com a observação dos dados e a análise empírica. É um economista que não foge do debate econômico. Alguém que entende sua missão e se importa com o Brasil. Tenho pelo professor Pastore profundo respeito e gratidão."

*Com Estadão Conteúdo

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